disciplinar. Para isso, a formação profissional <strong>de</strong>ve manter sua especialida<strong>de</strong>em equilíbrio com temas transversais, tais como ética, compromissosocial, sustentabilida<strong>de</strong> e interdisciplinarida<strong>de</strong>. No caso da <strong>Psicologia</strong>, issosignifica ainda incluir no seu curso <strong>de</strong> graduação a <strong>Psicologia</strong> do Trânsitocomo conteúdo transversal e como prática supervisionada, na forma<strong>de</strong> estágios. Isso já vem acontecendo em algumas universida<strong>de</strong>s no país,como é o caso da Universida<strong>de</strong> da Amazônia, na qual, atualmente, supervisionoquatro estagiários inseridos no Detran-PA. No ano anterior,tivemos a experiência <strong>de</strong> inserir três estagiários na Companhia <strong>de</strong> Transportesdo Município <strong>de</strong> Belém (CTBEL).Nessas organizações, houve surpresa diante <strong>de</strong> minha solicitação <strong>de</strong>vaga para estagiários especificamente <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> do Trânsito. Eu ouvi<strong>de</strong> alguns profissionais: “Mas como assim, nós cuidamos <strong>de</strong> trânsito e <strong>de</strong>transporte. Nós só precisamos aqui <strong>de</strong> estagiários <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong> Engenharia.O que alguém da <strong>Psicologia</strong> vai fazer aqui?” Mas seguimos emfrente. Espero que a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vocês aqui seja melhor do que a minha,que tem sido muito difícil. De qualquer forma, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito diálogo, aprimeira estagiária inserida fez um trabalho maravilhoso em vários sentidos,inclusive <strong>de</strong> ser intrometida ou, melhor dizendo, empreen<strong>de</strong>dora, aobater na porta <strong>de</strong> uma reunião do setor <strong>de</strong> Engenharia e pedir para participar,dar opiniões. Os engenheiros faziam equipes para ir às ruas, parafazer levantamento para o planejamento urbano e ela dizia: “Eu posso irjunto?” E eles perguntavam: “Mas o que você vai fazer lá?” Ela respondia:“Ainda não sei, o pessoal da <strong>Psicologia</strong> fica junto com você, po<strong>de</strong> daropinião, perguntar, conversar com as pessoas”. E a <strong>Psicologia</strong> do Trânsitofoi progressiva e arduamente conquistando espaço nessa organização.Ainda há uma distância entre a formação profissional e o querealmente está acontecendo no mercado. Mas é preciso fazer algo,conectando ensino, pesquisa e prática profissional. Há necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> discutir a formação <strong>de</strong> profissionais, não só <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, nessaperspectiva <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> produçõestransdisciplinares, que é mais difícil ainda. Conseguir fazer ações quesejam realmente uma combinação entre assuntos comuns a diferentesáreas é o ponto principal.106
Eu brinco, às vezes, que sou essencialmente professora e pesquisadora,e que fiquei <strong>de</strong>ntro da universida<strong>de</strong> porque gosto mais <strong>de</strong>sse mundo utópico.Dentro da universida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos nos enganar e falar do mundo i<strong>de</strong>al, do queé bonito. Eu falo tanto disso que, quando os estagiários vêm, eles falam assim:“Olha, nós queremos fazer estágio na <strong>Psicologia</strong> do Trânsito para fazer tudoisso que você falou nas aulas, que nós po<strong>de</strong>mos dar opinião no planejamentourbano, na parte normativa”. E eu, olhando para eles, apavorada, digo: “Po<strong>de</strong>,claro!” E ao final da primeira semana <strong>de</strong> estágio, eles voltam e falam: “Olha,não <strong>de</strong>ixaram a gente fazer nada do que planejamos”. E eu digo: “Agora vamostrabalhar, eu não disse que era fácil, eu disse que era o i<strong>de</strong>al, que a universida<strong>de</strong>acredita nisso, não disse que todo o mundo acredita”. Assim, temos o i<strong>de</strong>al<strong>de</strong> atuação e a que está sendo construída.Ambas as experiências <strong>de</strong> estágio supervisionado em Belém mostraram-se<strong>de</strong>safiadoras, e espaços <strong>de</strong> atuação vêm sendo conquistados <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong>sses órgãos. Mas ainda há muito por fazer, para além <strong>de</strong> organizaçõesexplicitamente ligadas a trânsito e transporte. Uma pergunta nessa área é:O que nós psicólogos estamos fazendo efetivamente em relação a trânsito,transporte, mobilida<strong>de</strong>? Essa é a gran<strong>de</strong> pergunta, e os profissionais dizem:“Mas eu não trabalho com trânsito!” Mas quando você trabalha em umaescola, você trabalha com educação, campanhas nacionais atingiram asescolas para a utilização do cinto <strong>de</strong> segurança, você trabalha com esseassunto, fala <strong>de</strong> trânsito, <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> transporte. Talvez você não dêesse nome, mas fala do assunto, discute políticas públicas relacionadas. Eé preciso que a <strong>Psicologia</strong> i<strong>de</strong>ntifique e assuma isso como compromisso.Trânsito é um dos assuntos transversais da <strong>Psicologia</strong>.ReferênciasFIORELLI, J. O.; MANGINI, R. C. R. <strong>Psicologia</strong> Jurídica. São Paulo, SP:ATLAS, 2009.MONTEIRO, C. A. S. Variáveis antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> erros e violações <strong>de</strong>motoristas. Tese <strong>de</strong> Doutorado, Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Psicologia</strong>,Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2004.107
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