ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
No entanto, apesar <strong>da</strong> inexistência biológica <strong>da</strong>s "raças" humanas, é usual a<br />
utilização <strong>do</strong> conceito de "raça" como construção social e política8. Certos investiga-<br />
<strong>do</strong>res propuseram mesmo a noção de "rnçn socinl" de maneira a pôr em evidência o<br />
carácter construí<strong>do</strong> e não biológico desse termo, admitin<strong>do</strong> ao mesmo tempo que<br />
"raça", como conceito analítico (político e social), é uma varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> etnicirlnde. Como<br />
assinala ain<strong>da</strong> Martiniello, a etnici<strong>da</strong>de não é uma questão de parentesco e de<br />
ascendência biológica, mas antes uma questão de construção social e política. É, por<br />
conseguinte, uma variável e não uma característica imutável <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />
Por essa razão, muitos investiga<strong>do</strong>res sustentam que mais vale raciocinar em<br />
termos de "identificaçZo étizica" <strong>do</strong> que em termos de "identi<strong>da</strong>de étnica", pelo que devem<br />
ser rejeita<strong>da</strong>s tanto as teorias naturalistas que reduzem o social ao biológico ou ao<br />
natural, como as teorias sociobiológicas que, no fun<strong>do</strong>, pela sua inconsistência episte-<br />
mológica e pelo seu conteú<strong>do</strong> "não refutável" (no senti<strong>do</strong> de Karl Popper) implicam<br />
uma renúncia às próprias ciências sociais como instrumento de análise.<br />
Na sua acepção mais corrente, o conceito de "racismo" é ain<strong>da</strong> mais precário e<br />
impreciso <strong>do</strong> que o termo que lhe dá etimologicamente origem, não só porque<br />
filosoficamente enviesa as concepções de identi<strong>da</strong>de e de pertença que pretende<br />
reivindicar, mas também porque, ao transformar-se num instdmento de rejeição <strong>do</strong><br />
outro, introduz uma ruptura no seu próprio discurso que passa a fazer-se como que<br />
em "circuito fecha<strong>do</strong>", ciija lógica circular reside, em última análise, numa violência<br />
que acaba por ser auto-destrui<strong>do</strong>ra , como aconteceu com o nazismo na Europa e o<br />
Apartheid na África <strong>do</strong> Sul.<br />
Michel Wieviorka escreve que o racismo deixou de poder reclamar-se <strong>da</strong> ciência,<br />
procuran<strong>do</strong> <strong>hoje</strong> "a sua legitimi<strong>da</strong>de sobretu<strong>do</strong> em termos culturais, o que o toma<br />
mais inquietante", e acrescenta que quanto mais as identi<strong>da</strong>des culturais particulares<br />
se desenvolvem, mais o espaço <strong>do</strong> racismo se renova e alarga em proveito <strong>da</strong>s suas<br />
versões de <strong>do</strong>minante diferencialistaq. A esse propósito podem talvez evocar-se os<br />
exemplos, entre outros, <strong>da</strong> Jugoslávia ou de certos países africanos onde a manipulação<br />
de particularismos multiculturalistas é sobretu<strong>do</strong> um pretexto para a conquista de<br />
poder de determina<strong>da</strong>s facções, mesmo à custa de genocídios friamente executa<strong>do</strong>s<br />
(Argélia, Rwan<strong>da</strong>, Sudão, Libéria, Congo, etc.P0 ou de expulsões brutais de minorias<br />
étnicas (originários <strong>da</strong> índia no Ugan<strong>da</strong> por exemplo) ou de nacionali<strong>da</strong>de estrangeira.<br />
É certo que isto é susceptível de atingir to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des, tanto dentro como<br />
fora <strong>da</strong> Europa", pois nenhuma nação está ao abrigo de tais excessos com base em<br />
falsas razões de ehia, "raça", religião, cultura ou nacionali<strong>da</strong>de.<br />
. . .<br />
nppnrfcnnnce ethniqire, Paris, i~armattan, 2605.<br />
" No que concerne à Eurapa, basta relembrar a massacre <strong>do</strong>s judeus pelos nazis, <strong>do</strong>s arménios na<br />
Turquia e, mais recentemente, <strong>do</strong>s bósnios na Jugoslávia.