20.04.2013 Views

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

em grande parte determinam os seus resulta<strong>do</strong>s. Quer dizer que a globalização não<br />

pode ser vista de per se. Uma globalização sem regulação e com um Esta<strong>do</strong> fragiliza<strong>do</strong>,<br />

como querem as ideologias neoliberais, poderia configurar a subordinação total de<br />

valores democráticos a critérios <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ou ain<strong>da</strong>, como diz Adriano Moreira, à<br />

"teologia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>".<br />

É certo que o merca<strong>do</strong> é um elemento essencial <strong>do</strong> funcionamento <strong>da</strong>s economias<br />

e um motor indispensável <strong>do</strong> desenvolvimento, mas isso não significa que se passe<br />

<strong>do</strong> excesso de intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como aconteceu frequentemente na segun<strong>da</strong><br />

metade <strong>do</strong> século XX, para o seu desmantelamento. J.P. Fitoussi observa bem que "na<br />

ausência de intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> -por exemplo, sob forma de subvenções públicas<br />

-o merca<strong>do</strong> escolheria espontaneamente um nível de investimento na educação e na<br />

cultura muito mais fraco <strong>do</strong> que a eficácia económica exige. Raciocínio semelhante<br />

pode ser aplica<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong> saúde, <strong>da</strong> protecção no trabalho, et~.''~~.<br />

É evidente que a submissão <strong>do</strong> político ao económico e ao financeiro denuncia<strong>da</strong><br />

por Karl Polanyi nasua obra-prima mais actual <strong>do</strong> que nunca (Agrnnde trn~tsformnçio)<br />

está, na opinião de muitos ensaístas, manifestamente em cursoE. Já em Outubro de<br />

1932 Emmanuel Mounier, num artigo publica<strong>do</strong> na revista Esprit, atribuía ao espiritual<br />

a função de coman<strong>da</strong>r o político e o económico, deploran<strong>do</strong> que no mun<strong>do</strong> modemo<br />

a "presença concreta e exigente <strong>do</strong> espírito" se tenha pouco a pouco retira<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>z6<br />

Se,para omun<strong>do</strong> e não apenas para o Médio Oriente, o islamismo político parece<br />

especialmente perigoso, não é apenas por causa <strong>do</strong> terrorismo em si que poderia ser<br />

ou não circunstancial, mas porque aquilo que pressupõe no plano gnosiológico aponta<br />

para um retrocesso histórico. É uma concepção teológica redutora <strong>da</strong>s relações entre<br />

os homens, uma metafísica estreita27 que perverte o pensamento, contribui para um<br />

empobrecimento brutal <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de e para a anulação <strong>do</strong> espírito crítico. Caso a<br />

sua influência se venha a estender a várias centenas de milhões de pessoas, é óbvio<br />

que estaremos perante um grave dilema que não pode ser ignora<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong><br />

c<strong>ontem</strong>porâneo pelos riscos a que expõem a humani<strong>da</strong>de. A aplicação <strong>da</strong> CháriaZ<br />

em várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, especialmente no Médio Oriente (Arábia Saudita, Irão) e<br />

na África (Nigéria) dá indicaqões sobre as ameaças que pesam sobre as perspectivas<br />

de desenvolvimento e de modemi<strong>da</strong>de" em muitas regiões <strong>do</strong> sul devi<strong>do</strong> às inter-<br />

Cf. Jean-Paul Fitoussi 2005, op. cit : 54.<br />

li Vd. Karl Polanyi, The Grent Trnnsformntion - Tlie Politicnl nnd Economic Origins o/ Osr Time, 1944. E<br />

também Eahveli (John) and Taylar (Lance), Globnl Finnnce nt Risk - nle Case for Internnfiannl Regiilotion,<br />

Cambridge, Paiity Presç, 2000.<br />

Cita<strong>do</strong> Dor Michel Raimond, glorie et critio~re de Ia modernité, Paris, PUF, 2000 : 121.<br />

u<br />

"Não é a metafísica enquanto tal que está aquiem causa, mas a versão elementar eanti-humanista<br />

<strong>do</strong>s radicais islamitas.<br />

" Chária : lei islãmica.<br />

" Vd. ChristianComeliau, Les impnsses de In modernité- Critique de Ia mnrchnndisntion dir monde, Paris,<br />

Seuil, 2000.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!