boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
dependente.<br />
O auxílio-reclusão é devido aos dependent<strong>es</strong> do segurado recolhido à prisão. O inciso IV do art. 201 da Constituição<br />
<strong>Federal</strong> <strong>es</strong>tabelece que a previdência social atenderá, nos termos da lei, ao auxílio reclusão para os dependent<strong>es</strong> dos<br />
segurados de baixa renda.<br />
Deveras, para fins de conc<strong>es</strong>são de auxílio-reclusão, a renda mensal bruta era limitada, nos termos do art. 13 da EC nº<br />
20/98, em R$ 360,00, em dezembro de 1998 (com atualizaçõ<strong>es</strong> posterior<strong>es</strong>), corr<strong>es</strong>ponde ao último salário-de-con<strong>tr</strong>ibuição<br />
recebido pelo segurado instituidor do benefício. Posicionamento já consolidado pelo STF (Pleno, RE nº 587.365/SC, com<br />
repercussão geral, julgado em 25.03.2009).<br />
O magis<strong>tr</strong>ado a quo aplicou corretamente a legislação vigente. En<strong>tr</strong>etanto, ao apurar a compatibilidade do salário do<br />
segurado pr<strong>es</strong>o, como se observa na sentença de fls. 66/70, o juiz sentenciante utilizou parâme<strong>tr</strong>o referente ao mês de abril<br />
de 2007, quando deveria ter utilizado o limite vigente no momento da reclusão.<br />
No caso, considerando que o segurado instituidor do auxílio-reclusão foi recolhido à prisão no dia 30/11/2005 (fl. 15), e<br />
levando em conta que o valor do seu último salário-de-con<strong>tr</strong>ibuição corr<strong>es</strong>ponde a R$ 642,60 (fl. 30) em outubro de 2005,<br />
afigura-se improcedente o pedido de conc<strong>es</strong>são de auxílio-reclusão, tendo em vista que a sua renda mensal bruta era<br />
superior àquela válida para a época do recolhimento à prisão (R$ 623,44 - art. 05 da Portaria MPS nº. 822, DE 11 DE MAIO<br />
DE 2005 - DOU DE 12/05/2005).<br />
No mais, cumpre regis<strong>tr</strong>ar que, de fato, segundo decorre da interpretação literal e teleológica do art. 201, IV, da Constituição<br />
Republicana, a renda do segurado pr<strong>es</strong>o é que a deve ser utilizada como parâme<strong>tr</strong>o para a conc<strong>es</strong>são do benefício e não a<br />
de seus dependent<strong>es</strong>. Tal compreensão se ex<strong>tr</strong>ai da redação dada ao referido dispositivo pela EC 20/1998, que r<strong>es</strong><strong>tr</strong>ingiu o<br />
universo daquel<strong>es</strong> alcançados pelo auxílio-reclusão, a qual adotou o critério da seletividade para apurar a efetiva<br />
nec<strong>es</strong>sidade dos beneficiários (Precedente do STF, com repercussão geral: STF, RE 587365/SC, Relator Min. RICARDO<br />
LEWANDOWSKI, j. 25/03/2009, Tribunal Pleno, maioria).<br />
O art. 13 da EC n. 20/98, por seu turno, revela que “até que a lei discipline o ac<strong>es</strong>so ao salário-família e auxílio-reclusão<br />
para os servidor<strong>es</strong>, segurados e seus dependent<strong>es</strong>, <strong>es</strong>s<strong>es</strong> benefícios serão concedidos apenas àquel<strong>es</strong> que tenham renda<br />
bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00”, d<strong>es</strong>tacando que a regra faz alusão à renda bruta do potencial beneficiário, que é<br />
o dependente, e não o segurado, nos termos do art. 18, II, da Lei n. 8.213/91.<br />
Regis<strong>tr</strong>e-se ainda que foi editado o Enunciado n. 23 da Turma Recursal/ES, que ditava que, até a norma infraconstitucional<br />
venha a regulamentar os benefícios de auxílio-reclusão e salário-família, previstos no art. 201, IV, da CR/88, o requisito<br />
econômico para a sua obtenção, previsto no art. 13 da EC n. 20/98, refere-se à renda bruta mensal dos beneficiários da<br />
pr<strong>es</strong>tação, ou seja, os dependent<strong>es</strong> do segurado. Mas <strong>es</strong>te foi cancelado na s<strong>es</strong>são do dia 22.10.2009.<br />
Todavia, conforme já exposto, a qu<strong>es</strong>tão da possibilidade de fruição do auxílio-reclusão somente aos dependent<strong>es</strong> de<br />
segurados de baixa renda foi considerada como matéria de repercussão geral pelo STF que, recentemente, pacificou o seu<br />
entendimento a r<strong>es</strong>peito, segundo consta do Informativo nº 540, no sentido de que “A renda a ser considerada para a<br />
conc<strong>es</strong>são do auxílio-reclusão de que <strong>tr</strong>ata o art. 201, IV, da CF, com a redação que lhe conferiu a EC 20/98, é a do<br />
segurado pr<strong>es</strong>o e não a de seus dependent<strong>es</strong>”.<br />
Na verdade, aduziu-se que o auxílio-reclusão surgiu a partir da EC 20/98 e que o requisito “baixa renda”, d<strong>es</strong>de a redação<br />
original do art. 201 da CR/88, ligava-se aos segurados e não aos dependent<strong>es</strong>. R<strong>es</strong>saltou-se, ademais, que, m<strong>es</strong>mo<br />
ul<strong>tr</strong>apassando o âmbito da interpretação literal d<strong>es</strong>sa norma para aden<strong>tr</strong>ar na seara da interpretação teleológica,<br />
constatar-se-ia que, se o constituinte derivado tiv<strong>es</strong>se pretendido <strong>es</strong>colher a renda dos dependent<strong>es</strong> do segurado como<br />
base de cálculo do benefício em qu<strong>es</strong>tão, não teria inserido, no texto, a expr<strong>es</strong>são “baixa renda” como adjetivo para<br />
qualificar os “segurados”, mas para caracterizar os dependent<strong>es</strong>.<br />
Vale lembrar que o entendimento da Corte Suprema em sede de julgamento de matéria de repercussão geral vincula os<br />
demais <strong>tr</strong>ibunais, não cabendo manutenção ou reforma do julgado para fazer prevalecer t<strong>es</strong>e oposta àquele entendimento.<br />
Assim, não faz jus a recorrida ao benefício de auxílio-reclusão, já que o último salário-de-con<strong>tr</strong>ibuição do segurado foi<br />
superior ao mínimo previsto na legislação vigente à época.<br />
Em face do exposto, merece ser acolhida a pretensão recursal, devendo ser reformada a sentença guerreada, para negar à<br />
autora o benefício de auxílio-reclusão, sendo que, diante da natureza alimentar do benefício concedido, mos<strong>tr</strong>a-se incabível<br />
a devolução de valor<strong>es</strong> eventualmente recebidos.<br />
Recurso conhecido e, no mérito, provido.<br />
Sem custas e honorários advocatícios, ante o deferimento da assistência judiciária gratuita e por força do art. 55 da Lei n.<br />
9.099/95.<br />
ACÓRDÃO<br />
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, em que são part<strong>es</strong> as acima indicadas, decide a Turma Recursal do Juizado<br />
Especial <strong>Federal</strong> da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER O RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO, na forma<br />
do voto constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do pr<strong>es</strong>ente julgado.<br />
Fernando C<strong>es</strong>ar Baptista de Mattos<br />
Juiz <strong>Federal</strong> Relator<br />
86 - 2008.50.50.002663-0/01 INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Marcos Figueredo<br />
Marçal.) x MARLI MATEUS MAXIMIANO (ADVOGADO: LUIZA HELENA GOMES LORETO.).<br />
Proc<strong>es</strong>so nº 2008.50.50.002663-0/01