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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Noutras situações, esse papel intermediário, não deixan<strong>do</strong> de ser assumi<strong>do</strong>, é-o<br />

num figurino mais individualista, o que se verificou, por exemplo, em Angola,<br />

aquan<strong>do</strong> <strong>da</strong> liberalização económica (Hodges 2002: 65 e segs.), em que a elite póscolonial,<br />

de que fazem parte mestiços, usan<strong>do</strong> a sua posição na nomenclatura estatal,<br />

pode assenl~orar-se de uma parte considerável <strong>da</strong>s antigas empresas estataisi2.<br />

Trajectórias igualmente individualistas, inscritas embora em matrizes diferentes,<br />

verificam-se no Togo (Guyot 2002), onde os mestiços de origem europeia (poden<strong>do</strong><br />

os pais ser ou não oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s ex-metrópoles) se relacionam de maneira diferencia<strong>da</strong><br />

com a socie<strong>da</strong>de togolesa, consoante o facto de serem filhos de mães ou de pais<br />

europeus. Se os primeiros, i.e., os filhos de mães europeias, tendem, por razões que se<br />

prendem com o papel activo <strong>da</strong>s mães na educação <strong>do</strong>s filhos, a identificar-se mais<br />

com a Europa, os segun<strong>do</strong>s, filhos de pais europeus, educa<strong>do</strong>s pelas mães africanas,<br />

tendem, por seu la<strong>do</strong>, a inscrever os seus destinos em África.<br />

4. Pelo exposto, pode-se concluir que, se o posicionamento social <strong>do</strong>s mestiços<br />

de origem europeiana África sub-saariana é privilegia<strong>do</strong>, essa posição, assim como a<br />

natureza <strong>da</strong> própria mestiçagem, variouno decurso de três conjunturas: a <strong>do</strong> colonia-<br />

lismo arcaico, a <strong>do</strong> colonialismo moderno e a <strong>do</strong> pós-colonialismo.<br />

Um entendimento mais cabal <strong>do</strong> fenómeno levar-nos-ia a comparar a experiência<br />

africana, a esse propósito, com a asiática. Para alguns estudiosos destas matérias será,<br />

porventura, a comparação com o mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Caraíbas a mais plausível. Penso que<br />

não o é pelo simples facto de que neste universo insular estamos em presença de<br />

socie<strong>da</strong>des insulares e de populações que, na sua esmaga<strong>do</strong>ra maioria, são desloca<strong>da</strong>s<br />

ou, talvez melhor, imigrantes. Pelo contrário, a comparação com o mun<strong>do</strong> asiático<br />

tem a vantagem de estarmos em presença de um fenómeno sociológico que, na sua<br />

génese, não é diferente <strong>do</strong> de África, espelhan<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>s identitários passíveis de<br />

serem entendi<strong>do</strong>s como primordiais, servin<strong>do</strong>, aliás, nessa condição de suporte a<br />

ambos os nacionalismos.<br />

Como em África, também na Ásia a mestiçagem e os mestiços representam<br />

fenómenos de alogenei<strong>da</strong>de, parautilizar, mais uma vez, a expressão de Jean François<br />

Bayart (1999). Inscrevem-se, por conseguinte, de uma forma específica, no destino<br />

colectivo <strong>do</strong>s países a que pertencem. No contexto asiático, são igualmente visíveis<br />

as três conjunturas de mestiçagem referi<strong>da</strong>s a propósito de África. Os chama<strong>do</strong>s<br />

"portugueses" de Malaca, <strong>do</strong> Sri Lanka, os macaenses, são alguns exemplos <strong>do</strong>s<br />

processos de mestiçagem, to<strong>do</strong>s de origem portuguesa, aconteci<strong>do</strong>s sob a vigência<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> mercantilista e <strong>do</strong> colonialismo arcaicona Ásia. Os euro-asiáticos de Hong<br />

Kong, os mestiços de Singapura, perfazen<strong>do</strong> um número de cerca de 2% <strong>da</strong> popula$áo<br />

total (<strong>do</strong>s quais muitos são originários de Malaca, i.e., são luso-malaios) inscrevem-<br />

"C1 2 csic rcspeiio o arliso '.Riryir.za iiiu<strong>do</strong>u de ror 0 s nossos milionárioh", piiblica<strong>do</strong> pclui~rnal<br />

A,zgolr3~~sj na sua ediDo de IR dc lanciro de 2C03 Estc arlico - desencadcoii um, pulGmico coni f~rcs<br />

repercussões internacionais que está longe de estar sana<strong>da</strong>.

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