19.04.2013 Views

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Deram comigo ali parado. Eu conhecia a todos de vista e a alguns de nome.<br />

— Pô, bacana! Você tá incomodando. Faz um favor, vai prá casa, vai!<br />

— Mas eu não estou a fim de ir para casa agora. — Normalmente eu costumava<br />

retrucar um pouco.<br />

— É, mas acontece que a partir de agora você fica proibido de sair de casa a não ser<br />

que pague o pedágio.<br />

— Que pedágio?!<br />

— É a nova onda que inventamos prá carinhas assim bacanas como você! — Ele<br />

chegou mais perto de mim, com as mãos à cintura. — Ô, meu, tem queijo lá na sua casa?<br />

— Tem, sim. Por quê?<br />

— Então sobe lá e trás queijo prá gente.<br />

— Daí posso ficar na rua!?<br />

— Pode!!! — Responderam em coro.<br />

E a “nova onda” pegou. Volta e meia eu tinha que pagar um pedágio para alguém<br />

para poder ficar na rua. Era tudo tão diferente de Interlagos!... Lá não havia meninos<br />

como estes, folgados, encrenqueiros, que se uniam em bandos e dominavam o pedaço,<br />

judiavam dos demais.<br />

Naquela época eu era inocente. Tinha sido muito protegido até então e com 11<br />

anos, o que eu conhecia do mundo, afinal? Sempre em escola particular, amiguinhos da<br />

minha idade e de boas famílias, clube, roupas novas...<br />

Falar em roupa......<br />

— Pôxa, você é um tonto mesmo, heim? Você não usa calças jeans, não, ô, bacana?<br />

— Quá, quá, quá!! Olha só a roupa do moleque! De fato, eu nunca usara um jeans.<br />

Minha mãe nos vestia com roupas bem “fora de moda” para aquele bairro. (Pensando<br />

bem, acho que ela nos vestia bem fora de moda para qualquer lugar da cidade). Eram<br />

calças tipo sarja, com pregas, camisas esportivas, sapatos do “Dic”. Não dava mesmo para<br />

enganar. Tudo me denunciava, meu jeito de falar, minhas expressões, meu modo de agir,<br />

meus brinquedos... e minha roupa! Em meu novo bairro eu não passava de um filhinho de<br />

papai mesmo, um otário! E essa, agora, que fazer?!! Tudo que eu tinha aprendido como<br />

certo agora eu via que estava errado pelo ponto de vista dos meus novos vizinhos.<br />

Pensei que as coisas se acalmariam quando as aulas reiniciassem. Chegou fevereiro e<br />

também o primeiro dia de aula. Meus pais haviam esclarecido que eu iniciaria a quinta série<br />

em escola pública, mas que tudo seria muito bom para mim.<br />

Minha mãe levou-me ao meu primeiro dia na “Escola Experimental”. Era uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!