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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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no continente, é-lhe, enquanto tal, sonega<strong>da</strong> a participação no futuro <strong>da</strong> África liberta.<br />

Refiro-me aos mestiços7.<br />

2. Um olhar histórico sobre a situação social <strong>do</strong>s mestiços de origem europeia na<br />

África subsaariana leva-me a concluir que a sua formação e o subsequente estatuto<br />

social se processaram segun<strong>do</strong> três conjunturas determina<strong>da</strong>s: a <strong>do</strong> colonialismo<br />

arcaico, a <strong>do</strong> colonialismo moderno e a <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pós-colonial.<br />

Durante o colonialismo arcaico, coincidin<strong>do</strong> com a vigência, em termos de história<br />

europeia, <strong>do</strong> mercantilismo ou capitalismo comercial, poucos foram os espaços<br />

directamente coloniza<strong>do</strong>s pelos europeus. Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Serra<br />

Leoa, a "Colónia de Angola" (a ci<strong>da</strong>de de Luan<strong>da</strong> e hinterland), o "Reino de Benguela<br />

(a ci<strong>da</strong>de de Benguela e lzinterlnnd), a colónia <strong>do</strong> Cabo, a ilha de Moçambique, a Libéria,<br />

conquanto constituí<strong>da</strong> sob os auspícios <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, foram <strong>do</strong>s poucos espaços<br />

onde a presenfa colonial europeia (ou americana, no caso <strong>da</strong> Libéria) se fez sentir<br />

efectivamente. Acrescentem-se a estas situações, patentea<strong>da</strong>s por uma relação colonial<br />

mais ou menos efectiva, outras, igualmente decorrentes <strong>da</strong> presença europeia na costa,<br />

mas que não resultaram em qualquer tipo de ocupação e de <strong>do</strong>minação política<br />

explícita. Refiro-me às muitas feitorias comerciais europeias, umas de teor mais formal,<br />

outras nem por isso, mas cuja existência, em qualquer <strong>da</strong>s circunstâncias, dependeu<br />

<strong>da</strong> vontade <strong>do</strong>s poderes tradicionais instituí<strong>do</strong>s. A hegemonia política <strong>do</strong>s Jolof e o<br />

império <strong>do</strong> Mali, na Senegâmbia, os reinos de Alla<strong>da</strong> e Daomé (actual Benin), Gengy<br />

(actual Togo) e Ashanti (actual Gana) são algumas <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des políticas que se<br />

articularam com os interesses <strong>do</strong>s europeus, permitin<strong>do</strong> que estes se estabelecessem<br />

comercialmente nos seus respectivos litorais. Do contacto humano <strong>da</strong>í resultante<br />

emergiram várias formas de miscigenação, umas apenas culturais, outras igualmente<br />

biológicas (Guyot 2002; Silveira 2004).<br />

A mestiçagem ocorri<strong>da</strong> nesta conjuntura, anterior a racialização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

tendeu a diluir-se nas socie<strong>da</strong>des locais, sobreviven<strong>do</strong> apenas em termos linguística-<br />

culturais sob a forma <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s crioulos. Quer tal dizer que, em termosbiológicos,<br />

'Terá si<strong>do</strong> na Conferência de Cotonou (1956/1957) que se generalizou a ideia de queos mestisos (de<br />

origem europeia, leia-se) não teriam fumo em Africa, ao que parece, ideia constante <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

potências coloniais face às indeoendênciaç aue se avizinhavam. Cf. N'Diave (1992). De qualauer mo<strong>do</strong>,<br />

2 . . . A<br />

vale referir que o estatuto social <strong>do</strong>s mestigoç de origem europeia era partilha<strong>do</strong> pelos mestiços <strong>do</strong>utras<br />

origem e matrizes, que, no seu conjunto, constituem o que Jean Franco& Bayart (1999), invocan<strong>do</strong> a tese<br />

primordialista, designa par minorias <strong>do</strong>minantes alógenas, referin<strong>do</strong>-se, começsa expressão, aquelesque,<br />

assumin<strong>do</strong> eçtatutosprivilegia<strong>da</strong>çnaççocie<strong>da</strong>des africanas,são ou foram estigmatiza<strong>do</strong>s pelanão pertença<br />

à terra, pela sua característica náo autóctone. Neste grupo incluiuo mesmo autocpara alérn<strong>do</strong>smestiços<br />

referi<strong>do</strong>s, as minorias crioulas, a aristocracia árabe que controlou o sultanato <strong>do</strong> Zanzibar, assim como as<br />

minorias asiáticas presentes em países <strong>da</strong> África oriental.<br />

A tese primardialita invoca<strong>da</strong> tem a ver com as situaçãeç em que a identi<strong>da</strong>de colectiva retira de<br />

uma pressuposta partilha <strong>do</strong> mesmo sangue, <strong>do</strong> mesmo solo e <strong>da</strong> mesma língua a sua afirmaçáo como<br />

grupo unifica<strong>do</strong> e distinta. 0s sentimentos de pertensa e de diferenciagáo que, assim, se desenvolvem<br />

acabam, quan<strong>do</strong> leva<strong>do</strong>s ao extremo, por cegar os 51ipos que deles partilham. Cf. a este propósito Rex<br />

(1988: 48 e se@.) e Appadurai (2004: 186 e çegç.).

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