Variedades Regionais e Agricultura Biológica - DRAP Centro

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podem ter na alimentação da população portuguesa, na qual as doenças ditas da civilização têm já peso significativo, as quais além das consequências sobre a saúde dos indivíduos, acarretam elevados encargos financeiros para estes últimos e para o Estado, questões já abordadas anteriormente. A caracterização aprofundada das variedades regionais ainda existentes no país, em grande número e diversidade, permitiria a escolha das mais adequadas a uma alimentação saudável. Outras acções deveriam ser empreendidas, nomeadamente no que respeita à sua selecção e melhoramento e à utilização do modo de produção biológico. A selecção de clones das variedades regionais com maior interesse comercial é tarefa prioritária, à semelhança do que se fez para a Bravo. O seu melhoramento deveria ser incentivado, abrangendo também critérios nutricionais. No estado actual do conhecimento e face ao número pouco expressivo de dados comparativos sobre o teor em fitoquímicos dos produtos biológicos e da agricultura convencional, é difícil tirar conclusões definitivas em relação a esta questão, com excepção do que se passa com os polifenóis. Em relação a estes compostos os resultados obtidos mostram que os polifenóis se acumulam mais nos produtos biológicos (AFSSA, 2003, pp. 46-48, 122-123). Esta conclusão é coerente com os mecanismos de defesa das plantas face a condições de stress (AFSSA, 2003, pp 45-46; Macheix et al., 2006, pp. 17-18), as quais têm maior expressão no modo de produção biológico comparativamente à agricultura convencional. No entanto, quando se comparam os valores dos polifenóis entre produtos da agricultura biológica e da agricultura convencional esquece-se muitas vezes a influência relativa dos diversos factores que intervêm na formação dos polifenóis na planta, sintetizada no quadro 10. A importância da variedade é claramente superior à dos outros factores considerados (estado de maturação, temperatura, luz e adubação azotada), na acumulação dos polifenóis na planta (AFSSA, 2003, p.46). Já anteriormente evidenciámos o papel chave da variedade em todo este processo. Quadro 10. Factores que influenciam a formação dos polifenóis na planta Compostos Variedade Estado de maturação Luz Temperatura Adubação azotada Polifenóis +++ + ++ ? - +++ a +: altas a baixas variações; -:variação negativa; ?: dados insuficientes Fonte: AFSSA, 2003, p. 46. O comentário que acabamos de fazer tem consequências práticas no que respeita ao interesse do modo de produção biológico em fruticultura. Com efeito, se o que está em causa é a produção de maçãs saudáveis, quer no que respeita à toxicidade, quer ao valor nutricional, este desiderato pode ser concretizado por duas vias, a saber: fruticultura em produção convencional, utilizando a técnica da protecção integrada e fruticultura em modo de produção biológico. O resultado vai depender da variedade escolhida, pois como vimos, os teores em polifenóis divergem segundo as variedades, quer sejam regionais, quer exóticas. A sobrevalorização da fruticultura biológica, sem dar a devida atenção à escolha da variedade, pode naturalmente conduzir a resultados inferiores aos obtidos em fruticultura convencional, com utilização da protecção integrada. Basta que no segundo caso tenha sido eleita uma variedade caracterizada 132
por apresentar altos valores em polifenóis e no primeiro escolhida uma variedade com teores médios-baixos destes compostos. O aumento de polifenóis devido ao modo de produção biológico pode ser insuficiente para se atingirem os valores típicos das variedades mais ricas. A variedade evidencia-se, assim, como factor determinante no futuro das variedades regionais. A caracterização deve incidir sobre os clones disponíveis, quer ao nível do fruto (nomeadamente análise sensorial, riqueza nutricional, actividades antioxidante e biológica), quer da planta (caracterização agronómica). Na realidade, não só se desconhecem as características da maioria dos clones, como também se sabe a partir dos dados disponíveis para alguns clones que existe variabilidade significativa entre eles. Referências Bibliográficas Agence Française de Sécurité Sanitaire des Aliments (AFSSA) (2003), Evaluation nutritionnelle et sanitaire des aliments issus de l´agriculture biologique, Maisons-Alfort. Aprikian, O.; Busserolles, J.; Manach, C. (2002), “Lyophilized apple counteracts the developement os hypercholesterolemia” J Nutr, 132. Barros, Henrique de; Graça, L. Quartin. (1960), Árvores de Fruto, Lisboa. Bender, F. E; Douglass, L. W.; Kramer A. (1982), Statistical Methods for Food & Agriculture, Connecticut, University of Maryland. Boier, J. ; Liu; R. H. (2004), “Apple phytochemicals and their health benefit”, J Nutr. Camp, J.V.; Anthierens, K.; Huyghebaert, A. (2002), “Aspects technologiques des aliments fonctionnels” in Aliments fonctionnels (Marcel B. Roberfroid, coordonateur), Paris, Lavoisier. Esterbauer, H.; Striegl, G.; Publ, H.; Rotheneder, M. (1989), “Continuos monitoring of in vitro oxidation of human low density lipoprotein”, Free Radic Res Commun, 6:67. Jiang, F.; Dusting, G. J. (2003), “Natural phenolic compounds as cardiovascular therapeutics: potential role of their antiinflammatory effects”, Curr Vasc Pharmacol; 1 Edição: 2 Páginas: 135-56. Liu, R.H., (2004a) “Potential synergy of phytochemicals in cancer prevention: mechanism of action”, J Nutr, 134 Edição: 12 Suppl Páginas: 3479S-3485S. Liu, R. H., “Synergy of phitochemicals”, International Research Conference Food Nutrition and Cancer, 2004 b. Louise, I.; Mennen, D. S.; Bree, A.; Arnault; A. (2004) “Consunption of foods rich in flavonoids is related to a decreased cardovascular risk in apparently healthy french women”, Nutr Epidem. Macheix, J.J.; Fleurit, A.; Sarni-Manchado, P. (2006), “Composés phénoliques dans la plante-Structure, biosynthèse, répartition et rôles” in Les polyphénols en agrialimentaires, Paris, Lavoisier. McCann, M.J.;Gill, C.I.;O’ Brien, G.;Rao, J.R.;McRoberts, W.C.;,Hughes, P.;McEntee, R.;Rowland, I.R. (2007), “Anti-cancer properties of phenolics from apple waste on colon carcinogenesis in vitro”, Food Chem Toxicol, 45 Edição: 7 Páginas: 1224-30. MojzisovÃ¡, G.;Kuchta, M. (2001), “Dietary flavonoids and risk of coronary heart disease”, Physiol Res; 50 Edição: 6 Páginas: 529-35 . Ou, B.; Hampsch-Woodill, M.; Prior, R.L. (2001), “Development and validation of an improved oxygen radical absorbance capacity assay using fluorescein as the fluorescent probe”, Journal of <strong>Agricultura</strong>l and Food Chemistry, 49 (10): 4619-4626. Ruetsch, O. (2000), Aliments fonctionnels: approche japonaise, Paris, Agence pour la Diffusion de l´Information Technologique. Singleton, V. L.; Rossi, J. A. (1965), “Colorimetry of total phenolics with phosphor-molybdicphosphotungstic acid reagents”, Am. J. Enol. Vitic., 16, 144-158. Total Dietary Fibre Assay Procedure, (2004), K-TDFR 01/05, Megazyme International Ireland Limited. www.ine.pt www.min-saude.pt 133 Capítulo 3 - Qualidade alimentar e mercado
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