<strong>de</strong> interesse para ela. Nessas figuras temos dois exemplos, ambosenvolvendo uma criança, apontando para a importância e as implicaçõesda mobilida<strong>de</strong>, no caso para o <strong>de</strong>senvolvimento humano.Dentro <strong>de</strong> poucos dias (9 <strong>de</strong> novembro 2009) lembraremos o20º aniversário da queda do muro <strong>de</strong> Berlim. Com a queda do muro,chegou ao fim a divisão física geográfica da Alemanha e a impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> ir e vir, livremente, <strong>de</strong> um lado para o outro <strong>de</strong> uma dasfronteiras mais intransponíveis. A título <strong>de</strong> exemplo, apresenta-sena Figura 3 uma vista <strong>de</strong> um vilarejo antes da queda do muro e naFigura 4 a mesma vista após o fim da divisão da Alemanha. Emborapossa parecer um exemplo extremo, <strong>de</strong>monstra o que po<strong>de</strong> acontecerquando se impe<strong>de</strong> a movimentação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo lugar.TeoriaVoltando à mobilida<strong>de</strong> e a seu impacto sobre nossa vida cotidiana,escolhi quatro conceitos básicos da <strong>Psicologia</strong> Ambiental,que dizem respeito ao conforto e ao bem-estar espacial em volta daspessoas: espaço pessoal, território, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>/aglomeração e privacida<strong>de</strong>.Sommer (1969) <strong>de</strong>fine espaço pessoal como uma “área com limitesinvisíveis cercando o corpo <strong>de</strong> uma pessoa na qual intrusos não sãopermitidos” (p. 26). Esse espaço em volta do indivíduo, uma área comlimites invisíveis que cerca o corpo <strong>de</strong> uma pessoa varia, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<strong>de</strong> situações, dos contextos nos quais as pessoas se encontram. Nós nossentimos confortáveis quando o cabeleireiro se aproxima muito pertoe mexe com o cabelo, mas quando o mesmo cabeleireiro fica tão pertoem outra situação, a mesma distância interpessoal po<strong>de</strong> ser percebidacomo invasão do espaço pessoal e po<strong>de</strong> causar <strong>de</strong>sconforto. Assim,cabe observar que espaço pessoal é algo que está em volta da pessoa eacompanha a pessoa, à medida que esta se <strong>de</strong>sloca.Por outro lado, temos o território, que é um espaço mais estável.Gifford (1997) apresenta uma <strong>de</strong>finição abrangente <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>como “conjunto <strong>de</strong> comportamentos e atitu<strong>de</strong>s porparte <strong>de</strong> um indivíduo ou grupo, baseados em controle percebido,tentado ou real sobre um espaço físico <strong>de</strong>finível, objeto ou i<strong>de</strong>ia,152
que po<strong>de</strong> implicar ocupação habitual, <strong>de</strong>fesa, personalização e <strong>de</strong>marcação”(p. 120). Tipicamente, território refere-se a espaços físicos. Nós temoscontrole ou existe controle sobre esse território. Controle esse que épercebido, mas também po<strong>de</strong> ser contestado, outra pessoa po<strong>de</strong> (tentar)invadir esse território. Porém, em princípio, é um território fixo, alguémtem algum controle, po<strong>de</strong> dizer, “este é meu” sem que haja contestação.Por exemplo, se temos um território chamado “casa”, geralmente po<strong>de</strong>mossupor que esse território é nosso – seja alugado, seja próprio. Assim,no momento em que alguém quer assaltar a casa, essa pessoa estáviolando o contrato social subjacente que estabelece este espaço comosendo seu território. Mais adiante veremos como essa noção <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>se aplica, também, para outros contextos, por exemplo, para oespaço urbano. Outra coisa que frequentemente fazemos com territórioshabitualmente ocupados por nós é estabelecer algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa oualgum tipo <strong>de</strong> personalização, que reforça e sinaliza “olha, esse é meu”:veja aqui o meu nome na porta, a minha ban<strong>de</strong>ira sobre o meu território.O terceiro elemento, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, trata do número <strong>de</strong> indivíduospor unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço ou território. É, portanto uma medida objetiva,enquanto aglomeração refere-se a um estado psicológico queinclui o estresse e a motivação para sair <strong>de</strong> uma situação percebidasubjetivamente como <strong>de</strong>nsa (BELL et al., 2001, p. 320). A variaçãona <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, isto é, do número <strong>de</strong> elementos em um <strong>de</strong>terminadoespaço, contribui para o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto e implica, também,maior ou menor invasão do espaço pessoal do outro.Contrapõe-se à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finidopor Altman como “controle seletivo do acesso a si mesmo, ou aseu grupo” (ALTMAN, 1975, p. 18). Contrapõe-se porque, antes <strong>de</strong>tudo, tal controle seletivo do acesso a si ou a seu grupo implica po<strong>de</strong>r– potencialmente – reduzir <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e aglomeração. Se possocontrolar quem tem acesso a mim, posso falar em privacida<strong>de</strong>; casocontrário, não existe privacida<strong>de</strong>. Pense na sua casa. Você, <strong>de</strong> certomodo, po<strong>de</strong> dizer: “Olha, esse aqui é meu quarto”, e outras pessoassó po<strong>de</strong>m entrar no seu quarto se bater à porta. Então, vocêcontrola o acesso a você e, <strong>de</strong>sta maneira, assegura privacida<strong>de</strong>.153
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