Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Mesmo assim, a literatura negra britânica não po<strong>de</strong> ser lida simplesmente como<br />
uma “espécie <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong> protesto, cheia <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong> e merecimento” [species of<br />
protest writing, brimming with ‘authenticity’ and worthiness (KHANNA, 2007, p.<br />
477)]. De fato, ela t<strong>em</strong> autorida<strong>de</strong> e autenticida<strong>de</strong>, não se tratando <strong>de</strong> um protesto<br />
apenas, mas <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira literatura.<br />
Entretanto, o romance negro britânico está inevitavelmente marcado pelas<br />
conexões com outras culturas. “Os autores registram o confronto entre seus<br />
protagonistas e a Grã-Bretanha, suas instituições, seu povo, e também algumas das<br />
estratégias que eram <strong>em</strong>pregadas nesta situação [The authors record both a<br />
confrontation between their protagonists and Britain, its institutions, its people, and<br />
some of the strategies that were <strong>em</strong>ployed in this situation (STEIN,2004, p. 7)].<br />
Contudo, a literatura negra britânica continua sendo produzida. Há inúmeros<br />
autores e incontáveis obras tratando dos t<strong>em</strong>as da exclusão, da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da<br />
construção da subjetivida<strong>de</strong> dos negros <strong>em</strong> seus próprios países (ex-colônias) e também<br />
como imigrantes nas metrópoles. Além disso, esta literatura inclui os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos<br />
imigrantes que hoje são nascidos na metrópole, mas ainda excluídos e que acabam por<br />
não ter ‘pátria’, pois não sent<strong>em</strong> pertencimento n<strong>em</strong> ao país que moram (pois são<br />
discriminados), n<strong>em</strong> ao país <strong>de</strong> seus antepassados (on<strong>de</strong> nunca estiveram). Por abarcar<br />
tantas pessoas sob a mesma circunstância e por chamar atenção daqueles que estão <strong>de</strong><br />
fora <strong>de</strong>ste grupo para a questão do negro, a literatura negra britânica t<strong>em</strong> tido gran<strong>de</strong><br />
repercussão tanto na Inglaterra como fora <strong>de</strong>la, e os prêmios recebidos por obras <strong>de</strong><br />
cunho pós-colonial são prova disso.<br />
Talvez a chegada na Inglaterra como um ‘novo nascimento’ seja o que os<br />
autores tenham <strong>em</strong> comum. O que <strong>de</strong> fato ocorre é que há um gran<strong>de</strong> e diferente<br />
impacto no texto se ele for escrito por um autor ‘imigrante’ que tenha ido para a<br />
Inglaterra ou mesmo que lá tenha nascido, sendo ‘produto’ <strong>de</strong> várias gerações já lá<br />
resi<strong>de</strong>ntes.<br />
Quanto ao conteúdo, como já mencionado, os romances <strong>de</strong> autores negros<br />
britânicos mostram vozes étnicas, <strong>de</strong>nunciam o passado imperial e revelam as<br />
circunstâncias racistas atuais. Suas obras ganharam relevo pois mostram o negro<br />
vivendo numa socieda<strong>de</strong> ‘supostamente’ <strong>de</strong>mocrática e multicultural. Mesmo <strong>em</strong> meio à<br />
hipocrisia, o negro é tomado como sujeito que subverte os valores europeus e que,<br />
portanto, ainda t<strong>em</strong> <strong>de</strong> lutar contra a pressão da heg<strong>em</strong>onia branca.<br />
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