ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
50 o:<br />
Josi Capr!~<br />
A pigmentação cria<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> dicotomia preto-branco que pretexta o preconceito<br />
rácico e a sua repercussão no quotidiano não deixa de ser explicita<strong>da</strong> por um leitor<br />
solteiro, de 23 anos de i<strong>da</strong>de, natural <strong>do</strong> Marromeu e residente na Beira:<br />
Ofim destn é pedir-lhe trni socorro. O motivo que me levou n escrever é o seguinte, eir<br />
qimn<strong>do</strong> sní na minhn terra pnra cá nn Beirn nunca fnzer despedi<strong>da</strong> n ninguém porque tive<br />
milito rnivn<strong>do</strong> sníno dia 30-9-64 nqzri apresentei no din 1-10-64 desde <strong>da</strong> minhn chegndn nté<br />
<strong>da</strong>tn sempre estou a sentir <strong>do</strong>i no nzeir corpo estive nindn frnbnlhar mns snípor motivo de<br />
<strong>do</strong>ente de lonzbuigas pnssei 5 dins até estnr melhor quan<strong>do</strong> jiri apresentar ao serviço tinhn<br />
encontra<strong>do</strong> o rnpnz n trabalhar no meir lirgnr nindn eu pedi licençn ao pntrão atéfiz o contrnto<br />
conz ele mas niio pensn nndn disso só pensn mnndnr embora. Então eu possofingir qite estou<br />
<strong>do</strong>ente enqz,aizto não sinto nadn?<br />
É verdnde to<strong>do</strong>s os europetls não confinrnm-nos que os Africanos tambem sentem qtlalqaer<br />
coisn de <strong>do</strong>i, nadn estão pensar de nós pareci<strong>do</strong> como animnis sobre de nosso côr negro é por<br />
isso que não tentos vnlor com os eilropeils porqtre eles têm cor branco. Q~lnn<strong>do</strong> trmn pesson<br />
pedir o pntrnõ n licença que eic estoir <strong>do</strong>ente, ele aceitou-se n nirtorizar de licença quan<strong>do</strong> estnr<br />
bem de saiíde voltnr no seu semiço já encontrn no liigar nlgirém n trabalhar nesse lirgnr este<br />
pntrão não é confi<strong>do</strong> só gostn o emprega<strong>do</strong> estar de sntíde to<strong>do</strong>s os dias qtmn<strong>do</strong> strceder qtmlqirer<br />
coisn <strong>do</strong> corpo pronto pnrn mnndnr embora.<br />
No texto que se segue não saberei que mais admirar: se o aticismo <strong>do</strong> desenho<br />
de uma situação em que se respira simultaneamente a tragédia de uma repressão<br />
desproporciona<strong>da</strong> se a capaci<strong>da</strong>de de extrair de um vocabulário escasso e de uma<br />
sintaxe improvisa<strong>da</strong> a narração precisa <strong>do</strong> facto que assim nos salta à vista de forma<br />
ver<strong>da</strong>deiramente hlmica. A carta é de um natural <strong>da</strong> Machanga, residente na Beira,<br />
de 22 anos de i<strong>da</strong>de:<br />
A decisão que me levou R escrever esta missivn, foi n seguinte: Certo dia na áren dn<br />
Chipangnrn no pântano o11 Chipangara Matope, um homem <strong>da</strong> cor negra que tronxern dn sila<br />
terrn 5 litros com szlrn9 que niio era parn vendn mas sim pnrn ele beber de quan<strong>do</strong> em qzlnti<strong>do</strong><br />
que precisnsse. Assim que chegoir o homem, tirou um litro para o irmão que morn porica<br />
distante dn stra. Quan<strong>do</strong> pelo o caminho dirigin-se pnra casn, encontrou com a polícin, que lhe<br />
perguntou <strong>do</strong>nde tinha comprn<strong>do</strong> a bebi<strong>do</strong>. O pobre homem preto disse-lhe que tinha <strong>da</strong><strong>do</strong> por<br />
irmão que trouxera <strong>da</strong> minha terra 5 litros parn bebermos no tempo de almoço o11 de jnntnr. E<br />
n polícia ordenou no homem voltar para trás mostrnr n cnsn onde foi dn<strong>do</strong>. Qunn<strong>do</strong> chegaram,<br />
a polícin entrou logo para dentro <strong>da</strong> cnsn n obserunr se havia mais além dnqiieles 5 litros com<br />
surn que tinhn visto na snln qmn<strong>do</strong> logo entrotl. Infelizmente não houve nlém <strong>da</strong>queln<br />
quanti<strong>da</strong>de.<br />
'Sua - bebi<strong>da</strong> feita de cereais fermenta<strong>do</strong>s.