20.04.2013 Views

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

culturais que a espontânea fluidez <strong>da</strong> interaccção estabelecia. Outra coisa não dizem<br />

sociólogos modernos, como François Bayart ao criticar a «ilusão <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>de~n?~<br />

Inspira<strong>do</strong> em Foucault e em alusão à epígrafe grava<strong>da</strong> por Eric Hobsbawm e<br />

Terence Ranger <strong>da</strong> ninvenção <strong>da</strong> tradição », Mudimbe, em obra que provocou bra<strong>do</strong><br />

no meio <strong>do</strong>s africanistas e de círculos afectos ao continente negro, fala <strong>da</strong> ninvenção<br />

de África» realiza<strong>da</strong> pelos europeus e recapitula<strong>da</strong> ingenuamente pelos próprios<br />

africano^?^ O brilhante estudioso congolês sustenta que o aparelho conceptual, através<br />

<strong>do</strong> qual se persiste em perceber e representar a África, não só lhe foi outorga<strong>do</strong>, em<br />

seu detrimento, abusiva e violentamente pela Europa, como também prejudica muitos<br />

<strong>do</strong>s seus interesses vitais. Mudimbe argumenta que o discurso sobre as reali<strong>da</strong>des<br />

africanas se gerou inicialmentenas «margens <strong>do</strong>s contextos africanosa, o que àparti<strong>da</strong><br />

amputou e iuquinou o seu alcance, depois, tanto aos seus eixos, quanto a sua linguagem<br />

têm si<strong>do</strong> limita<strong>do</strong>s pela autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua exteriori<strong>da</strong>de., o que lhe retira consistência<br />

e confere um cariz bastante artifici~so.'~ Não obstante os pesadumes dessa<br />

distorção, já nos anos trinta <strong>do</strong> século XX se tomou visível no Ocidente uma tími<strong>da</strong><br />

mu<strong>da</strong>nca de tom face ao negro e às suas obras, porém, apenas no decurso <strong>do</strong>s decénios<br />

de 50 e em especial de 60 e 70 se operou nas ciências sociais produzi<strong>da</strong>s em suas<br />

escolas uma alteração de paradigrna de percepção e de representação que as armasse<br />

de uma perspectiva mais apta a vê-los de um ângulo mais justo e dignifi~ante.'~<br />

No entanto, por desgraça, esta revolução epistemológica resta submeti<strong>da</strong> a<br />

constrangimentos vários que, não poupan<strong>do</strong> sequer os interessa<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> não os<br />

deformam e por vezes até à caricatura, estorvam ou impedem a divulgação <strong>do</strong>s seus<br />

ensinamentos para além de uma minoria. De to<strong>do</strong>s os mo<strong>do</strong>s, como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

delica<strong>da</strong> relação entre o próprio e o alheio, o africano moderno, não consegue dizerse<br />

sem recurso a instrumentos, in<strong>do</strong> <strong>da</strong> linguagem ao pensamento, que até se<br />

integra<strong>do</strong>s em formas de expressão rotula<strong>da</strong>s de «africanas., não deixam de conter<br />

uma inconfortável desproporção de alteri<strong>da</strong>de que torna to<strong>da</strong>via mais árduo o<br />

achainento de vias que logrem equacionar e solucionar a multidão de problemas que<br />

o afligem.<br />

Estes comentários, que poderão soar desproposita<strong>do</strong>s, não transbor<strong>da</strong>m de jeito<br />

nenhum para fora <strong>do</strong> quadro desta comunicação porque no contexto <strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!