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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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estava morta, sua vida escoando-se junto com o seu sangue. Quando eu a vi morrer... senti<br />

muito ódio de Deus. Ódio de tanta abominação. Lucifér, pelo menos, se contentava com<br />

um animal só.<br />

Remexi-me sobre os joelhos, levemente incomodado. Olhei de rabo-de-olho para<br />

Marlon, mas ele não pareceu dar importância.<br />

Depois daquele sangue mais alguns ingredientes foram ainda colocados no caldeirão.<br />

Mais tarde eu aprendi com detalhes a “receita”. A maioria dos constituintes eram pouco<br />

comuns.<br />

A tensão criada pela música e pelos atabaques antes do sacrifício da gata havia<br />

amainado. Mas agora parecia crescer de novo. Realmente. Outra vez aquela coisa no ar,<br />

aquela expectativa, o ar denso, sufocante. Mais ainda do que antes.<br />

Os atabaques retumbavam furiosamente agora, cadenciados, incessantes, insistentes.<br />

A música crescia e se avolumava gerando um clima de tensão, como que querendo chegar<br />

ao clímax de algo, antecipando alguma coisa. Olhei ao redor procurando ver o que viria,<br />

pois era óbvio que vinha algo, só não sabia o quê, ou por quê, mas os atabaques<br />

repercutiam com mais força ainda. Pressenti que aquele deveria ser o ápice da Cerimônia.<br />

Arrisquei um olhar às minhas costas e pude observar que o povo estava visivelmente<br />

alegre, festivo, cantando.<br />

A toalha negra então foi retirada de sobre a mesa.<br />

Meus olhos estavam muito abertos e dessa vez minha mente praticamente parou de<br />

raciocinar. Não conseguia raciocinar. Não conseguia pensar no que viria, procurei não<br />

adivinhar... não perceber... o que trariam para colocar ali?<br />

Uma vez retirada a toalha vi que a mesa tinha sulcos laterais e todos drenavam para<br />

o mesmo canto. Ali havia um recipiente parecido com um jarrinha dourada. Argolas de<br />

bronze ajustáveis na região superior e inferior da mesa pareciam estar providencialmente<br />

destinadas à um fim que eu preferia não entender.<br />

Eu olhava, e olhava, apenas olhava, quase sem compreender. Cada detalhe, cada<br />

gesto, cada som iria impregnar-se indescritivelmente em minha memória. Lembro-me<br />

bem... de cada nuance....de tudo o que vi, ouvi e senti.<br />

Desta vez o Sumo-Sacerdote adiantou-se. Saiu do seu lugar. Fez um gesto. Notei a<br />

expressão dos seus olhos, um misto de satisfação e — talvez — sarcasmo?! Não saberia<br />

dizer. Os lábios mostravam um leve sorriso, um ar de regozijo inundava-lhe a face como<br />

que antevendo algo prazeroso, indescritível.<br />

Então eu a vi. Veio trazida nos braços de um homem e envolta em um manto<br />

vermelho, saindo de trás das cortinas negras. Tinha a pele clara, os cabelos escuros e lisos<br />

cortados “channelzinho”, os olhos ligeiramente amendoados, talvez sete anos. O olhar era

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