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FILHO DO FOGO volume 1 - suelymmarvulle

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agressão. Não tinha a menor idéia do que fazer... meu ódio crescia dia a dia e eu vivia<br />

pensando no momento em que me fosse permitido me vingar!<br />

Naquele dia escapei da escola nem sei como. Eles estavam distraídos e para mim<br />

aquela era a deixa. Cabulei a última aula e saí na surdina, me mandei. Não podia atinar com<br />

o motivo pelo qual eles me odiavam tanto. Será que era simplesmente porque eu era<br />

diferente da maioria deles, porque era ingênuo e tolo, porque era ainda uma criança,<br />

porque era branco...? Poderia haver uma infinidade de motivos mas eu não achava que<br />

nenhum deles fosse tão substancial assim.<br />

Corri, corri, suando, com o coração batendo na garganta. Em casa menti a respeito<br />

do cabelo, disse que havia sido só um acidente. Eu mesmo tentara cortá-lo e acabara<br />

estragando tudo. Minha mãe acreditou na desculpa e tratei de acertar o corte com quem<br />

sabia fazer. Uma orelha de fora e a outra coberta estava realmente uma coisa!<br />

Numa segunda vez fizeram um pouco pior: grudaram um monte de chiclete bem no<br />

alto da cabeça. Era impossível pensar em tirar. Dessa vez fui escondido ao barbeiro e só<br />

voltei para casa com o cabelo já bem aparado. Seria difícil explicar aquele novo acidente.<br />

Nos dias que se seguiram eu era a chacota! Todos sabiam o que acontecera no meu<br />

cabelo. Aquilo estava começando a me marcar.<br />

“Eles não me bateram ainda mas estou vendo a hora em que isso vai acontecer.” —<br />

Pensava comigo mesmo, apreensivo. —”Mas talvez seja até melhor, uma cara roxa não vai<br />

passar tão desapercebida como tudo o mais que eles estão fazendo. Ninguém vai poder<br />

alegar que não está vendo!”<br />

O clima era tenso para mim desde o primeiro minuto em que eu punha os pés<br />

dentro da escola até o último. Eram ameaças morais, psicológicas e físicas, um tipo de<br />

massacre silencioso. Eu tinha sempre que estar fugindo de alguém!<br />

Ir ao banheiro do colégio também era motivo para muito susto. Eu já ouvira contar<br />

coisas horríveis! Pancadaria, assaltos, violências sexuais até!! Eu não sabia direito o que era<br />

uma violência dessas mas também não queria saber. Só entrava no banheiro se tivesse a<br />

total certeza de que não havia ninguém lá dentro. Trancava-me na cabina e ficava<br />

empoleirado sobre a tampa do vaso para que meus pés não fossem vistos. E antes de sair<br />

sempre olhava por baixo da porta!<br />

Suportei sozinho e de bico calado. Mas meu coração estava cada vez mais cheio de<br />

uma tremenda revolta.<br />

Até dos estudos acabei me desinteressando, perdi todo o gosto que tinha em<br />

aprender. Eu havia pensado que seria como na escola de Interlagos, que aprenderia coisas<br />

novas e interessantes, teria amigos e poderia também brincar bastante. Mas tudo revelouse<br />

uma tremenda decepção!

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