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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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ca<strong>em</strong> por terra e todo o ‘trabalho’ (discurso) <strong>de</strong>senvolvido por Edward (colonizador)<br />

havia sido <strong>de</strong>sconstruído.<br />

Por outro lado, o colonizador, representado aqui por Edward, permanece na<br />

mesma posição <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>. Ao chegar na Libéria, coloca um lenço no nariz para<br />

proteger-se do “fétido ar africano” [fetid African air (PHILLIPS, 1993, p. 47)]. Isso só<br />

v<strong>em</strong> a confirmar a i<strong>de</strong>ologia antiga. Edward sai não <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> Nash – uma pessoa –<br />

mas <strong>de</strong> um projeto que não po<strong>de</strong> ser perdido, dados tantos anos <strong>de</strong> investimento.<br />

Em sua última carta a Edward, Nash já se mostra um hom<strong>em</strong> <strong>completa</strong>mente<br />

transformado. Ele vive com três esposas, seis filhos, não trabalha mais nas escolas e não<br />

acredita mais na evangelização tampouco no cristianismo. Sua principal ativida<strong>de</strong> é o<br />

plantio e ele está apren<strong>de</strong>ndo a língua africana, assim como t<strong>em</strong> prazer <strong>em</strong> saber que<br />

seus filhos estão sendo educados com ela. Tais atitu<strong>de</strong>s são, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização. Ciente <strong>de</strong> sua mudança, adverte<br />

seu antigo amo:<br />

Talvez você imagine que a Libéria me corrompeu, fazendo com<br />

que eu passasse <strong>de</strong> um bom negro cristão que partiu <strong>de</strong> sua casa,<br />

para este pagão que você mal reconhece. Mas não é assim, pois<br />

já afirmei várias vezes que a Libéria é o melhor país para o<br />

hom<strong>em</strong> negro, já que aqui ele po<strong>de</strong> viver do suor do seu rosto<br />

(...).<br />

[Perhaps you imagine that this Liberia has corrupted my<br />

person, transforming me from the good Christian colored<br />

gentl<strong>em</strong>en who left your home, into this heathen whom you<br />

barely recognize. But this is not so, for, as I have often stated<br />

many times over, Liberia is the finest country for the colored<br />

man, for here he may live by the sweat of his brow (…).<br />

(PHILLIPS, 1993, p. 61, grifos nossos)].<br />

No entanto, ainda há traços da visão do colonizador. Quando imagina que<br />

Edward pensa que a Libéria o ‘corrompeu’, ele atribui àquele país um papel negativo<br />

<strong>em</strong> sua vida. Por outro lado, já muito mais forte estava o sentimento <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

‘trabalhar para ganhar seu próprio sustento’ s<strong>em</strong> ser o parasita.<br />

Senhor <strong>de</strong> seus pensamentos e consciente da exploração e objetificação que<br />

sofrera, Nash afirma: “(…) Eu, <strong>de</strong>ste modo, livr<strong>em</strong>ente escolho viver a vida do<br />

africano” [(…) I therefore freely choose to live the life of the African (PHILLIPS, 1993,<br />

p. 62, grifos nossos)]. Nash havia, então, se tornado agente, mas s<strong>em</strong> violência, afinal o<br />

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