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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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a aceitação pelo Islão <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> laicismo são, por conseguinte, problemáticas, o<br />

que não quer dizer inconcebíveis a prazo"j0.<br />

O desenvolvimento (distinto <strong>do</strong> "crescimento") aponta em linhas gerais para o<br />

progresso <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des em termos de liber<strong>da</strong>de, de democracia e de bem-estar. A<br />

sua realização exige portanto a conjugação no tempo de diversos vectores, sobretu<strong>do</strong><br />

no médio e longo prazos, para responder às necessi<strong>da</strong>des e meios <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des.<br />

Embora os seus resulta<strong>do</strong>s não dêem à parti<strong>da</strong> lugar a certezas absolutas nem<br />

impliquem nenhum determinismo, são esperáveis melhorias sucessivas nos diferentes<br />

planos de activi<strong>da</strong>de e na vi<strong>da</strong> social, política, económica, científica e cultural.<br />

Mas o desenvolvimento que está na confluência <strong>da</strong>s conquistas obti<strong>da</strong>s nos<br />

últimos <strong>do</strong>is séculos pelo menos, não é separável nem <strong>da</strong> modemi<strong>da</strong>de nem <strong>do</strong><br />

racionalismo. Nenhum <strong>do</strong>s termos desta trilogia pode ser subverti<strong>do</strong> por qualquer<br />

forma de irracionali<strong>da</strong>de que não permita um pensamento sistémico, tanto teórico<br />

como experimental, onde a liber<strong>da</strong>de de pensar e agir seja salvaguar<strong>da</strong><strong>da</strong>. O misticismo,<br />

a metafísica e outras formas de expressão têm o seu lugar no cognoscível e<br />

podem até desempenhar um papel positivo em determina<strong>do</strong>s sectores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mas<br />

não podem subordinar aquela trilogia aos seus próprios critérios de apreensão <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> sob pena <strong>do</strong> progresso <strong>da</strong>s nações se imobilizar ou regredir.<br />

Há autores que contestam estes conceitos, optan<strong>do</strong> por uma postura relativista<br />

segun<strong>do</strong> a qual o seu significa<strong>do</strong> e alcance é variável segun<strong>do</strong> as culturas e as circunstâncias.<br />

Ao utilizar o padrão ocidental para a definição aparentemente unívoca de<br />

desenvolvimento, de moderni<strong>da</strong>de ou de racionali<strong>da</strong>de, incorre-se numa prática<br />

etnocêntrica de "imperialismo" cultural que desrespeita e falseia a reali<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s países<br />

<strong>do</strong> "Terceiro Mun<strong>do</strong>". O argumento relativista é conheci<strong>do</strong> e na<strong>da</strong> impede que, por<br />

hipótese, o admitamos até certo ponto. Com efeito, não é naturalmente impossível<br />

que as diversas culturas e/ou civilizações, que têm necessariamente o seu génio<br />

próprio, consigam num futuro mais ou menos longínquo formas de desenvolvimento<br />

e moderni<strong>da</strong>de que, mesmo diferentes <strong>da</strong>s ocidentais, consigam satisfazer os requisitos<br />

<strong>do</strong> que se define como "progresso", seja ele no ocidente ou em qualquer outra região<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

É uma hipótese logicamente verosímil, independentemente de se saber se se<br />

realizará e quan<strong>do</strong>. Já vimos que as diferenças entre os povos não podem ser feitas<br />

em termos de "raças" superiores ou inferiores, noções desacredita<strong>da</strong>s e sem qualquer<br />

valor heuristico. As capaci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s nações dependem essencialmente <strong>da</strong> História e<br />

<strong>da</strong>s condições que esta proporciona à eclosão de novas ideias. Se as condi~ões materiais<br />

estiverem reuni<strong>da</strong>s na<strong>da</strong> obsta a que novos contributos culturais e científicos<br />

emanan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s países <strong>hoje</strong> subdesenvolvi<strong>do</strong>s venham valorizar o património <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de.<br />

=Cf. Gudiebaud 2003, op. cit.: 307-308.

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