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Baixar arquivo - Conselho Federal de Psicologia

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mento, <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> e modos inesgotáveis <strong>de</strong> se operar a existência.No intuito <strong>de</strong> experimentar, <strong>de</strong>spretensiosamente, esse método, peçoa vocês a atenção para insignificantes episódios ocorridos em algumascida<strong>de</strong>s brasileiras. São cenas <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> urbanas.Conversava com um amigo gaúcho sobre a largura das calçadas.Estávamos na Cida<strong>de</strong> Baixa, bairro do centro <strong>de</strong> Porto Alegre. Quem opercorre percebe o convite daquele bairro para caminhar e ter curiosida<strong>de</strong>pelo que po<strong>de</strong>rá encontrar no trajeto, diferentemente <strong>de</strong> algumascida<strong>de</strong>s projetadas para o fluxo dos carros. Naquela zona antiga dacida<strong>de</strong> as calçadas são largas, o corpo é chamado a mover-se sem per<strong>de</strong>r<strong>de</strong> vista os <strong>de</strong>talhes da paisagem que o olhar sem pressa consegueperceber. Comentávamos sobre esse fato, sobre o meu prazer em estarali. Lembrei <strong>de</strong> outras capitais brasileiras projetadas para a liberda<strong>de</strong> docarro, no intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scongestionar o trânsito, cida<strong>de</strong>s tristes on<strong>de</strong> sepassa, circula-se e nada acontece. As calçadas estreitas parecem <strong>de</strong>svitalizaro inesperado, o acaso do espaço público. Ali on<strong>de</strong> estávamosalgo acontecia. Arquiteturas <strong>de</strong> diferentes épocas, pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scascadasdas velhas moradias anunciavam que aquele bairro teria muita coisa acontar. Recusava-se a ser um território museu, um patrimônio mortoda memória oficial. Nada se apresentava como cartão postal. Em certomomento, lembrei-me do Rio <strong>de</strong> Janeiro dos anos 60, quase invadidopor uma pesada nostalgia, mas a mobilida<strong>de</strong> singular do fim do tar<strong>de</strong>interrompeu o prenúncio <strong>de</strong> indiferença à intensa alterida<strong>de</strong> daqueleterritório. Nostalgias bloqueiam sopros <strong>de</strong> ar ofertados pelo acaso. Nascalçadas largas, o corpo não se sentia um intruso, misturava-se curiosoàs pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scascadas. A mobilida<strong>de</strong> naquele território extrapolava olimite dos músculos do passante; o caminhar daquele fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> tornavaanacrônicas velhas certezas sobre as cida<strong>de</strong>s; analogias, comparaçõescom outros lugares ruíam. Imagens urbanas familiares apagavamseem cada surpresa dos <strong>de</strong>talhes daquele bairro atravessado por ruídose matizes <strong>de</strong> gestos gastos por uma história ainda viva. As ruas queatravessava faziam-me esquecer <strong>de</strong> mim. Sons <strong>de</strong> gente apropriandosedas ruas, ruídos do velho comércio local, tons gastos das pare<strong>de</strong>simpediam minhas tentativas <strong>de</strong> reconhecer neles espaços da minha217

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