Variedades Regionais e Agricultura Biológica - DRAP Centro
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Preservação e valorização das variedades de pomóideas regionais<br />
Conhecer e preservar o património genético de pomóideas em Portugal é já uma<br />
preocupação antiga entre os técnicos de fruticultura lusos. Joaquim Rasteiro, aquando<br />
do 2º Congresso Nacional de Pomologia, que decorreu em Alcobaça em 1926, dizia:<br />
“É mais que necessário, é urgente ocuparmo-nos da nossa flora pomícola. Dentro<br />
de poucos anos estará perdida a noção da maior parte das nossas variedades, tal é,<br />
por um lado, o desprêzo que se vota, trazendo o seu abastardamento, e, por outro,<br />
a propagação de variedades estranhas que, importadas e espalhadas quási sem<br />
critério de escolha e adaptabilidade, se misturam com as indígenas, estropiandose-lhes<br />
os nomes ou designando-se por denominações incaracterísticas derivadas<br />
da procedência – pera francesa, ameixa japonesa, maçã americana, etc.” (Rasteiro,<br />
1932).<br />
Mais surpreendente ainda é o facto de, já em 1879, no 1º Congresso Pomológico,<br />
ter sido dito por Duarte d’Oliveira que “a pomologia em Portugal era um caos, um<br />
labirinto que cada dia se ia multiplicando mais; que a confusão aumentava de instante<br />
para instante, que mais um momento e a pomologia portuguesa seria um verdadeiro<br />
Babel. … É pois urgentíssimo que acordemos desse sono letárgico e que estudemos a<br />
nossa pomologia” (Rasteiro, 1932).<br />
Recuando ainda mais no tempo encontramos em Sousa (1875) o seguinte<br />
comentário: “não tratarei das pereiras propriamente portuguezas, que são poucas,<br />
nem das estranhas aportuguezadas, já pela diuturnidade do tempo, que não são<br />
muitas, porque seria inútil dizer d’ellas aquillo que todos sabem. Como porém têem<br />
sido importadas, há poucos anos, aos milhares, pereiras estrangeiras boas e más cujos<br />
nomes os compradores deixaram perder por desleixo, criando tal desordem e confusão<br />
com que ninguém se entende, pareceu-me muito conveniente apresentar uma lista de<br />
100 variedades de pereiras estrangeiras de primeira ordem em relação ao seu volume<br />
e boas qualidades, de 50 maceeiras e 15 pecegueiros, descrevendo-as com todos<br />
os seus caracteres, não só para poderem destrinçar as suas, os que as tiverem sem<br />
nomes, mas para facilitar as escolha áqueles que quizerem formar novos pomares”.<br />
Este mesmo autor narra um facto curioso que aqui transcrevemos, não apenas pelo<br />
seu aspecto caricato, mas principalmente para ilustrar a situação que já na altura se<br />
vivia e preocupava quem se interessava minimamente pelo assunto: “Vem aqui a pello<br />
narrar um facto que ha pouco tempo me aconteceu em relação ao que acabo de dizer.<br />
No Outono próximo passado visitei um amigo que me convidou a vêr a sua quinta.<br />
Encontrei uma profusão de pereiras espantosa, talvez mais de quatrocentas; umas<br />
de que já se tinha comido os fructos e outras ainda com elles pendentes. Passeámos,<br />
vimos e provámos: – de vez em quando perguntava-lhe eu: – Como se chama esta bella<br />
pêra? Não sei o que é, respondia elle. Mais adiante tornava eu a perguntar: – Como<br />
se chama esta bella pêra? Não sei o que é, respondia elle. Continuávamos a passear,<br />
e vendo eu uma mui grande e formosíssima pêra, pasmado para ella perguntei-lhe: –<br />
Como se chama esta maravilha? Não sei o que é, respondeu elle. Quando recolhemos<br />
a casa do nosso passeio, perguntou-me elle: Então que lhe parece o meu pomar?<br />
Magnífico, respondi eu, o que me admira porém é que um homem tão curioso cultive<br />
em tão grande escala a pêra Não sei o que é, despresando as variedades superiores<br />
das chamadas portuguezas e das francezas recentemente introduzidas. Sorriu-se,<br />
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