Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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uma parceria com Lucy, construindo uma comunida<strong>de</strong>. Estes três aspectos levam a três<br />
tipos <strong>de</strong> resistência – trabalho, amor e formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> – o que a conduzia<br />
ao seu propósito: tornar-se sujeito. A esta altura da vida, Martha estava começando a se<br />
estabelecer como uma pessoa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
Contudo, sua vida ainda estava marcada pela opressão do hom<strong>em</strong> branco. De<br />
certa forma, ela voltou ao início (quando sua família tinha se perdido), quando Chester<br />
morreu. Ela estava tão machucada que não conseguia ao menos chorar (p.85). Agora,<br />
Lucy é uma das que resiste e quer convencer sua amiga a tentar fazer a vida <strong>em</strong><br />
Leavenworth. Martha já estava cansada e não era mais fisicamente forte. Os anos<br />
estavam passando. “À noite seus pés e tornozelos estavam muito inchados (...) e suas<br />
roupas íntimas ficavam estranhamente apertadas” [By evening her feet and ankles were<br />
so swollen (…) and her un<strong>de</strong>rgarments now grew strangely tight (…). She <strong>de</strong>sperately<br />
nee<strong>de</strong>d to rest (…) (PHILLIPS, 1994, p. 86)]. Mesmo não se sentindo b<strong>em</strong>, Martha<br />
concordou <strong>em</strong> ir a Leavenworth e recomeçar tudo. Ela não <strong>de</strong>sistira e mantinha sua<br />
resistência silenciosa e não-violenta. Ao invés <strong>de</strong> clamar por vingança aos americanos<br />
que haviam matado Chester, ela simplesmente se afasta.<br />
Quando soube que havia um grupo <strong>de</strong> pioneiros negros partindo para a<br />
Califórnia, “Martha tinha a estranha noção <strong>de</strong> que ela também <strong>de</strong>veria tornar-se parte do<br />
êxodo <strong>de</strong> negros que estava indo para o oeste” [Martha had a strange notion that she,<br />
too, must become a part of the colored exodus that was heading west” (PHILLIPS,<br />
1994, p. 87)]. Na verda<strong>de</strong>, esta “estranha noção” <strong>de</strong>via ser seu <strong>de</strong>sejo primeiro <strong>de</strong> viver<br />
livr<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iguais. Ou seja, ela estava s<strong>em</strong>pre agindo <strong>de</strong> forma<br />
que pu<strong>de</strong>sse atingir seu objetivo, mesmo que conscient<strong>em</strong>ente não soubesse disso. Este<br />
é o rastro <strong>de</strong> sujeito que ainda havia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la e que clamava por liberda<strong>de</strong>. Isto é tão<br />
claro, que ela não pergunta se po<strong>de</strong> juntar-se a eles, ela apenas comunica-lhes. Suas<br />
recordações também trabalham <strong>em</strong> seu favor, pois ela imagina: “Eu sei que vou<br />
encontrar minha filha na Califórnia” [I know I’m going to find my child in California<br />
(PHILLIPS, 1994, p. 89)].<br />
É também interessante que, o que por um lado po<strong>de</strong>ria ser visto como um traço<br />
do patriarcalismo (submissão, pois afirma que vai cozinhar para eles), é consi<strong>de</strong>rado<br />
neste momento como a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> sua subjetificação, já que ela diz: “Meu papel<br />
será cozinhar para vocês” [My role will be to cook for you (PHILLIPS, 1994, p. 88)],<br />
<strong>de</strong>finindo, literalmente, apesar <strong>de</strong> já estar velha e fraca, seu papel no grupo, como parte<br />
<strong>de</strong>le, s<strong>em</strong> tornar-se um parasita. Na <strong>de</strong>scrição da viag<strong>em</strong>, é possível ver que a procura<br />
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