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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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escola muito grande para os meus padrões, eu nunca vira nada assim. Praticamente tudo<br />

era diferente do que eu conhecia. Em primeiro lugar, o colégio parecia não conseguir<br />

comportar todos aqueles alunos, os corredores estavam super cheios, havia correria e<br />

gritaria por todos os lados. E muito pouca gente com pulso firme para “por ordem no<br />

galinheiro”. Depois, os alunos eram esquisitos, vestiam-se esquisito, andavam esquisito e<br />

falavam muita gíria. Apenas o ginásio funcionava de manhã, portanto a grande maioria dos<br />

alunos era mais velha do que eu.<br />

Recebi e dei algumas ombradas no meio do empurra-empurra até conseguir<br />

finalmente descobrir que eu pertencia à quinta “C”. Achei a tal sala e sentei-me lá no<br />

fundo, à espera de que algo acontecesse, que alguém entrasse e desse alguma orientação de<br />

qualquer tipo. Havia já alguns alunos por lá. Eu não sabia ainda mas a quinta “C” era a<br />

única classe aonde meus pais conseguiram matricular-me. Em breve eu viria a descobrir o<br />

por quê deste “privilégio”. As turmas “A” e “B”, mais seletas, não dispunham de vagas. A<br />

“C” era a turma mais marginalizada e o lugar dos repetentes.<br />

Um cara sentado sobre a mesa do Professor, sem qualquer motivo aparente,<br />

começou ostensivamente a encarar-me. Senti-me mal e subitamente comecei a achar que<br />

talvez aquela não fosse a minha classe:<br />

— Ah, eu acho que a quinta “C” não deve ser aqui, não! - E tratei de ir recolhendo<br />

as minhas coisas. — Vou procurar de novo, não estou muito à vontade nesta sala...<br />

Saí mas tive que voltar. A sala era realmente aquela, para meu desgosto. Havia mais<br />

gente agora e quando entrei todos voltaram os olhos na minha direção. Pelo visto eu era o<br />

único novato. Mas não sei por que aquela cara de poucos amigos, especialmente dos mais<br />

velhos. Tinha verdadeiros marmanjos na classe, com 16 ou 17 anos, e espelhando em cada<br />

gesto e cada palavra toda a revolta contida na alma.<br />

Logo entrou o Professor, um sujeito meio gordo de bigodinho bem aparado e<br />

óculos de aro azul. Parecia irritado e caminhou com passos rápidos até a mesa, onde<br />

literalmente atirou as coisas. Virou-se para nós com ar autoritário e mau humorado ao<br />

mesmo tempo:<br />

— Aviso desde já que hoje estou de péssimo humor! — Vociferou à guisa de bom<br />

dia. — E sabem por quê? Porque infelizmente vou ser obrigado a aturar esta turma o ano<br />

inteiro!!! Estendeu o dedo ameaçadoramente enquanto dava voltas pela frente da sala. -<br />

Mas não pensem que serei o único prejudicado! Vocês também terão que me aturar! —<br />

Ele falava com raiva na voz e acabou até cuspindo longe alguns perdigotos.<br />

A maioria olhava para ele com ar irônico, provocador, relaxado; os mais rebeldes,<br />

espalhados nas cadeiras com as pernas abertas e os cotovelos fincados nas mesas,<br />

mascavam chicletes ostensivamente.<br />

— Vocês jogam pesado e se julgam muito espertinhos! Eu sei bem com quem estou

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