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ontem e hoje - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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RACISMO, ISLAMISMO POLIIICO E MODERNIDADE<br />

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i 27<br />

um único critério que utiliza, por assim dizer, a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> força em vez <strong>da</strong> força<br />

<strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de'?.<br />

Guillebaud escreve que este fun<strong>da</strong>mentalismo "é dificilmente sustentável na<br />

medi<strong>da</strong> em que a 'Revelação'é tributária <strong>da</strong> tradição que transmitiu os livros sagra<strong>do</strong>s<br />

e <strong>do</strong> trabalho exegético que constantemente os interpreta. Isso quer dizer que os textos<br />

estão vivos e que pertence aos crentes questioná-los de geração em geraçã~'"~. A<br />

unilaterali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentalistas impede justamente qualquer tipo de diálogo<br />

nessa dinâmica <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de, que é uma característica fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de<br />

e <strong>do</strong> desenvolvimento, conceitos que exigem "abertura", a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de e uma<br />

dinâmica em movimento.<br />

Se essa "abertura" (à mu<strong>da</strong>nça, à tolerância, ao diálogo e ao movimento) não se<br />

efectivar, nenhum <strong>da</strong>queles objectivos terá correspondência na acção, tanto mais que<br />

não há desenvolvimento sem moderni<strong>da</strong>de nem tão pouco moderni<strong>da</strong>de sem<br />

desenvolvimento, na medi<strong>da</strong> em que <strong>do</strong>is princípios constitutivos estão presentes<br />

em ambos: a crença na razão e na acção racional e o reconhecimento <strong>do</strong>s direitos<br />

universais <strong>do</strong> indivíduo, quer dizer a afirmação de um universalismo que dá a to<strong>do</strong>s<br />

os indivíduos os mesmos direitosI9, sem que nos coloquemos numa perspectiva<br />

etnocêntrica nem confun<strong>da</strong>mos "universalismo" com "ocidentalismo".<br />

O progresso resultante <strong>da</strong> conjugação <strong>da</strong>quelas duas vertentes (desenvolvimento<br />

e modemi<strong>da</strong>de) depende de um debate livre com base no racionalismo que constitui<br />

um <strong>do</strong>s seus elementos fun<strong>da</strong>mentais e é ao mesmo tempo um compromisso com o<br />

crescimento e a inovação contínuos. J. Habermas observa que temos "de remontar a<br />

Hegel se quisermos compreender o que significou a relação interna entre (...) modemi-<br />

<strong>da</strong>de e racionali<strong>da</strong>de, ti<strong>da</strong> como evidente até Max Weber e <strong>hoje</strong> posta em questão"20.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a chama<strong>da</strong> globaliznçio é <strong>hoje</strong> uma plataforma onde podem<br />

assentar essas duas dinâmicas apesar <strong>da</strong> controvérsia que o conceito suscita e que<br />

continua relativamente mal esclareci<strong>do</strong>. Por isso é necessário enunciar previamente<br />

que a globalização não é, a meu ver, uma "conspiração" como demasia<strong>da</strong>s vezes se<br />

tem afirma<strong>do</strong>, mas tão somente um "processo" com múltiplas variantes (tecnológica,<br />

científica, financeira, cultural) cujo alcance e significa<strong>do</strong> dependem <strong>da</strong>s políticas <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s no plano internacional: políticas económicas, estratégias político-militares,<br />

comércio, relações intemacionais, etc. Assim, o pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> influência neoliberal<br />

na globaliuação existe, não por uma inevitabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> destino ou por uma qualquer<br />

"lei <strong>da</strong> natureza", mas porque, nos diversos países e nas instituições internacionais<br />

que estes controlam, o neoliberalismo tem actualmente a supremacia ideológica nas<br />

" Vd. a importante discussão cientiíica que Abou Zeid tentou abrir sem sucesso no Egipto e pela<br />

qual foi duramente persew<strong>da</strong>. Cf. Zeid (Naçr Abau), Critiqire dtr diçcor~rs re1igieit.r. Paris, Sindbad, 1999.<br />

"Cf. Guillebaud 2003,oa cit.: 310.<br />

Cf. Alain Touraine 2005, op. cit.: 121-122<br />

" Cf. Jürgen Habermas, O discursofilosófico <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, had. port., Lkboa, Dom Quixote, 3'ed.<br />

2000: 16

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