Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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morte, o leitor percebe que Martha passou toda sua vida tentando ser alguém e, no fim,<br />
ela pô<strong>de</strong> ter apenas uma pequena amostra da pessoa que po<strong>de</strong>ria se tornar.<br />
Por outro lado, percebe-se que enquanto o colonialismo e a conseqüente<br />
escravidão <strong>de</strong>stro<strong>em</strong> os laços familiares, as mulheres constro<strong>em</strong>. A busca <strong>de</strong> Martha por<br />
formar grupos familiares (com Lucy, Chester, o grupo <strong>de</strong> viajantes e sua procura por<br />
Eliza Mae) comprova isso. Ou seja, a força f<strong>em</strong>inina é importante para reverter tal<br />
opressão, a condição compulsória <strong>de</strong> objeto.<br />
De fato, Martha é uma personag<strong>em</strong> representativa. Embora tenha um nome, ela<br />
é uma mulher negra, excluída e periférica como muitas outras que passaram sua<br />
existência tentando fazer a vida valer a pena. Sua venda e sua estada na Virgínia não foi<br />
algo singular, mas uma história repetida milhões <strong>de</strong> vezes com os negros. Da mesma<br />
forma, os amos não têm um nome (exceto a família Hoffman) para que a amplitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stes acontecimentos seja compreendida.<br />
3.4 Hamilton<br />
3.4.1 Introdução<br />
O capítulo Crossing the River, homônimo ao título do livro, refere-se à viag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> um capitão inglês <strong>de</strong> navio à África, partindo da Inglaterra, na busca <strong>de</strong> escravos para<br />
sua posterior venda no Caribe ou no sul dos Estados Unidos.<br />
O gênero <strong>de</strong>ste capítulo é <strong>de</strong> diário <strong>de</strong> bordo que revela a história do capitão<br />
Hamilton, um inglês <strong>de</strong> Liverpool, que trabalha, com seu navio, no comércio <strong>de</strong><br />
escravos subindo e <strong>de</strong>scendo a costa do continente africano. Estruturado sob a forma <strong>de</strong><br />
diário <strong>de</strong> bordo, contém eventos sobre compra e venda <strong>de</strong> escravos, os probl<strong>em</strong>as acerca<br />
dos negócios e as doenças que acomet<strong>em</strong> os escravos, e mais duas cartas a sua mulher<br />
que vive e o espera na Inglaterra.<br />
O diário e as cartas se contrapõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua forma. Enquanto os primeiros são<br />
objetivos, lacônicos, s<strong>em</strong> <strong>em</strong>oção, quase telegráficos e reticentes, as cartas têm um<br />
estilo florido, rebuscado, <strong>em</strong>ocional e reflexivo. Tal paradoxo (já que é o mesmo capitão<br />
Hamilton que escreve ambos o diário e as cartas) será analisado mais adiante.<br />
Alguns pontos mostram que o capítulo se <strong>de</strong>staca como o ‘cardo’ dos eventos<br />
posteriores ou anteriores a ele. Primeiramente, este capítulo se encontra no meio do<br />
livro, entre as histórias <strong>de</strong> Nash e Martha e a <strong>de</strong> Travis. Além disso, recebe o mesmo<br />
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