20.04.2013 Views

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O raciochio não é muito diferente <strong>do</strong>s conceitos de contaminação étnica (anos<br />

30) e limpeza étnica (anos 90 na ex-Jugoslávia), embora apresente um referencial<br />

diferente: antes era raça agora é a cultura.<br />

Estamos na linha <strong>do</strong> relativismo cultural (ou <strong>do</strong> culturalismo americano) que fez<br />

época como reacção às teorias racistas e se apresenta <strong>hoje</strong> numa perspectiva triunfalista<br />

e isolacionista trazen<strong>do</strong> implícito um relativismo moral e cognitivo que leva, no limite,<br />

ao diferencialismo absoluto, a naturalização <strong>da</strong> xenofobia e, por fim, à própria negação<br />

<strong>da</strong> partilha de uma natureza comum a to<strong>do</strong>s os humanos (ver MARQUES, 2000).<br />

O multiculturalismo (cheio de boas intenções) tem veicula<strong>do</strong> muitos suportes a<br />

estes novos racismos de matriz cultural e às «identi<strong>da</strong>des assassinas>, (MAALOUF,<br />

1999) <strong>do</strong>s nossos dias.<br />

Não falta sequer uma componente ju<strong>da</strong>ico-cristã neste messianismo cultural,<br />

até porquese é indiscutívelque oessencial <strong>da</strong> mensagem cristãé o .cagapé,, desalvacão<br />

para to<strong>do</strong>s, continua a militar a ideia que «os deuses <strong>do</strong>s pagãos são demónios» (ver<br />

PINA - CABRAL, 1992), e esta demonização recria uma espécie de raças culturais<br />

que, não sen<strong>do</strong> superiores nem inferiores (como o racismo clássico pretendia), são<br />

diferentes e por isso privilegia a diferença a tal ponto que a essencializa, produzin<strong>do</strong><br />

constantemente minorias étnicas e reforçan<strong>do</strong> até ao limite a dinâmica <strong>do</strong>s processos<br />

identitários.<br />

Já não é apenas o evitar <strong>da</strong> assimilação em que os grupos minoritários se<br />

«perderiam» nas grandes comuni<strong>da</strong>des, mas a recusa de qualquer forma de partiiha<br />

cultural para preservar nd eternum a identi<strong>da</strong>de cultural.<br />

To<strong>do</strong>s os grupos humanos que sobreviveram até <strong>hoje</strong> evoluí~am no tempo<br />

partilhan<strong>do</strong> genes, características físicas e «artes de sobrevivência^^ (MORGAN, 1877)<br />

e é suposto admitir que se houve linhas puras quer no senti<strong>do</strong> biológico quer no<br />

aspecto cultural, essas lias puras há muito se extinguiram. Interrogan<strong>do</strong>-se sobre a<br />

origem <strong>da</strong> exogamia nas práticas <strong>do</strong> casamento, TYLOR (1889) ensaia uma teoria<br />

sobre os gmpos humanos primordiais que aparecen<strong>do</strong> em diferentes pontos <strong>da</strong> terra<br />

(o registo fóssil actual não contraria, favorece antes a ideia de diferentes ber~os <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de) ter-se-iam confronta<strong>do</strong> com um dilema sempre que novos grupos se<br />

encontraram: «to marry out or be killed out» é a hipótese vigorosa de Tylor em que<br />

mais tarde C. LEVI-STRAUSS, (1946) viria a fun<strong>da</strong>mentar o seu raciocinio para explicar<br />

a proibição <strong>do</strong> incesto como reverso <strong>da</strong> me<strong>da</strong>lha <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de reciproci<strong>da</strong>de e<br />

aliança (ou seja o amarry outn de Tylor). Não é preciso ir muito longe na especulayão<br />

sobre teorias antropológicas para entender que as estratégias de cooperação (via<br />

aliancas matrimoniais, culturais ou outras) são construtivas porque inova<strong>do</strong>ras. A<br />

outra alternativa (~be killed out.) não tem história.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!