19.04.2013 Views

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Além dos problemas com os colegas eu também tinha chegado um pouco mais<br />

adiantado na matéria do que os demais. Todas as perguntas feitas em aula eu respondia<br />

antes dos outros. Caminho errado. Aquilo valeu-me o apelido “Sabidinho”. De início<br />

realmente não me incomodava mas à medida que os meses foram passando até aquilo<br />

tornou-se insultante!<br />

Então larguei mão de participar muito das aulas. Não abria mais a boca e, numa vã<br />

tentativa de ser aceito, dei um basta em tudo que se referisse à escola. Passei a me<br />

comportar como os demais, tentei usar jeans, abdiquei do estojo de lápis. Um caderno<br />

velho e cheio de orelhas acompanhado de uma caneta levada no bolso de trás da calça era<br />

o suficiente. Mas já era muito tarde para me enturmar. O meu rótulo estava mais do que<br />

consolidado. Mas aí comecei a ir muito mal em inglês, matéria até então desconhecida para<br />

mim. Não havia quem me ajudasse. Decidi que detestava inglês! E o apelido “Sabidinho”<br />

virou “Saburrinho”. Eu estava cheio!!!<br />

A gota d'água foi quando de fato encostaram a mão em mim com maldade. Foi por<br />

causa do lanche. Não adiantava esconder nada, até uma bala que eu tivesse no bolso, eles<br />

me revistavam e ficavam com ela.<br />

Então uma vez eu resolvi levar dois lanches. No intervalo eu desembrulhei o<br />

primeiro sanduíche e só fiquei esperando. Era questão de segundos, ia aparecer alguém e<br />

ficar com ele. Aí talvez eu tivesse a chance de comer o segundo sem que percebessem.<br />

Dito e feito, não demorou muito. O problema foi que nem bem o primeiro virou as costas<br />

com meu lanche e apareceu o Barão. — Passa aí o rango.<br />

— Não dá, acabaram de levar.<br />

— Como, “levaram”? O lanche era meu, como é que você dá prá outro cara?!!!<br />

— Não posso fazer nada, já te disse que levaram! Mesmo assim ele fez questão de<br />

me revistar. DROGA! DROGA! DROGA! O Barão deu com o outro sanduíche enfiado<br />

no bolso do casaco, por dentro do avental. — Ah!<br />

Ele arrancou com força o saquinho e, aí... deu-me brutalmente uma bofetada no<br />

rosto! E virou as costas sem dizer mais palavra e se foi, desembrulhando o que era meu.<br />

Difícil dizer o que senti. Eu só fiquei olhando para ele. Vi-o afastar-se com o cabelo<br />

comprido caindo pelas costas. Não chorei. Nunca chorei. O máximo que eu podia fazer<br />

era encará-los sem abaixar o olhar, sem dar um pio, sem dizer palavra alguma. Acho que<br />

isso os irritava mais ainda e talvez estivessem exagerando só para ver até onde eu<br />

agüentaria. Mas eu não lhes daria este gosto: nem um pio, nem uma lágrima, nem uma<br />

implorada diante deles, nada! Este era o meu trunfo.<br />

Mas, trunfo ou não resolvi dar uma comentada de leve com os meus pais. E em casa<br />

abordei o assunto sem entrar muito em detalhes:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!