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Baixar arquivo - Conselho Federal de Psicologia

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autobiografia. As portas <strong>de</strong> algumas casas não possuíam o anteparo dojardim, abriam-se diretas para a calçada. Nas ruas da Cida<strong>de</strong> Baixa nãoresidiriam perigos, os anteparos seriam <strong>de</strong>snecessários. Na caminhada,ouvíamos vários sons, mas um chamou-me a atenção: eram batidas <strong>de</strong>tambores. Curioso, perguntei ao parceiro que tipo <strong>de</strong> música tocavam.Poucos metros <strong>de</strong>pois encontramos uma porta aberta, era um cultoafro-brasileiro. O amigo gaúcho contou-me que no passado negros eemigrantes ocuparam aquele território, <strong>de</strong>nominado pela elite portalegrenseda época <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> Baixa. Continuamos a caminhada, mas ostambores persistiam, mesmo ao longe.Paramos em um bar e prosseguimos a conversa sobre racismo eas cida<strong>de</strong>s. O amigo do Sul iniciava a narração da sua cida<strong>de</strong> natal nafronteira. Uma pequena história <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>/imobilida<strong>de</strong>. Os tamborestocados com a porta aberta estavam quase inaudíveis, mas insistiam amisturar-se a nós. Segundo ele, as gran<strong>de</strong>s e as pequenas cida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>mfornecer surpresas para as análises acadêmicas <strong>de</strong>satentas aos minúsculospo<strong>de</strong>res do cotidiano. Uma cida<strong>de</strong>la teria a chance <strong>de</strong> cortar comouma lâmina verda<strong>de</strong>s compactas assentadas na metrópole. Quandocriança perguntou ao avô italiano por que inexistiam negros no pequenolugar on<strong>de</strong> nasceu. O avô respon<strong>de</strong>u que os negros que tentavam seaproximar daquela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhadores italianos, no início doséculo 20, eram jogados no rio. A al<strong>de</strong>ia não os tolerava. Perguntei aoamigo se a proposta <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>/imobilida<strong>de</strong> narrada pelo avô estariaregistrada nos ensaios referentes à história do trabalho no Brasil. O somdo tambor ficava quase inaudível, mas ainda conseguíamos ouvi-lo. Oafogamento no rio daquela al<strong>de</strong>ia negava-nos manter hierarquias entremicros e macropo<strong>de</strong>res, mais que isso, indicava-nos o inacabamento dopassado, quando a atenção ao que nos suce<strong>de</strong> no agora toca-nos comoo som do batuque. Após o café concordávamos que os mortos privadosda mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir e vir, jogados nas águas frias do Sul, têm muito acontar-nos, como a tabuleta da cervejaria alemã.***218

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