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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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uma carga negativa ou positiva, conquanto, desse facto, não possamos inferir a<br />

ausência de racismo, fenómeno que subsiste quer na sua versão mais clássica, quer<br />

nas versões mais subtis, invocan<strong>do</strong>-se a diferenciação cultural como factor de<br />

distanciamento (Wieviorka 2002). O que preten<strong>do</strong> relevar, com tal assunção, é a<br />

diferençaenke apercepção actual <strong>do</strong> racismo e a que foi vivi<strong>da</strong>no passa<strong>do</strong>, particular-<br />

mente no último quartel <strong>do</strong> século XIX e na primeira metade <strong>do</strong> século XX, altura em<br />

que o mesmo emergiu como termo/conceito (Heckrnann 1992: 146-7; Fredrickson<br />

2002: 19) e em que, decorrentemente, se assistiu, entre oukas aberrações, ao holocausto<br />

<strong>do</strong>s judeus às mãos <strong>do</strong>s nazis. O abuso <strong>do</strong> conceito de raça neste perío<strong>do</strong>3 levou a<br />

que, após a 2." Guerra Mundial, tenha o mesmo perdi<strong>do</strong> em virtuali<strong>da</strong>de, evita<strong>do</strong><br />

pelo mun<strong>do</strong> académico e por círculos intelectuais (sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> conota<strong>do</strong>s com<br />

a esquer<strong>da</strong> política), quer pela sua imprecisão científica4, quer pelo passa<strong>do</strong> sombrio<br />

que acarretava. Era, no fim, uma forma de o Ocidente, <strong>da</strong> Europa, ou mais precisa-<br />

mente, de o homem branco se redimir de um passa<strong>do</strong> colonial e de uma prática racista<br />

que havia redun<strong>da</strong><strong>do</strong> no holocausto acima aludi<strong>do</strong>. Doravante, o fenómeno rafa,<br />

enquanto factor de diferenciação ou clivagem5, será tendencialmente ignora<strong>do</strong>, ou<br />

então, no caso de intelechiais ou cientistas mais próximos <strong>do</strong> marxismo, entendi<strong>do</strong><br />

como qualquer coisa destina<strong>da</strong> a desaparecer com o fim <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des de classes,<br />

pelo que, assim sen<strong>do</strong>, pouco se justificava falar nela.<br />

Foi neste ambiente que se deram as independências no chama<strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>.<br />

Em África, o território-alvo desta reflexão, tal condicionalismo ideológico, submerso<br />

pela postura pan-africanista6, redun<strong>do</strong>u na máxima de que o único grupo humano<br />

com legitimi<strong>da</strong>de para a posse <strong>do</strong> território e <strong>do</strong>s seus recursos naturais seriam os<br />

negros. Na tradição francófona, o continente a sul <strong>do</strong> Saara (e <strong>hoje</strong> provavelmente<br />

com a exclusão implícita <strong>da</strong> África Austral) ain<strong>da</strong> é designa<strong>do</strong> por África Negra.<br />

Neste propósito ideológico, a um grupo humano, kuto <strong>da</strong> secular presença europeia<br />

'De referir ain<strong>da</strong> que a mestiçagem foi condena<strong>da</strong> pelos denomina<strong>do</strong>s racialiçtas, ou seja, pelos que<br />

protagonizaram as chama<strong>da</strong>s teorias científicas <strong>da</strong> raça, parque nela viam um processo de degeneraqão.<br />

Vários foram os cientistas ou, talvez melhor, pçeu<strong>do</strong>-cientistas, que assim se manifestaram. Gobineau,<br />

ti<strong>do</strong> como o pai dessas tais teorias, foi, nas palavras de Lévi-Slrausç (1970: 232), um deles. Jon A. Mjocn,<br />

autor de Harmonic nnd disharmonic race crossing, foi, seguin<strong>do</strong> Juan Comas (1970: 19), outro <strong>do</strong>s que<br />

condenaram a mestiçagem. Muitos outros poderiam ser adiciona<strong>do</strong>s a esta lista.<br />

i Vejam-se, por exemplo, as conclusões <strong>da</strong>s diferentes encontros patrocina<strong>do</strong>s pela UNESCO em<br />

1949,1951,1964 e 1966. Cf. a esse respeito Juan Comas et "1. (1970).<br />

j Tá nos anos 70 <strong>do</strong> século oasça<strong>do</strong>, auan<strong>do</strong> a imimacão de africanos, caribenhos e asiáticos para as<br />

nas grandes centros urbanos eindu5hialiw<strong>do</strong>s dessas&e;mas inetrópoles. %b a hegemonia <strong>do</strong> paradigma<br />

culturalista que então se vivia, em vez de raça - conceito que acaba sempre por lembrar um e~aizamento<br />

biológica e de má memória - introduziu-se o conceito de ehiia, mais conota<strong>do</strong> com vivências culhuais<strong>do</strong><br />

que com makizes biológicas, não obstante ser, por essa mesma razão, mais impreciso.<br />

Esta poshxa <strong>do</strong>s pan-africanistas é, ela própria, uma herança <strong>da</strong> conceito de raqa <strong>do</strong> século XSX e,<br />

comequentemente, <strong>da</strong> racialização que então çe fez <strong>do</strong> continente. Cf. a este respeito Appiah (1997: 38 e<br />

Seg?..) e Venãncio (2000: 19 e segs.).

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