porque não é fácil ter alimentação saudável. Não é barato ter alimentaçãosaudável. Então, a promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por exemplo, procuraria dar maisacesso aos preservativos e a essa alimentação que se advoga ser melhor doque outra. Em uma analogia com o trânsito, principalmente com base naquelesautores aqui referidos (que é um grupo <strong>de</strong> Leeds na Inglaterra), coloca-se,por exemplo, que a educação em saú<strong>de</strong>, estaria para a redução <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes e danos assim como a promoção da saú<strong>de</strong> estaria para a redução<strong>de</strong> riscos. A redução <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e danos procura, por exemplo, diminuira taxa <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte reduzindo a exposição das pessoas ao risco, enquanto aredução do risco visa a diminuir os perigos que propiciam os aci<strong>de</strong>ntes. Elaprocura ir lá na fonte. A redução <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes proce<strong>de</strong> à análise <strong>de</strong> boletins<strong>de</strong> ocorrência, e tenta trazer informações preventivas com cartilhas, etc.Algumas consi<strong>de</strong>rações que têm <strong>de</strong> ser feitas em relação a isso. A reduçãodos aci<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong> ocorrer sem que necessariamente se obtenha umambiente seguro. Eu posso, por exemplo, zerar ou diminuir os aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> trânsito em <strong>de</strong>terminado local, mas isso não significa necessariamenteque esse ambiente está seguro. Às vezes, ele ficou <strong>de</strong> tal forma hostil aossegmentos mais vulneráveis que eles praticamente <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> realizar seus<strong>de</strong>slocamentos por lá. As pessoas <strong>de</strong>sistem <strong>de</strong> percorrer alguns caminhos.Se eu pu<strong>de</strong>sse fazer para a área <strong>de</strong> transporte o mesmo que se faz com a<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, seria como erradicar a paralisia infantil com abortos. Eu zero osatropelamentos “matando” a mobilida<strong>de</strong>. Você não vai ter aci<strong>de</strong>nte porquenão tem gente se <strong>de</strong>slocando em algumas áreas. Isso acontece muito. Naredução <strong>de</strong> riscos, busca-se i<strong>de</strong>ntificar o perigo na fonte. Ela visa à redução<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes sem prejuízo à mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segmentos mais vulneráveis;enfatiza a sustentabilida<strong>de</strong>, a equida<strong>de</strong> dos usuários e dos meios que oferecemmenos perigos. Tem também uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> maior com medidascomo mo<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> tráfego, que é uma intervenção no ambiente, nomeio. A redução <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte vai advertir o pe<strong>de</strong>stre para usar a passarela eadvertir o ciclista que ele tem <strong>de</strong> usar capacete. Já a redução <strong>de</strong> riscos, quei<strong>de</strong>ntifico com promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vai procurar pressionar por ciclovias ereivindicar alternativas mais atrativas. Esses pe<strong>de</strong>stres, nessa imagem, nãoestão caminhando na calçada porque não há calçada. É o óbvio que, às vezes,não é dito. A promoção da saú<strong>de</strong> tem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> maior com a redução170
<strong>de</strong> riscos. Ela não vai dispensar a informação da educação, que é necessária,mas i<strong>de</strong>ntifica que só isso individualizaria <strong>de</strong>mais o problema, pois ten<strong>de</strong>a culpar a negligência da vítima, como tem sido a prática há tanto tempo.Essa prática, por exemplo, critica o ciclista que não usou capacete, mastambém não faz nada para mudar a estrutura que propiciou os aci<strong>de</strong>ntes.Alguns focos centrais da promoção da saú<strong>de</strong>, da redução do risco, estãorelacionados aos produtores do ambiente <strong>de</strong> circulação, não somente osusuários. E qualifica agentes sociais para isso. Procura fazer uma pressãosocial via mídia, via grupos organizados e incentiva uma cultura que favoreçaa mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s políticas também. Ela visa a intervenções queestão relacionadas a políticas <strong>de</strong> transporte eficiente. Transporte eficientesignifica efetivamente que se está reduzindo a exposição das pessoas aosmeios <strong>de</strong> maior risco. No que concerne à educação, os trabalhos estão relacionadosà percepção das limitações do organismo humano, à percepçãodas fragilida<strong>de</strong>s, mas, principalmente, à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar atitu<strong>de</strong>scríticas e reflexões na promoção da saú<strong>de</strong>, comprometida com a integrida<strong>de</strong>física das pessoas, mas sem conformá-las ao espaço perigoso. Algunsmo<strong>de</strong>los que temos <strong>de</strong> educação e prevenção, mais conservadores, estãomuito relacionados às premissas e ao mo<strong>de</strong>lo baseados na percepção <strong>de</strong>“aci<strong>de</strong>ntes” mesmo, como fatalida<strong>de</strong> ou negligência, uma visão sob enfoquedo motorista. Isso fica claro nos discursos <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> trânsitopara criança, que se empenham mais em formar “os motoristas do futuro”.E eu digo: “Ora, por que não estamos formando o pe<strong>de</strong>stre do presente,ou o usuário <strong>de</strong> ônibus da atualida<strong>de</strong>?” Bem, eu procurei fazer uma comparaçãoentre educação em saú<strong>de</strong> e promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas lembro quea educação em saú<strong>de</strong> não está em necessária oposição à promoção dasaú<strong>de</strong>. Elas são, antes, complementares, mas o foco com que me i<strong>de</strong>ntifico,em que vejo maior potencial para ações efetivas <strong>de</strong> educação e prevençãoda morbimortalida<strong>de</strong> no trânsito, está mesmo mais relacionado à i<strong>de</strong>ia dapromoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Obrigado.171
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