Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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uma resistência direta a seu amo, mas é a única que ela po<strong>de</strong>ria ter. Martha tinha <strong>em</strong><br />
mente que estar sob o controle alheio não era aceitável e isso a mantinha no caminho <strong>de</strong><br />
seu <strong>de</strong>sejo: ter uma vida nova, ser parte da nação.<br />
Além disso, algumas das ações mais simples e pequenas po<strong>de</strong>m ser vistas<br />
como gran<strong>de</strong>s conquistas, como verda<strong>de</strong>ira resistência para ela. Na condução da família<br />
Hoffman, por ex<strong>em</strong>plo, uma “mulher ofereceu à Martha um lenço <strong>de</strong> renda, o qual<br />
Martha recusou” [woman offered Martha a lace handkerchief, which Martha refused<br />
(PHILLIPS, 1994, p. 79, grifos nossos)], ou seja, ela mostrou sua vonta<strong>de</strong> e isso, neste<br />
contexto, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado relevante. Outro momento importante a ser ressaltado é<br />
quando os Hoffaman a levam para ser evangelizada: “o sr. e a sra. Hoffman levaram<br />
Martha com eles para um reavivamento <strong>de</strong> quatro dias perto do rio, on<strong>de</strong> um jov<strong>em</strong><br />
missionário <strong>de</strong>dicado tentou iluminar a escura alma <strong>de</strong> Martha” [Mr and Mrs Hoffman<br />
took Martha with th<strong>em</strong> to a four-day revival by the river, where a <strong>de</strong>dicated young<br />
circuit ri<strong>de</strong>r named Wilson att<strong>em</strong>pted to cast light in on Martha’s dark soul (PHILLIPS,<br />
1994, p. 79)]. Obviamente, eles não queriam seu b<strong>em</strong> estar, mas a queriam domada para<br />
servir melhor, já que a produção melhora quando não se está <strong>de</strong>primido e quando se<br />
acredita que se <strong>de</strong>ve servir ao seu amo.<br />
Entretanto, “Martha não encontrou conforto na religião e foi incapaz <strong>de</strong> se<br />
solidarizar com os sofrimentos do filho <strong>de</strong> Deus quando comparados a sua própria<br />
miséria” [(…) Martha could find no solace in religion, and was unable to sympathize<br />
with the sufferings of the son of God when set against her own private misery<br />
(PHILLIPS, 1994, p. 79)], e isto po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma das gran<strong>de</strong>s resistências<br />
apresentadas por Martha <strong>em</strong> toda sua vida. Aceitar a religião <strong>de</strong> seus amos era aceitar a<br />
crença (e tomá-la como verda<strong>de</strong>ira) das pessoas que a torturavam e ainda se <strong>de</strong>spir <strong>de</strong><br />
sua própria cultura e substituí-la por algo que violava sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. As vozes que<br />
ouvia a r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> às vozes africanas, à sua história, e ela não podia negá-las pois elas a<br />
mantinham resistente. “Martha às vezes ouvia vozes (...). Ele se viu tomada <strong>de</strong> solidão<br />
(...). Vozes do passado” [Martha sometimes heard voices (...). She found herself<br />
assaulted by loneliness (...). Voices from the past (PHILLIPS, 1993, p. 79, grifo<br />
nosso)]. Além disso, <strong>de</strong>us estaria i<strong>de</strong>ntificado com seu amo, já que ela seria tão<br />
submissa a ele quanto o cristianismo pregava.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, a família Hoffman <strong>de</strong>cidiu ir à Califórnia, já que a colheita e o gado<br />
não estavam sendo proveitosos. Vendo isto, Martha sabia o que iria acontecer (p. 79), o<br />
que significa que ela observava e tentava enten<strong>de</strong>r os acontecimentos a seu redor, uma<br />
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