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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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pintado clima. Eu não conseguia me livrar delas, das meninas. Estavam em toda parte e<br />

vinham atrás de mim na rua, na escola, nas festas, viviam batendo na porta de casa, o<br />

telefone não parava. Eu fora condescendente com a minha primeira namorada mas não<br />

seria mais. Aquelas meninas eram todas muito chatas! E embora eu não confessasse à<br />

turma, achava que o tal do amor deveria ser algo mais.<br />

E fiquei pensando na garota loira que não desgrudava do surfistinha.<br />

***<br />

No sábado seguinte estava um clima tenso em casa. Para variar meus pais estavam<br />

desgostosos comigo. Minha mudança havia sido tão impressionante que eles já achavam<br />

que eu tinha mesmo virado um marginal.<br />

Minha roupa mais usada: jeans e camisetas rasgadas, jaquetas descoradas com água<br />

sanitária e cheias de broches artesanais feitos com durepox, braceletes de pontas, botinas<br />

imundas. Meus cabelos eram outro desastre. Compridos e em desalinho, não sabiam o que<br />

era xampu. Ia na base do sabão de coco mesmo.<br />

Mas tinham desistido de tentar me afastar da Gangue. Eu andava mesmo com eles,<br />

podiam esquecer! Às vezes o tempo ficava quente para o meu lado por causa disso. Não<br />

adiantavam proibições, castigos e muito menos ameaças.<br />

Eu já estava saturado daquela conversa de ser a ovelha-negra, o indesejado, o mau<br />

elemento. Por outro lado já não havia como voltar a ser aquele guri tolo e indefeso.<br />

Aprendi na Gangue que quem não almoça é jantado. E como aquilo era realidade!!! Pois<br />

muito bem, eu não ia ser jantado, falassem o que quisessem!<br />

De cabeça quente eu larguei meus pais reclamando com as paredes. Bati a porta com<br />

força, peguei a bicicleta e saí sem rumo a princípio. Nem na Gangue apareci. Às vezes eu<br />

continuava precisando disso, do meu antigo isolamento. Precisava estar sozinho,<br />

espairecer um pouco as idéias. De quando em quando fazia falta. Quando ficar em casa<br />

parecia quase insuportável.<br />

Logo começou a chover e eu estacionei embaixo de uma árvore muito amiga. Volta<br />

e meia eu ficava ali, idiotamente conversando com ela sobre os meus problemas em casa,<br />

perguntando para o vazio o que deveria fazer, falando aquilo que mais ninguém estava<br />

autorizado a escutar.<br />

E lá estava eu debaixo da árvore, sentado na bicicleta e falando sozinho quando bati<br />

os olhos na figurinha que vinha subindo a rua. E não é que era a menina do SESC?! Ela<br />

vinha caminhando sem pressa, totalmente na dela, tomando chuva de braços abertos e<br />

com o rosto voltado para cima. Sozinha.<br />

Não deu outra. Esqueci imediatamente do que estava confidenciando à árvore e saí

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