Existe um salto que é dado, em relação a <strong>de</strong>terminadas variáveis. Essesalto ocorre, como nos diz o Milton Santos, a partir do conceito <strong>de</strong>aceleração contemporânea, a partir <strong>de</strong> um lugar, <strong>de</strong> um distanciamentodo sujeito das intervenções, que ele faz em seu meio, em seuentorno. Esse distanciamento traz para ele uma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>ros efeitos <strong>de</strong>ssa intervenção em seu meio e em seu entorno.Diferentemente das fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong> humana,que vão até a pré-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, em que o homem tinha com seumeio ou com seu entorno uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong>,em que ele reconhecia imediatamente em seu entorno o que ele lhetrazia <strong>de</strong> bom, mas também <strong>de</strong> ruim. Ou seja, o homem anterior àmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vivia com seu entorno uma relação <strong>de</strong> maior compreensãoimediata <strong>de</strong> fenômenos e dos impactos <strong>de</strong>sses em sua vida –tanto na sobrevivência quanto nas ameaças.Essa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> trouxe também um sonho <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, assimcomo a expectativa <strong>de</strong> autonomia. É ela que introduz na socieda<strong>de</strong>todo o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> transformação a partir <strong>de</strong> objetos, a partir da supremaciada técnica em relação ao tempo e ao espaço. E o objeto quemais encarna essa transformação, logicamente, é o objeto automóvel.O automóvel passa a ser então o objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, passa a ser objeto<strong>de</strong> referência para todo o planejamento urbano, para todas as intervençõesna vida humana, como disse o Ricardo, e não somente naquestão física, mas também na social, na econômica e em tudo o quenós vivemos. Eu quero localizar com vocês esse salto, esse momento,para que nós possamos, então, em <strong>de</strong>corrência do tempo que nóstemos, dar um salto <strong>de</strong> mais ou menos uns noventa anos, pois não vaidar tempo <strong>de</strong> falar da evolução histórica como um todo, no máximopo<strong>de</strong>remos pontuar algumas questões que nos remetem ao título damesa, Políticas públicas para a mobilida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>safios da <strong>Psicologia</strong>.Nesse sentido, também julgo importante localizar <strong>de</strong> que políticapública estamos falando. A política <strong>de</strong> que eu estou falando, e <strong>de</strong> umamaneira simplória e reducionista, é a busca da resolução pacífica <strong>de</strong>conflitos. E por ele ser um conceito <strong>de</strong>masiadamente amplo, restringepouco. Todavia, é possível <strong>de</strong>limitar um pouco mais, por exemplo es-74
tabelecer que a política consiste em um conjunto <strong>de</strong> procedimentosformais e informais que expressam relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e que se <strong>de</strong>stinamà resolução pacífica dos conflitos quanto aos bens públicos.Essa ativida<strong>de</strong> política, com as suas <strong>de</strong>vidas saídas, geram todauma história que compreen<strong>de</strong> o conjunto das <strong>de</strong>cisões e ações relativasà alocação imperativa <strong>de</strong> valores. Vou repetir, compreen<strong>de</strong>m oconjunto das <strong>de</strong>cisões e ações relativa à alocação imperativa <strong>de</strong> valores.Uma política pública, então, tem um caráter estatal, sim, aindaque sua execução possa envolver outros agentes sociais, a socieda<strong>de</strong>civil e até agentes na iniciativa privada, como é o caso da comissãointersetorial <strong>de</strong> controle e prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito da cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Belo Horizonte (MG), on<strong>de</strong> as discussões – o que pensamos eapresentamos <strong>de</strong> proposta – não ficam restritas ao funcionário público,ao sujeito que está no estatal. As propostas são discutidas comdiversos atores <strong>de</strong> diversos segmentos da nossa socieda<strong>de</strong>, bem como<strong>de</strong> diversos setores. Entretanto, a execução da política, sim, tem umcaráter estatal. Ninguém intervém em uma cida<strong>de</strong>, como é o nossocaso em Belo Horizonte, produzindo transformações que não sejampor essa via – a via das políticas estatais.Por outro lado, as políticas públicas compreen<strong>de</strong>m um conjunto<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e ações relativas à alocação imperativa <strong>de</strong> recursos, quesão materiais, técnicos, financeiros, logísticos, e uma política públicageralmente envolve mais do que uma <strong>de</strong>cisão e a obtenção <strong>de</strong> resultadosrequer diversas ações estrategicamente selecionadas paraimplementar as <strong>de</strong>cisões tomadas.Já uma <strong>de</strong>cisão política correspon<strong>de</strong> a uma escolha <strong>de</strong>ntre umleque <strong>de</strong> alternativas, conforme a hierarquia das preferências dosatores envolvidos, expressando em maior ou menor grau certa a<strong>de</strong>quaçãoentre os fins pretendidos e os meios disponíveis.Ora, a partir <strong>de</strong> uma distinção entre política pública e <strong>de</strong>cisãopública, po<strong>de</strong>mos pensar a serviço <strong>de</strong> quem essa política pública estáou preten<strong>de</strong> estar. No contexto <strong>de</strong> nossa discussão, se formos falar<strong>de</strong> uma participação cidadã, da garantia <strong>de</strong> direitos, dos direitos <strong>de</strong>todos, dos direitos difusos, do enfrentamento às violações e litigação75
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