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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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o negócio esfriar e depois fizemos uma campana durante alguns dias. Nós a seguimos e<br />

descobrimos aonde morava, observamos um pouco o movimento da casa, quantas pessoas<br />

moravam com ela, essas coisas. Depois, pela lista de endereços, levantamos o número do<br />

telefone e o distribuímos dentro da “29” e da “Rifânia”! O número dela foi parar na mão<br />

de muita gente! Aí começamos a apavorá-la dia e noite pelo telefone!<br />

E então, começou a depredação da casa.<br />

Na primeira vez passamos de madrugada, de carro. Viemos na maciota, com os<br />

faróis apagados, em silêncio. A um sinal fuzilamos a casa e o carro dela, descarregamos as<br />

armas arrebentando com portas, janelas, vidros, tudo. Em segundos. Se tivesse alguém na<br />

sala teria morrido.<br />

Os telefonemas continuaram por mais alguns dias ininterruptamente. Xingamos e<br />

continuamos ameaçando: “Você vai morrer!”.<br />

Então deixamos passar um mês em silêncio. Quando deviam estar pensando que o<br />

negócio tinha acabado, aprontamos de novo. Passamos por lá jogando bombas caseiras na<br />

casa e no jardim, diversas vezes. Outra ocasião trancamos a família dentro de casa,<br />

soldando o cadeado com durepox.<br />

E o telefone continuava a tocar, mantendo a guerra psicológica. A “brincadeira”<br />

durou quase um ano! Toda a despesa que ela teve com os danos na casa e no carro foram<br />

considerados suficientes. Isso é o que se chama “comer a vingança fria”.<br />

Esta história de depredação de casas era antiga, um tipo de desforra muito usado<br />

pela turma da Gangue. Se soubéssemos aonde moravam nossos inimigos o ataque vinha<br />

tão certo como a noite após o dia. Claro que o tamanho e o tipo de vingança dependia<br />

também do tamanho da afronta.<br />

Podiam simplesmente ser as duas senhoras que moravam sozinhas e que se<br />

implicavam com o nosso barulho na rua; podia ser o homem mal educado que odiava nos<br />

ver fumando maconha na esquina da sua casa; podia ser a família de algum rival da<br />

Gangue; ou podia ser aquela mulher imbecil que ousara nos acusar. A depredação podia<br />

vir na forma de bombas de cocô, chuva de ovos, tiros no carro ou na casa.<br />

E não havia para quem se queixar. Alguns, é verdade, a polícia pegava de vez em<br />

quando. Levavam uns cacetes e podiam até puxar uma cana por um tempo. Mas o resto da<br />

Gangue continuava solta e os companheiros traídos eram vingados. Isso queria dizer que a<br />

situação passava de mal a pior para quem dedurasse. O que fazer???... As cadeias já<br />

estavam abarrotadas de coisas bem mais graves! E o pessoal logo estava na rua de novo.<br />

Era uma batalha perdida!<br />

Por causa disso nossa marginalidade não conhecia limites, pelo contrário. A<br />

constante impunidade nos incentivava ainda mais. Já não roubávamos mais amendoins,<br />

quitandas ou pessoas de bem no ponto de ônibus. Passamos a roubar de tudo, cada vez

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