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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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ganharam influência cultural e política, junto <strong>da</strong>s chefias <strong>da</strong> África Ocidental, os<br />

chama<strong>do</strong>s ln~zça~ios. Eram estes con~erciantes portugueses, a quem não terá falta<strong>do</strong><br />

espírito de aventura ou razões bastantes para serem considera<strong>do</strong>s como fugitivos.<br />

Eram provenientes sobretu<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha de Santiago, em Cabo Verde, e seriam inicialmente<br />

brancos. Entre eles muitos seriam judeus e ain<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> Boulègue (1989:<br />

12), outros seriam europeus não portugueses, mas culturalmente assimila<strong>do</strong>s a estes.<br />

A sua presença na costa africana deu origem a comuni<strong>da</strong>des mestiças que, com o<br />

tempo, se foram tornan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais negras, não obstante continuarem a considerar-se<br />

portuguesas. Foram encontra<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des destas em Bezeguiche (na<br />

ilha de Goreia, em frente a Dacar), no Rio Fresco (Rufisque, junto a Dacar) e até em<br />

Tumba (Rotumba), na actual Serra Leoa (Mendy 1994: 110).<br />

Os lança<strong>do</strong>s eram coadjuva<strong>do</strong>s na sua tarefa pelos grumetes, africanos "semidestribaliza<strong>do</strong>s<br />

que se consideravam a si próprios 'cristãos', 'civiliza<strong>do</strong>s' e, portanto,<br />

um nó acima <strong>do</strong>s 'gentios', porque eram frequentemente baptiza<strong>do</strong>s e (eram) capazes<br />

de falar porhiguês ou crioulo" (Mendy 1994: 111). A duali<strong>da</strong>de aqui regista<strong>da</strong> entre<br />

lança<strong>do</strong>s e grumetes encontramo-la também em Angola, personifica<strong>da</strong>, desta feita,<br />

pelos avia<strong>do</strong>s e pelos pumbeiros descalços. Começaram os avia<strong>do</strong>s por ser, após a<br />

proibição <strong>do</strong> comércio no sertão aos brancos (e eventualmente aos mestiços claros"),<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s e funcionários baixos que, a par <strong>da</strong> sua activi<strong>da</strong>de principal, exerciam o<br />

comércio no interior <strong>da</strong> colónia. Adquiriam normalmente crédito junto de comerciantes<br />

estabeleci<strong>do</strong>s em Luan<strong>da</strong>, a quem vendiam depois os escravos e produtos<br />

como a cera e o marfim, resgata<strong>do</strong>s no interior. Eram neste resgate auxilia<strong>do</strong>s muitas<br />

vezes pelos pumbeiros descalços, negros "com calções", i.e., "semi-destribaliza<strong>do</strong>s"<br />

(ou, talvez melhor, semi-integra<strong>do</strong>s na socie<strong>da</strong>de colonial). Estes, por seu la<strong>do</strong>,<br />

assuniiani niuihs vezes -mesmo após 1758 [ano em que esse comércio foi liberaliza<strong>do</strong><br />

(cf. Venâncio 1996a: 153 e segs.)] -, o papel de intermediários directos entre os<br />

comerciantes de Luan<strong>da</strong> e as chefias africanas, circunstância em que acabavam por<br />

concorrer com os avia<strong>do</strong>s.<br />

Diferentemente <strong>do</strong> que se passou com os lança<strong>do</strong>s, cujas comuni<strong>da</strong>des acabaram<br />

por se diluir nas socie<strong>da</strong>des locais (pelo que em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX poucas ou<br />

nenhumas se identificavam ain<strong>da</strong> como tal), os avia<strong>do</strong>s, protagonistas que foram -<br />

quer na quali<strong>da</strong>de de brancos, quer de mestiços (sobretu<strong>do</strong> enquanto mestiços claros)<br />

-de processos de mestiçagem, inscreveram a sua acção numa socie<strong>da</strong>de colonial cuja<br />

vertente mestiça perdurou até aos nossos dias.<br />

Como acontecera com a presença portuguesa em África, acontecera com as outras<br />

potências coloniais europeias, embora, por vezes, a mestiçagem e a crioulização não<br />

atingissem as dimensões <strong>da</strong>s zonas de influência portuguesa. Os mulatos e as comuni-<br />

" Não é possível identificar com exactidiio na legislação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> mercantilista e na <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s<br />

mais recentes esta sub-categoria de mcsiiços, que <strong>hoje</strong> seriam designa<strong>do</strong>s por "cabritos" (cruzamento de<br />

branco com negro ou mulato com mulato) ou simplesmente por brancos (no caso <strong>do</strong> cruzamento entre<br />

"cabritos" e brancos).

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