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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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prática de recuar 1400 anos na história, impon<strong>do</strong> de novo o Califa<strong>do</strong> e o regresso às<br />

práticas de uma era definitivamente obsoleta e que não se pode repetir, e negan<strong>do</strong>,<br />

enfim, qualquer valor ao pensamento livre e racionalista sem os quais a ciência e a<br />

cultura estiolariam irremediavelmente.<br />

Arelação com o passa<strong>do</strong> é pois uma relação fun<strong>da</strong><strong>do</strong>ra para o islamismo radical.<br />

A tradição determina o presente e ignora o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> futuro. O futuro é apenas a<br />

ressuscitação <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Mesmo os avanços <strong>da</strong> ciência, cuja evidência concreta é<br />

difícil recusar, são, na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, vistos apenas como a confirmação <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>gmas sagra<strong>do</strong>s ou pura e simplesmente ignora<strong>do</strong>s, como o físico paquistanês Pervez<br />

Hoodbhoy revelou ao denunciar professores de universi<strong>da</strong>des paquistanesas que<br />

ain<strong>da</strong> ensinavam (em 1991) a teoria geocêntrica como ver<strong>da</strong>deira e negavam a teoria<br />

heliocêntrica como contrária às escrituras sagra<strong>da</strong>s 48...<br />

Esta postura está no ceme <strong>do</strong> pensamento islamita. Para os islamitas a teologia,<br />

a ética e a lei islâmica (Chária) derivam directamente desta maneira "tradicionalista"<br />

de ver as coisas e a vi<strong>da</strong> e a que o indivíduo está "naturalmente" submeti<strong>do</strong>, na<br />

medi<strong>da</strong> em que o Islão não c<strong>ontem</strong>pla a valorização <strong>do</strong> indivíduo mas impõe a sua<br />

sujeição em proveito de um to<strong>do</strong> que lhe é exterior. O indivíduo não é um fim, mas<br />

tão só um meio para a salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> fé através <strong>da</strong> Umma (comuni<strong>da</strong>de).<br />

Essa <strong>do</strong>utrina dá lugar a um tipo de "rncionnlidnde" exterior à racionali<strong>da</strong>de<br />

individual. O indivíduo não é o ver<strong>da</strong>deiro actor <strong>da</strong> história. Tem apenas um papel<br />

de segun<strong>do</strong> plano nessa história. A sua acção é, portanto, determina<strong>da</strong> por uma<br />

ver<strong>da</strong>de transcendental que o ultrapassa. Nessas condições, o "homem ideal" a que<br />

chamam por vezes o "homo islnmiczrs" é o que representa a submissão total a Deus,<br />

aos preceitos sagra<strong>do</strong>s, a uma religiosi<strong>da</strong>de afinal mutila<strong>da</strong>. No centro <strong>do</strong> islamismo<br />

político, onde o político é manipula<strong>do</strong> pelo religioso, está o conceito de jihad ("guerra<br />

santa" ou, mais exactamente, "guerra legal"). Acorrente sufista, desde o século XI, e<br />

certos autores c<strong>ontem</strong>porâneos, procuram alargar o conceito de jihnd, definin<strong>do</strong>-o<br />

antes demais como "umcombate interior contra as paixões e uma etapa indispensável<br />

para aceder à união mística", mas a opinião que prevalece considera em geral a jihnd<br />

como a acção arma<strong>da</strong> que visa o triunfo <strong>da</strong> Islão contra ocidentais "infiéis" e dirigentes<br />

muçulmanos seus alia<strong>do</strong>s49.<br />

Estamos perante uma situação semelhante à que já existiu na Europa ocidental<br />

nos séculos XII-XIII e que o Renascimento quebrou no século XVI. Com uma diferença<br />

fun<strong>da</strong>mental que J.C. Guillebaud relembra: "no catolicismo ou no protestantismo o<br />

recurso à violência era claramente identificável com uma deriva ou como uma trniçtio<br />

temporal. A sua condenação e a sua rejeição não colocam problemas <strong>do</strong>utrinais<br />

particulares (...). Não acontece o mesmo com o Islão que, desde a origem (...) não<br />

manifesta nenhuma reticência em relação à guerra (...). Apacificação <strong>do</strong> termo jihnde

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