20.04.2013 Views

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A PROBLEMATICA SOCIAL DOS MESTICOS EM AFRICA<br />

. ... . ... . .... . .. . .. . . .. . .. . .. . ... . . ... . .. . .... . .. .. . .. . .... . .... . .. .. . ... . .. .<br />

<strong>da</strong>des crioulas de São Luís, no norte <strong>do</strong> Senegal, e <strong>da</strong> ilha de Goreia, são um exemplo<br />

de como tais processos, em África, não se circunscreveram ao mun<strong>do</strong> de colonização<br />

portuguesa, porquanto uma explicaçáo para este último caso possa ser encontra<strong>da</strong><br />

na semelhança, quanto aos méto<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>s colonizações portuguesa e francesa e ain<strong>da</strong><br />

no facto de a primeira colonização (ou apenas presença) europeia nas zonas em causa<br />

ter si<strong>do</strong> a portuguesa.<br />

De mais difícil explicação será o caso <strong>da</strong> Serra Leoa, que é, de qualquer forma,<br />

um caso pontual no que diz respeito a política colonial britânica em África. Em levas<br />

sucessivas, a partir <strong>do</strong> século XVIII, os britânicos desembarcaram em Freetown<br />

(fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1787 e actual capital <strong>do</strong> país), no senti<strong>do</strong> de aí criarem um entreposto<br />

comercial, antigos escravos e "indesejáveis" britânicos (ratoneiros e prostitutas<br />

londrinos) que se terão miscigena<strong>do</strong> com os autóctones e, nessa medi<strong>da</strong>, mesmo que<br />

imperceptivelmente em termos físicos, estarão na origem <strong>do</strong>s actuais krios (cf. Ki-<br />

Zerbo, I, s.d.: 300 e segs.).<br />

3. Se a mestiçagem aconteci<strong>da</strong> na conjunh~ra mercantilista ou de colonialismo<br />

arcaico tendeu, em termos biológicos, a diluir-se nas socie<strong>da</strong>des locais, confundin<strong>do</strong>-<br />

se, por conseguinte, com uma categoria linguística-cultural, o mesmo não se passa<br />

com os mestiços que emergem na conjuntura moderna, com o colonialismo moderno.<br />

Estes desempenham funções diversas nos países de origem e detêm, consequen-<br />

temente, estatutos diferencia<strong>do</strong>s de país para país, de grau para grau de mestiçagem.<br />

Se, por um la<strong>do</strong>, usufruem estatutos sociais melhora<strong>do</strong>s em relação à maioria <strong>da</strong><br />

populaqão negra, por outro, não deixam de ver o seu destino inscrito numa estrutura<br />

social hierárquica, em que o topo era ocupa<strong>do</strong> pelo branco. Vêem-se, por conseguinte,<br />

confronta<strong>do</strong>s com uma lógica de diferenciação social para a qual o papel de inter-<br />

mediários que tradicionalmente ocupavam nem sempre é uma mais-valia areivindicar.<br />

Donde, aliás, se poderá inferir o seu posicionamento contra o colonialismo e a sua<br />

participação nas hostes nacionalistas.<br />

Foi este um caso generaliza<strong>do</strong> na África lusófona, mas não só. Aconteceu um<br />

pouco por to<strong>da</strong> a África sub-saariana, conquanto nem sempre se assistisse aí à iden-<br />

tificação, pelo menos em termos ideológicos, <strong>do</strong>s mestiços com a maioria <strong>da</strong> população<br />

negra, como acontecia na África lusófona. Veja-se, por exemplo, a esse propósito, o<br />

clube de mestiços que existiu na República Centro-Africana antes <strong>da</strong> independência<br />

(N'Diaye 1992).<br />

O papel intermediário desempenha<strong>do</strong> pelo grupo durante o colonialismo arcaico<br />

e O moderno, quer no comércio, quer na administração, continuou a ser desempenha<strong>do</strong><br />

após as independências, conquanto não em relação às metrópoles coloniais, mas sim<br />

em relação às multinacionais e às hegemonias políticas internacionalmente vigentes.<br />

Muitas vezes esse papel intermediário, partilha<strong>do</strong>, de resto, por outras elites, como já<br />

acontecera na conjuntura colonial moderna, tem uma assunção política, conquanto<br />

raramente de primeira linha. É esta a situação espelha<strong>da</strong>, pelo menos durante a<br />

vigência <strong>do</strong> monoparti<strong>da</strong>rismo, pelos mun<strong>do</strong>s políticos angolano e moçambicano.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!