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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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4. Identi<strong>da</strong>de e poder na integração ecorzómica em África<br />

Poder e identi<strong>da</strong>de desde sempre estiveram presentes, mesmo quena maior parte<br />

<strong>do</strong>s casos apenas de forma implícita, no debate sobre a via e os objectivos <strong>do</strong> movimento<br />

'cooperativo' africano, com a ideia de uni<strong>da</strong>de africana e fronteiras coloniais a<br />

ocuparem o seu centro. Ain<strong>da</strong> antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong> vaga de independências <strong>do</strong> final <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 50 e princípios <strong>do</strong>s anos 60, diversos intelectuais e políticos africanos<br />

abor<strong>da</strong>vam a questão, particularmente em torno <strong>da</strong> ideia de um 'pan-africanismo'<br />

(Tre<strong>da</strong>no, 1989: 42-48) que projectavam para o perío<strong>do</strong> pós-independência. É neste<br />

contexto que surgem tentativas de efectivar reagrupamentos regionais anteceden<strong>do</strong><br />

a independência, como sejam o Conselho <strong>da</strong> Entente (União Sahel-Benine), a União<br />

Africana e Malgache, ou o projecto <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> África Latina de Barthélemy<br />

Bogan<strong>da</strong>, a Federação <strong>do</strong> Mali (Senegal, Sudão, Burkina Faso e Benine) ou a União<br />

Gana-Guiné. Diferentemente <strong>da</strong>s primeiras, as últimas aproximavam-se mais <strong>da</strong> ideia<br />

pan-africana que punha em causa as fronteiras coloniais traça<strong>da</strong>s na Conferência de<br />

Berlim (Tre<strong>da</strong>no, 1989: 48-59).<br />

Neste movimento, N'Krumah, que viria a tornar-se no primeiro Presidente<br />

<strong>do</strong> Gana, ocupou um lugar de destaque. Num <strong>do</strong>s seus textos mais conheci<strong>do</strong>s,<br />

N'Krumah insistia que "os africanos deveriam tornar 'supérfluas e obsoletas' as<br />

fronteiras coloniais" (Muchie, 2000: 299), acrescentan<strong>do</strong>: "it is a golden opportunity<br />

to prove that the genius of the African people can surmount the separatist tendencies<br />

in sovereign nationhood by coming together speedily, for the sake of Africa's greater<br />

glory and infinite well-being, into a Union of African State~"~~. Como refere Aurre<br />

(2002: 67) ou Badi (1993: 119), a reivindicação <strong>da</strong>quela altura baseava-se na falta de<br />

correspondência entre as fronteiras estabeleci<strong>da</strong>s pelos poderes coloniais sem lógica<br />

racional assente em critérios étnicos, económicos ou políticos, <strong>da</strong><strong>da</strong> a completa<br />

ausência de sensibili<strong>da</strong>de no que respeita à composição pré-colonial <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />

africanas". No entanto, e logo que os países se tomaram independentes, a ideia <strong>da</strong><br />

manutenção <strong>do</strong> 'status quo' fronteiriço e o início <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> poder no'seu'espaço<br />

nacional, levou os dirigentes africanos a voltarem costas à questão que aparentemente<br />

parecia ser a central e de justiça - a redefiniqão <strong>da</strong>s fronteiras coloniais que implicaria<br />

nalguns casos uma fusão de países. Ao assim se proceder, tomou-se claro que a questão<br />

central era, na reali<strong>da</strong>de, uma questão de poder, de exercício de poder, sem abdicar<br />

de soberania para outros. Não é de estranhar, assim, que diante destas resistências,<br />

os líderes africanos, ao criarem a Organização de Uni<strong>da</strong>de Africana, em 1963, inscrevessem<br />

na sua Carta Constitutiva a ideia <strong>da</strong> 'intangibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s fronteiras à época<br />

<strong>da</strong>s independências'". Ou seja, a reivindicação de uma identi<strong>da</strong>de pré-colonial e a<br />

=Kwame N'Krumah (1963). Africn Mirst Unite, Lon<strong>do</strong>n, Panaf, p.221-222, cita<strong>do</strong> emMUCHIE (2000:<br />

299).<br />

%Para umestu<strong>do</strong> muito detalha<strong>do</strong> sobre esta questão verTREDAN0 (1989)

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