ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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Desta feita, de uma pena<strong>da</strong>, se reduz to<strong>da</strong> a espessura substancialista acumula<strong>da</strong><br />
por uma noção, forte <strong>da</strong> sua presumi<strong>da</strong> «evidência, a um colossal e intolerável malentendi<strong>do</strong>.<br />
Sem cerimónia ou pie<strong>da</strong>de, se abala uma certeza <strong>do</strong> campo prático que<br />
inúmeras vivências <strong>do</strong> dia-a-dia acreditam compravar e que, no âmbito teórico, uma<br />
profusão de ideologias e de imaginários - <strong>do</strong> Romantismo e <strong>do</strong> Darwinismo Social<br />
ao Pan-Africanismo e à pletora <strong>do</strong>s nacionalismos particulares e às suas manifestações<br />
literárias, artísticas e <strong>do</strong>utrinárias - consagram e celebram pelo mun<strong>do</strong> afora. Mas,<br />
é óbvio que essa categoria e as representações de identi<strong>da</strong>de e de alteri<strong>da</strong>de que ela<br />
alimenta, por dúbias que possam ser, persistem em se aguentar, porque entretanto<br />
elas emanam especialmenente de um senso comum que, obnubila<strong>do</strong> pela . <strong>da</strong><br />
exteriori<strong>da</strong>de física, confirma o atraso culturaln (cultural lag), aponta<strong>do</strong> por Ogbum,<br />
<strong>do</strong>s seus propaga<strong>do</strong>res que ignoram as revelações <strong>do</strong> saber mais elabora<strong>do</strong>. E, aquém<br />
e além de deficiências institucionais designa<strong>da</strong>mente <strong>do</strong> ensino, o hiato se arrasta,<br />
porque as demonstrações <strong>do</strong> alega<strong>do</strong> senso comum fogem à ameasa de desestabili-<br />
zação que o confronto franco com a alteri<strong>da</strong>de envolve e que o esclarecimento<br />
implica<strong>do</strong> na apropriação <strong>do</strong>s desenvolvimentos <strong>da</strong> reflexão filosófica e científica,<br />
que com eles coexistem, seguramente aumenta. Então, como instrumento de inteligi-<br />
bili<strong>da</strong>de de uma razão prática obediente à lei <strong>do</strong> menor esforço, essa pseu<strong>do</strong>noção<br />
biológica - a «raça» - teima, a pretexto <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s fenótipos, em fabricar<br />
diferenças várias que a abor<strong>da</strong>gem desleixa<strong>da</strong> cristaliza nas ideias fixas e redutoras<br />
de si e de outrem que engor<strong>da</strong>m o cliché e a linguagem estereotipa<strong>da</strong> constituintes<br />
<strong>do</strong> preconceito e <strong>da</strong>s narrativas que ele engendra. Na sua quali<strong>da</strong>de de pré-conceito<br />
ou de pré-juízo assentes sobretu<strong>do</strong> em intuição e raciocínio descritivo, tais discursos<br />
convergin<strong>do</strong> no mito, nomea<strong>da</strong>mente nacional ou racial, traduzem uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />
de conhecimento comportan<strong>do</strong> referências e valores condicionantes de atitudes e de<br />
comportamentos que o notório peso emocional, senão a <strong>do</strong>se de narcisismo particular<br />
ou colectivo que não raro o preenche, consoli<strong>da</strong>m à revelia <strong>do</strong>s ditames <strong>da</strong> razão<br />
analítica e experimental.<br />
Como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> acidenta<strong>do</strong> processo de objectivação e de racionalização <strong>da</strong>s<br />
múltiplas expressões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que a moderni<strong>da</strong>de introduziu entre os homens -em<br />
África <strong>da</strong> maneira mais brutal pelo colonialismo -, a «raça" participa entretanto <strong>da</strong><br />
produção <strong>da</strong> nossa identi<strong>da</strong>de pessoal e, muito frequentemente, até colectiva. A<br />
primeira se exibe pelo corpo e se expressa pela subjectivi<strong>da</strong>de que, ao reconhecê-lo<br />
como sinal e ao afirmá-lo transfigura<strong>do</strong> em consciência de si a despeito de mu<strong>da</strong>nças<br />
no tempo, garante a conservação <strong>do</strong> indivíduo enquanto enti<strong>da</strong>de singular. Agora, a<br />
colectiva, grupal ou por exemplo nacional, se caracteriza por perfis sociais e culturais<br />
específicos que inscrevem o indíviduo como componente <strong>da</strong>s configurações variáveis<br />
And Amy GUTMANN Color Conscior