sua inscrição no mundo da vida. Nós psicólogos <strong>de</strong>vemos ser atoresnessa cena, também anunciando o saber que nos vem sobre esse sofrimento,essa humilhação social, sobre as dificulda<strong>de</strong>s e as impossibilida<strong>de</strong>sda mobilida<strong>de</strong> humana. Os nossos casos a casos formam umcaldo <strong>de</strong> saber e temos <strong>de</strong> fazer esse caldo gerar política, temos <strong>de</strong>fazer falar o espaço público, ser voz, ser mediação, ser ponte, porqueessas pessoas não têm acesso, não têm como dizer, nós temos.Temos <strong>de</strong> trabalhar para que a política seja feita com a participação<strong>de</strong>sses sujeitos, temos <strong>de</strong> convidá-los a falar. Esse modo atualimpe<strong>de</strong> a assunção do sujeito, violentando a subjetivida<strong>de</strong>, e essa violênciaacaba retornando sobre a própria civilização. Não é por acasoque os cientistas sociais localizam na margem da assistência social – naausência <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> políticas públicas que garantam essa civilida<strong>de</strong>e, todos os direitos instituídos – a fonte <strong>de</strong> violência urbana. Acessibilida<strong>de</strong>à cidadania é condição sine qua non para que a mobilida<strong>de</strong>humana reflita a expressão da subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma civilizada.Na mobilida<strong>de</strong> humana é que as diferenças se encontram, tangenciandocaminhos que têm origem e <strong>de</strong>stinos diversos. É precisosuportar o encontro com os produtos da civilização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pessoasque têm toda a acessibilida<strong>de</strong> facilitada até pessoas que não têmnenhum acesso e ainda necessitam fazer <strong>de</strong>sse espaço sua moradia,tais como as crianças em situação <strong>de</strong> risco social, os andarilhos, asfamílias <strong>de</strong>serdadas, ou seja, a população em situação <strong>de</strong> rua.Então, a <strong>Psicologia</strong> <strong>de</strong>ve intervir para mapear a cida<strong>de</strong>, não porseu traçado arquitetônico, mas pelos traços <strong>de</strong>senhados pelos processos<strong>de</strong> subjetivação na contemporaneida<strong>de</strong>. Ela <strong>de</strong>ve questionar ainiquida<strong>de</strong> do traçado arquitetônico na distribuição dos benefícios etentar compreen<strong>de</strong>r os processos <strong>de</strong> subjetivação que compõem essecaleidoscópio da mobilida<strong>de</strong> humana. O seu compromisso é participarda construção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> social em que caibam diversas formas<strong>de</strong> subjetivação, produzidas com processos históricos que promovem,silenciosamente e violentamente, o massacre da singularida<strong>de</strong> em favor<strong>de</strong> interesses dominantes, engessando as diversas possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> traçados subjetivos no espaço público, impedindo a70
mobilida<strong>de</strong> dos sujeitos, negando a complexida<strong>de</strong> da circulação humana.A <strong>Psicologia</strong> também é responsável por essa história e temos<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r produzir meios que articulem políticas públicas voltadaspara a mobilida<strong>de</strong> humana que possam reconstruir a cida<strong>de</strong>, refazer opacto social, instituir novos valores, produzir uma arquitetura em queo ponto <strong>de</strong> maior valor seja o ser humano. Estabelecer pontes e rotasque ativem o projeto <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um, introduzir a tranquilida<strong>de</strong>e a ternura na convivência com o outro.Como recriar a confiança, a segurança, o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar, <strong>de</strong>discutir política, <strong>de</strong> namorar nas praças, ruas e vilas? Por meio <strong>de</strong> umprojeto <strong>de</strong> vida civilizador, no qual o espaço público não mais promovaa imobilida<strong>de</strong>, a violência e seja o campo das trocas simbólicas, dainvenção e da arte <strong>de</strong> permitir a cada dia a experiência da liberda<strong>de</strong>.Para tanto é preciso escutar o sujeito, suas necessida<strong>de</strong>s, sonhos etraçados pela cida<strong>de</strong>. É preciso ter acesso. Para tanto será precisomobilizar, fazer circular em todos os cantos, que é preciso que todostenham acesso ao exercício da cidadania.Conquistar a credibilida<strong>de</strong> e a respeitabilida<strong>de</strong> social nessecampo da mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ser consequência <strong>de</strong> uma intervençãopautada em lastros éticos <strong>de</strong> uma <strong>Psicologia</strong> comprometida social epoliticamente, com respeito absoluto aos direitos humanos.Em primeiro lugar, sempre as pessoas, a vida humana, <strong>de</strong>vemossempre buscar a vida na sua plenitu<strong>de</strong>, para que ela possa transbordarpelos poros das vias, das calçadas, das praças, proporcionandonosalegria, convívio e on<strong>de</strong> nunca mais possa se dizer dos Pedros pedreiros“agonizou no meio do passeio público, morreu na contramãotrapalhandoo tráfego”. E se, por fim, para isso buscarmos estímulos,pensemos nessas “rotas alteradas, nas vidas ceifadas, nas criançasmudas telepáticas, nas meninas cegas inexatas”.E, parafraseando o poeta, se me é permitido fazer, “nessas feridascomo rosas cálidas...”71
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venção de acidentes. Nós temos,
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