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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Mas percebe-se que há cores presentes em ambos os la<strong>do</strong>s, como que se aproximan<strong>do</strong>,<br />

demonstração de que o mun<strong>do</strong> é a várias cores, que não escolhem onde viver<br />

e não se compartimentam. Esta, a par <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> amizade, será a mensagem mais<br />

positiva que nos é trazi<strong>da</strong> por Luandino Vieira no seu conto, apesar <strong>da</strong> mácula que<br />

constitui a morte de Ricar<strong>do</strong>.<br />

A resolução <strong>da</strong>s diferenças que passam pelo binómio branco/negro, neste caso,<br />

é trágica, ao contrário <strong>do</strong> que se passa n'Os Disclrwos <strong>do</strong> "Mestre" Tnmodn. Como "as<br />

ficções literárias incorporam uma reali<strong>da</strong>de identificável, submeti<strong>da</strong> embora a uma<br />

remodelação imprevisível" (Iser, 2001: 102), atente-se na imprevisibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

casamento que resolve a relação de Arlete e Marajá.<br />

O Carnaval que permite a simulação <strong>do</strong> casamento de Arlete e Marajáserá uma<br />

leitura de utopia e de resolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> renl nesta obra de Uanhenga Xitu. Ocasamento<br />

ficciona<strong>do</strong> imita a vi<strong>da</strong> e é, assim, a única forma de concretização <strong>da</strong> utopia n'Os<br />

Disctlrsos <strong>do</strong> "Mestre" Tnnzodn, até devi<strong>do</strong> ao facto de o Carnaval estar enraiza<strong>do</strong> "num<br />

mun<strong>do</strong> encanta<strong>do</strong> de colheitas milagrosas e plenitude utópica" (Emerson, 2003: 58)<br />

ou de ser uma "representação simbólica (...) <strong>da</strong> utopia, a imagem de um esta<strong>do</strong> futuro"<br />

(Connerton, 1999: 58). Contu<strong>do</strong>, no caso deste romance, este futuro não anula a<br />

concretização, isto é, não se constitui serizpre como futuro. Analisan<strong>do</strong> com pormenor<br />

este casamento de Marajá e Arlete, que se realiza no tempo de passagem para o<br />

primeiro dia <strong>do</strong> Carnaval, afere-se que simboliza o início de um ciclo marca<strong>do</strong> pela<br />

per<strong>da</strong> <strong>da</strong> hierarquização social, pelo surgimento <strong>da</strong>s vozes que antes não seriam<br />

escuta<strong>da</strong>s (DaMatta, 1987: 119), enfim, pela instih~ição <strong>do</strong> jogo que faz <strong>do</strong> Carnaval<br />

"o mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> metáfora" (DaMatta, 1997: 63). A preparacão deste rito, ou desta<br />

"representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social" (Connerton, 1999: 57), envolve to<strong>do</strong> o rigor de<br />

uma festa de casamento, de mo<strong>do</strong> a que o processo imitativo fosse o mais próximo<br />

<strong>do</strong> realx0 possível, fosse verosímil, já que englobaria a simulação <strong>da</strong>s várias etapas de<br />

um casamento (Xitu, s.d.: 147-157). As semeihanças com a composição carnavalesca<br />

encontram-se, assim, nas máscaras/papéis desempenha<strong>do</strong>s pelos actantes, que<br />

correspondem a "personagens, gestos e roupas características" (DaMatta, 1997: 29), e<br />

no desfile que mostra à ci<strong>da</strong>de um casamento marginal, como, também, são marginais<br />

os heróis <strong>do</strong> carnaval (DaMatta, 1997: 263). O casamento de Arlete e Marajá tem o<br />

objectivo de impressionar a socie<strong>da</strong>de colonial, como é evidente na reacção à chega<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> cortejo à Ilha de Luan<strong>da</strong>, já com o noivo, entre manifestações de alegria, de um<br />

la<strong>do</strong>, e de espanto, <strong>do</strong> outro, por "ver o negro abraça<strong>do</strong> com a branca" (Xihi, s.d.: 152-<br />

153).<br />

Recuperan<strong>do</strong> o tópico <strong>do</strong> espaço e <strong>da</strong> metaforização <strong>da</strong>s relações raciais que ele<br />

constitui, no recinto <strong>da</strong> festa <strong>do</strong> casamento, é visível a afirmação de Frantz Fanon de<br />

que O mun<strong>do</strong> colonial é "compartimenta<strong>do</strong>, maniqueísta, móvel" (s.d.: 26), pela<br />

"Este real é, em primeiro lugar, a reali<strong>da</strong>de que "una obra literaria consiruye (...) al tiempo que Ia<br />

describe simultAneamente" (Harçhaw, 1997: 130).

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