mimos recursos naturais, alguns renováveis, alguns não renováveis, consumimosenergia e, principalmente, espaço. Os recursos renováveis supostamentesão infinitos, se a gente tiver uma taxa <strong>de</strong> renovação <strong>de</strong>ssesrecursos maior do que a <strong>de</strong> consumo. Os não renováveis, obviamente sãofinitos, ainda que consigamos incorporar novas reservas, como é o casodo pré-sal, para o petróleo, que permitirá o acesso a reservas cuja exploraçãoera até então economicamente inviável. A energia po<strong>de</strong> ser renovávelou não, mas o espaço é uma coisa finita. Ainda que nós possamosconstruir mais espaço – avenidas, viadutos, pontes – essa expansão temlimites e, nas cida<strong>de</strong>s como São Paulo, esse problema é crucial. Então, seé um bem escasso, portanto valioso, como esse espaço é produzido, paraquem e como ele é apropriado?Além dos consumos, a mobilida<strong>de</strong> gera impactos, que são, em primeirolugar, <strong>de</strong> âmbito local, ou seja, impactos que afetam uma escalalocal ou regional, que são sofridos por pessoas que estão próximas à regiãoon<strong>de</strong> eles são gerados e, a princípio, quanto mais distante da fontegeradora, mais preservado você está. É o caso da poluição do ar, do ruído,das vibrações, dos aci<strong>de</strong>ntes.O aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito é uma coisa <strong>de</strong> que normalmente os ambientalistasnão tratam. O aci<strong>de</strong>nte não é obra do acaso, não foi algoque “Deus quis”. E a gente enten<strong>de</strong> que um dos maiores impactos causadospelo atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> são os aci<strong>de</strong>ntes. Esse assuntotem sido um tema muito interessante para a aproximação com opessoal da área da Saú<strong>de</strong>. Nós temos conversado com o Ministério daSaú<strong>de</strong>, em Brasília, e com os gestores <strong>de</strong> trânsito nas cida<strong>de</strong>s. Temosfeito uma gran<strong>de</strong> aproximação da discussão <strong>de</strong> transporte com a saú<strong>de</strong>por um conceito que eu consi<strong>de</strong>ro muito correto: área da Saú<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>que os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito, e as mortes <strong>de</strong>les <strong>de</strong>correntes,são evitáveis. Então, se é uma morte evitável, <strong>de</strong>vemos evitá-la. Certamenteninguém imagina ser possível zerar os aci<strong>de</strong>ntes, acabar comos aci<strong>de</strong>ntes, mas <strong>de</strong>ve ser perseguida uma política pública para tentarreduzir isso ao mínimo possível.Outra externalida<strong>de</strong>, outro impacto <strong>de</strong>ssa mobilida<strong>de</strong>, são oscongestionamentos, que têm efeitos na poluição, nos ruídos, e aqui138
asicamente nós falamos da capacida<strong>de</strong> do espaço que está disponívelpara receber a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veículos e as pessoas que vivemnas cida<strong>de</strong>s. Nós sempre pensamos em congestionamento <strong>de</strong> carro,mas há <strong>de</strong> bicicleta, <strong>de</strong> gente. Na rua 25 <strong>de</strong> Março, em dia <strong>de</strong> Natal,há um congestionamento enorme <strong>de</strong> pessoas, não são só carros.Outro impacto também importante, e pouco tratado, é o efeitobarreira. Uma rodovia, por exemplo, é uma estrutura <strong>de</strong> transporteque corta uma área urbana, ou por ela é envolvida, e funciona comouma barreira, seccionando os relacionamentos <strong>de</strong> vizinhança. Outroexemplo: pensem em uma rua <strong>de</strong> caráter local, que tem um uso e umaconvivência <strong>de</strong> vizinhança, <strong>de</strong> pessoas na rua e, quando a cida<strong>de</strong> setransforma, essa rua muda <strong>de</strong> caráter e vira uma avenida <strong>de</strong> maiormovimento e trânsito intenso. As relações sociais que aconteciamnessa rua, <strong>de</strong> vizinhança, <strong>de</strong> criança brincando, <strong>de</strong> convivência, sãorompidas, porque a nova situação muda totalmente aquele ambiente.Então, todas essas coisas, não apenas a poluição do ar, queé a mais comum, nós consi<strong>de</strong>ramos como externalida<strong>de</strong>s e comoimpactos negativos do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>.Tem também um outro impacto, o impacto global, que é o efeitoestufa, que afeta a todos; o urso polar, lá no Polo Norte, está sofrendoas consequências das emissões que acontecem aqui em São Paulo. Adiscussão ambiental internacional e europeia está muito concentradanesse aspecto. Eu, particularmente, acho que em nossas cida<strong>de</strong>sa discussão ten<strong>de</strong> a se concentrar nos impactos locais, porque nósnão temos isso por aqui resolvido. Talvez os europeus tenham resolvidomelhor a questão local e por isso estejam mais concentrados naquestão global. Nós estamos ainda na questão local.O problema é que os impactos gerados por essa mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mda cida<strong>de</strong> que nós construímos e do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>que adotamos, dos modos <strong>de</strong> transporte que usamos nas cida<strong>de</strong>s. Nãoquero falar <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões individuais, <strong>de</strong> usar o ônibus, ou a bicicleta ouo carro. Quero comentar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> políticas públicas, que geramas condições que fazem cada um <strong>de</strong> nós tomar a <strong>de</strong>cisão. E os custos<strong>de</strong>ssa mobilida<strong>de</strong>, os impactos, são gerados <strong>de</strong> maneira diferencial, <strong>de</strong>-139
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mento, de alteridade e modos inesgo
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