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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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Resolvi aceitar. Fiz porque quis.<br />

O Éder começou a preparar um cachimbão só meu. Sabiam que era a primeira vez e<br />

capricharam, era noite de novidades para mim. Ele estendeu o cigarro com o olhar meio<br />

enviesado e sorriu:<br />

— Manda ver!<br />

Eles continuaram entretidos na roda e me deixaram sossegado. Acomodado no<br />

canto da parede, com os cotovelos sobre os joelhos e o cigarro seguro entre os dedos,<br />

nem liguei mais e comecei a fumar de verdade!<br />

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !<br />

De repente tudo estava muito engraçado e eu já não achava a vida tão injusta. Dava<br />

risada de tudo, da cara do Bolinha, do tênis branco do Edú, do cabelo do Márcio e até da<br />

porta, da janela, e de tudo o que me falavam. E ria, ria, sem parar. Percebi que estava balão<br />

de verdade.<br />

Depois aquela sensação que se repetiria muitas vezes... aquela coisa irreal, aquela<br />

leveza... o chão afundando como nuvem... as cores carregadas... o mundo rodando... a<br />

parede estava ondulada e parecia que se inclinava na horizontal até o chão.......era gostoso!<br />

— Esse negócio é muito louco... — Me ergui, pulei, apalpei as coisas. — Pôôôô.....!<br />

Peguei o hábito mesmo. Eu queria experimentar todas as sensações. A maioria do<br />

pessoal ficava parado, sentado, só viajando, mas eu queria mais. Então fumava e depois<br />

saía com a bicicleta. Era uma coisa alucinante! Eu via tudo diferente, um mundo diferente.<br />

Era o que eu queria. Um mundo diferente!<br />

***<br />

A droga vinha de um traficante local, o Torba, um sujeitinho fuinha cujo nome<br />

verdadeiro ninguém conhecia. E ele aceitava tudo em troca do bagulho: toca-fitas, relógio,<br />

jaqueta... era fácil roubar alguma coisa e comprar a muamba com ela. Nem era preciso ter<br />

o trabalho de vender.<br />

Aos poucos descobri que a droga era uma dualidade.<br />

Por um lado aliviava a tensão. Mas por outro, aquela “mexida” na cabeça também<br />

me fazia muito mais violento. Cada vez menos eu me importava com o que pudesse<br />

acontecer nas brigas. Isso era bom porque parecia que o motivo de estarmos vivos era<br />

esse: Pau, Pau, Pau!<br />

Impúnhamos ao mundo, através da violência, aquela realidade: nós existíamos!<br />

Existíamos, sim, e isso ia ser enfiado goela abaixo de quem quisesse meter-se conosco. E<br />

aquilo me envolveu. Pelo menos na Gangue eu tinha diálogo, coisa que em casa era

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