Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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ou tentar <strong>de</strong>monstrar sua continuida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido encarado como<br />
um ato provocador e mesmo opositor (GILROY, 2001, p. 33).<br />
Tal briga mostra uma relação sujeito-sujeito. Não há discussão acerca da<br />
superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> sobre o outro, mas trata-se <strong>de</strong> duas pessoas <strong>em</strong> situação <strong>de</strong><br />
igualda<strong>de</strong> brigando por uma causa.<br />
Quanto a Greer, sua objetificação máxima é quando é dado para adoção,<br />
simplesmente pelo fato <strong>de</strong> ser híbrido. Como o próprio termo alu<strong>de</strong>, ele é tratado como<br />
um objeto que, por estar <strong>de</strong>feituoso, <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scartado. (“Ele t<strong>em</strong> cor <strong>de</strong> café, não é?<br />
(...) Meu filho que não tinha me pedido para entregá-lo à senhora com guarda-pó azul e<br />
lenço marrom” [He’s like coffee, isn’t he? (...) My son who hadn’t asked me to turn him<br />
over to the lady with the blue coat and maroon scarf (PHILLIPS, 1993, p. 228)]).<br />
Isso ocorre porque o esqu<strong>em</strong>a dérmico viola a homogeneida<strong>de</strong> branca, a qual<br />
se t<strong>em</strong> o interesse <strong>de</strong> preservar para manter a supr<strong>em</strong>acia: “a classificação racial <strong>de</strong>riva<br />
<strong>de</strong> – e também celebra – concepções racialmente exclusivas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, da<br />
qual os negros foram excluídos, ora como não-humanos, ora como não-cidadãos”<br />
(GILROY, 2001, p. 41). Na verda<strong>de</strong>, o negro tornou-se uma metonímia <strong>de</strong> tudo o que<br />
não é ‘normal’, <strong>em</strong> prol do essencialismo, da homogeneida<strong>de</strong>. A senhora <strong>de</strong> guarda-pó<br />
azul, uma assistente social, representante do governo britânico e executora das políticas<br />
raciais, já imbuída <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ologia, leva o menino para adoção, crendo que esta é a<br />
melhor <strong>de</strong>cisão para não atrapalhar aquela jov<strong>em</strong> mulher e ‘mancha’ a homogeneida<strong>de</strong><br />
racial britânica.<br />
Já o oposto disso, ou seja, o ápice <strong>de</strong> sua resistência é, quando, aos <strong>de</strong>zoito<br />
anos, vai <strong>em</strong> busca da mãe Joyce, para ter um relacionamento como iguais. Joyce se<br />
alegra com sua vinda: “Eu sabia que um dia ele viria procurar. Que ele iria me<br />
encontrar. (...) Em pé olhamos um para o outro” [I knew that one day he would come<br />
looking. That he would find me. (...) We stood and looked at each other (...) (PHILLIPS,<br />
1993, p. 231, grifos nossos)]. No entanto, n<strong>em</strong> a casa <strong>de</strong> sua mãe é realmente sua – “eu<br />
quase disse, sinta-se <strong>em</strong> casa” [I almost said make yourself at home (...) (PHILLIPS,<br />
1993, p. 232)] – on<strong>de</strong> ‘casa’ é uma metáfora da Inglaterra, fazendo alusão a sua falta <strong>de</strong><br />
raízes.<br />
Por fim, Greer caminha na direção contrária do início <strong>de</strong> sua vida. Quando<br />
nasceu foi colocado à marg<strong>em</strong> e então caminha <strong>em</strong> direção ao centro para po<strong>de</strong>r<br />
encontrar suas origens. Somente agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> adulto, <strong>de</strong> ter se tornado sujeito pô<strong>de</strong>,<br />
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