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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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RACISMO, ISLAMISMO POL~TICO E MODERNIDADE<br />

AOELINO TORRES'<br />

O conceito de "raça" que ain<strong>da</strong> <strong>hoje</strong> é por muitos relaciona<strong>do</strong> com factores<br />

biológicos é, desse ponto de vista, uma visão ultrapassa<strong>da</strong> que, como está demonstra<strong>do</strong><br />

pela ciência, não tem qualquer base séria. No entanto, o "racismo" como construção<br />

política sobrevive em múltiplas situações de tensão ou conflito social para fun<strong>da</strong>-<br />

mentar preconceitos.<br />

Esta noção está conti<strong>da</strong> no "islnmismo político", interpretação religiosa, extremista<br />

e teleológica, implicitamente racial ou mesmo racista, que podemos considerar<br />

estranha à essência <strong>da</strong> religião muçulmana na medi<strong>da</strong> em que subordina os valores<br />

políticos e morais a uma concepção redutora <strong>da</strong> mensagem <strong>do</strong> Corão. O islamismo<br />

político é uma visão retrógra<strong>da</strong> que almeja reconstruir um tipo de socie<strong>da</strong>de igual à<br />

que vigorava na península arábica nos primeiros anos <strong>da</strong> era muçulmana durante o<br />

século VII, antes mesmo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> áureo <strong>da</strong> civiliuação muçulmana, configuran<strong>do</strong><br />

a resistência à transformação <strong>da</strong>s ideias, à ausência de percepção <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e à<br />

negação <strong>do</strong> tempo. Apropósito desse problema antropológico, A. Custódio Gonçalves<br />

observou também que, de uma maneira geral, estamos perante uma "descontinui<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> tempo social", a qual pode ser "caracteriza<strong>da</strong> pela conjunção <strong>do</strong> tempo linear e <strong>do</strong><br />

tempo mític~"~.<br />

Essa cognição monolítica ultra-conserva<strong>do</strong>ra, com to<strong>da</strong>s as consequências que<br />

ela implica, é um <strong>do</strong>s elementos que bloqueia <strong>hoje</strong> as socie<strong>da</strong>des muçulmanas <strong>do</strong><br />

Médio Oriente, opon<strong>do</strong>-se a um desenvolvimento que exige modemi<strong>da</strong>de, a qual é,<br />

por sua vez, uma condição sine qun non de desenvolvimento. Esses <strong>do</strong>is conceitos<br />

estão por sua vez inevitavelmente liga<strong>do</strong>s a uma racionali<strong>da</strong>de3 indispensável ao<br />

progresso científico, económico e cultural.<br />

' Universi<strong>da</strong>de Técnica de Lisboa (ISEG). Devo tima palavra de agradecimento ao meuaniigo Prof.<br />

José Carlos Venâncio, <strong>da</strong> UBI, pelas oportunas sugestões que muito aju<strong>da</strong>ram a melhorar a versão hal<br />

deste texto.<br />

'A. Custódia Gonsalves, Qtrestõcs de nntropologin socinl e arlturnl, Porta, Afrontamento, 2" ed. 1997:<br />

136.<br />

~ ~<br />

'Pode ler-se umaanáliseapmíun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong>conceito de"raciona1i<strong>da</strong>de"emÇofia Miguens,Rncionnlidnde,<br />

<strong>Porto</strong>. Campo <strong>da</strong>s Le&as, 2004.

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