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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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<strong>da</strong>de <strong>da</strong> expressão não somente a partir <strong>do</strong> tratamento de uma nova língua ain<strong>da</strong><br />

não assimila<strong>da</strong> e logo recria<strong>da</strong>. Especialmente surpreendentes tornam-se os contornos<br />

estéticos desse tratamento iniciático, o desenho impressionista tanto de manifestações<br />

comportamentais como sentimentais e em que o caricatura1 vai de par com o trágico<br />

e com o cómico. Também a sereni<strong>da</strong>de face à tragédia. Não menos surpreendente é a<br />

capaci<strong>da</strong>de manifesta<strong>da</strong> de administração de uma grande diversi<strong>da</strong>de de temas.<br />

Por detrás de simplici<strong>da</strong>de, talvez mesino de uma infantili<strong>da</strong>de aparente, o leitor<br />

atento ao meio social e à mentali<strong>da</strong>de envolventes descobre no conjunto <strong>do</strong>s escritos<br />

uma riqueza insuspeita<strong>da</strong> tanto pela reali<strong>da</strong>de ontológica que encerra como pela<br />

morfologia de que se reveste.<br />

Deste acervo <strong>do</strong>cumental foi publica<strong>da</strong> uma antologia1.<br />

A totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cartas é <strong>da</strong> ordem <strong>do</strong>s milhares, procedentes <strong>do</strong>s pontos mais<br />

diferencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> país. Os subscritores, na sua generali<strong>da</strong>de, dispõem de uma escolari-<br />

<strong>da</strong>de sudimentar que nunca ultrapassa o ensino primário elementar. Podemos dizer,<br />

afoitamente, que é a voz <strong>do</strong> povo. Um povo subjuga<strong>do</strong>, mas um povo relativamente<br />

ao qual os acontecimentos c<strong>ontem</strong>porâneos denunciaram uma conscientização política<br />

de que esta correspondência é um prenúncio.<br />

Os enuncia<strong>do</strong>s sob que foram agrupa<strong>da</strong>s as cartas publica<strong>da</strong>s denunciam o ca-<br />

rácter sociológico <strong>do</strong>minante nas preocupações <strong>do</strong>s subscritores:<br />

1 Das relações clânicas para a amizade individual<br />

2 Um mun<strong>do</strong> afectivo diferente<br />

3 De uma moral tribal para uma outra moral<br />

4 O clã não acabou mas já aí está a familia<br />

5 De uma socie<strong>da</strong>de comunitária para as empresas de finali<strong>da</strong>de lucrativa<br />

6 Em pátria ocupa<strong>da</strong><br />

7 A vi<strong>da</strong> na tragédia <strong>do</strong> dia a dia<br />

Ao longo <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong> <strong>do</strong>cumentação patenteia-se o impacto <strong>do</strong> encontro de culturas<br />

e de conflitos inerentes. Podemesmo dizer-se que temos por diante uma frente conflituosa<br />

intensa e extensa que atinge os indivíduos, as famílias, as formações sociais em crise de<br />

mutação profun<strong>da</strong> e inevitavelmente as mentali<strong>da</strong>des. Conflitos físicos, sociais e mentais.<br />

Deste panorama conflituoso emerge não só a visão de um outro, bem demarca<strong>do</strong>, mas<br />

também a manifestação de uma consciência social e política.<br />

Em meio social como aquele em que se desenrolou o processo em causa não<br />

podia deixar de estar presente a visão <strong>do</strong> outro. Naquilo que a tal respeito consta <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>cumentação privilegiaria <strong>do</strong>is sujeitos: o colono (no senti<strong>do</strong> de coloniza<strong>do</strong>r) e os<br />

seus colaboracionistas (bem personifica<strong>do</strong>s no sipni2). Dois protagonistas de uma cena<br />

' Moçambique pelo seu Povo-Cartas i «Voz Africana*, selecção, prefácio e notas de José Capela,<br />

<strong>Porto</strong>, 1971.<br />

2S@j - designação importa<strong>da</strong> <strong>da</strong> India e aplica<strong>da</strong> ao aju<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> policia. 0s constituíam os<br />

Corpos policiais no interior <strong>da</strong> colónia.

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