boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
(atualmente, a recorrente tem 92 anos).<br />
Em audiência, o juiz inspecionou a recorrente e constatou que, pelos g<strong>es</strong>tos e linguajar, aparentava ter sempre vivido na<br />
roça.<br />
Ex<strong>tr</strong>ato da base de danos interna do INSS indica que a recorrente é beneficiária de uma pensão por morte com renda<br />
mensal equivalente ao salário mínimo. O instituidor da pensão foi classificado como ferroviário. Exclusivamente com base<br />
n<strong>es</strong>se dado, a sentença pr<strong>es</strong>umiu que o sustento da recorrente provinha do <strong>tr</strong>abalho urbano do marido e,<br />
subsequentemente, da pensão por morte decorrente d<strong>es</strong>sa atividade urbana. Implicitamente, considerou d<strong>es</strong>caracterizado o<br />
regime de economia familiar, embora reconhecendo o efetivo exercício de atividade rural pela recorrente.<br />
Não há nenhum documento comprovando que o marido da recorrente era ferroviário. O ex<strong>tr</strong>ato juntado aos autos foi<br />
ex<strong>tr</strong>aído da base de dados interna do INSS, que é unilateralmente con<strong>tr</strong>olada pela autarquia, sendo passível de erros. Por<br />
isso, <strong>es</strong>sa informação, isoladamente considerada, não serve como fonte de prova absoluta, por falta de garantia de<br />
veracidade. Trata-se, no máximo, de indício. Diante da contundente negativa da recorrente e do depoimento das<br />
t<strong>es</strong>temunhas, cabia ao INSS produzir prova documental de que o marido da recorrente era ferroviário. Não obstante, o INSS<br />
não se d<strong>es</strong>incumbiu do ônus de exibir o proc<strong>es</strong>so adminis<strong>tr</strong>ativo de conc<strong>es</strong>são da pensão.<br />
As duas t<strong>es</strong>temunhas declararam que o marido da recorrente sempre <strong>tr</strong>abalhou na roça. A certidão de casamento, referente<br />
à cerimônia ocorrida em 1940, qualificou o marido da recorrente como lavrador (fl. 21). A m<strong>es</strong>ma informação consta de<br />
certidão de óbito de um filho, lavrada em 1973 (fl. 83), qua<strong>tr</strong>o anos ant<strong>es</strong> do falecimento do marido da recorrente. Em<br />
convergência com tais evidências de que o marido era lavrador, concorre ainda o fato de que a renda mensal da pensão por<br />
morte limita-se a um salário mínimo, sendo inverossímil que benefício deixado por <strong>tr</strong>abalhador ferroviário atingisse valor tão<br />
baixo.<br />
A <strong>es</strong>critura pública de compra de imóvel rural qualificou a recorrente, em 1977, como prof<strong>es</strong>sora (fl. 92). A recorrente e uma<br />
t<strong>es</strong>temunha negaram que ela já tenha <strong>tr</strong>abalhado como prof<strong>es</strong>sora. A ou<strong>tr</strong>a t<strong>es</strong>temunha declarou que a recorrente sempre<br />
<strong>tr</strong>abalhou na roça e que nunca ouvir falar de que ela já tiv<strong>es</strong>se <strong>tr</strong>abalhado como prof<strong>es</strong>sora. Não existe prova de que a<br />
recorrente tenha <strong>tr</strong>abalhado como prof<strong>es</strong>sora. Há apenas indício de que ela <strong>es</strong>tava exercendo <strong>es</strong>sa profissão em 1977. O<br />
indício não foi confirmado por ou<strong>tr</strong>os elementos de prova. O depoimento das t<strong>es</strong>temunhas repeliu a suspeita de que a<br />
recorrente tenha <strong>tr</strong>abalhado como prof<strong>es</strong>sora. Ainda que a recorrente fosse prof<strong>es</strong>sora em 1977, <strong>tr</strong>ata-se de fato irrelevante,<br />
porque importa apenas a manutenção da qualidade de segurado <strong>es</strong>pecial no período imediatamente anterior ao<br />
requerimento adminis<strong>tr</strong>ativo.<br />
O <strong>tr</strong>abalhador rural tem direito à aposentadoria por idade m<strong>es</strong>mo sem recolher con<strong>tr</strong>ibuiçõ<strong>es</strong>, d<strong>es</strong>de que comprove o<br />
exercício de atividade rural, ainda que d<strong>es</strong>contínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em<br />
número de m<strong>es</strong><strong>es</strong> idênticos à carência do referido benefício (art. 143 da Lei nº 8.213/91). A recorrente requereu a<br />
aposentadoria em 17/12/1997, quando faltavam poucos m<strong>es</strong><strong>es</strong> para completar oitenta anos de idade. A prova t<strong>es</strong>temunhal<br />
confirmou que a recorrente ainda <strong>tr</strong>abalhava na roça n<strong>es</strong>sa época. E tendo <strong>tr</strong>abalhado na roça durante toda a vida,<br />
completou tempo de serviço superior à carência da aposentadoria.<br />
Recurso provido para reformar a sentença, condenando o INSS a conceder aposentadoria por idade NB 108.783.301-6 com<br />
efeitos financeiros re<strong>tr</strong>oativos à data de en<strong>tr</strong>ada do requerimento adminis<strong>tr</strong>ativo, r<strong>es</strong>peitada a pr<strong>es</strong>crição qüinqüenal e o<br />
limite de 60 salários mínimos para pr<strong>es</strong>taçõ<strong>es</strong> vencidas até ajuizamento da ação. Aplicam-se, até 30/06/2009, correção<br />
monetária e juros de mora à taxa de 1% ao mês a partir da citação. A partir de 30/06/2009, para efeito de correção<br />
monetária e de juros de mora, aplicam-se os índic<strong>es</strong> oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de<br />
poupança (art. 5º da Lei nº 11.960/2009).<br />
Só há condenação em custas e honorários advocatícios quando o vencido é o recorrente (art. 55, caput, segunda parte, da<br />
Lei nº 9.099/95). D<strong>es</strong>cartada a condenação do recorrido sucumbente a pagar as verbas de sucumbência.<br />
A C Ó R D Ã O<br />
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, decide a Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária<br />
do Espírito Santo dar provimento ao recurso.<br />
ROGERIO MOREIRA ALVES<br />
Juiz <strong>Federal</strong> da Turma Recursal<br />
Relator<br />
5 - 2006.50.51.000175-9/01 INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: José Arteiro Vieira de<br />
Mello.) x TEREZA STOPA TREVENZOLI (ADVOGADO: ANDRE MIRANDA VICOSA.).<br />
E M E N T A<br />
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. SEGURADO ESPECIAL. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR.<br />
MEEIROS. DIARISTAS. RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES PELO MARIDO. FATOS SUPERVENIENTES À IDADE<br />
MÍNIMA PARA APOSENTADORIA. JUROS DE MORA. NORMA ESPECIAL.<br />
O início de prova material não passa de prova indiciária. Não precisa provar diretamente o efetivo exercício da atividade<br />
rural, mas apenas fatos secundários dos quais se possa inferi-la. Por isso, a prova documental frágil é suficiente para<br />
formar início de prova material. os documentos comprovam que o marido da recorrida era proprietário rural durante o<br />
período de carência. A condição de proprietário rural (fato secundário) serve de indício de que, como acontece na maioria<br />
das vez<strong>es</strong>, o imóvel tenha sido p<strong>es</strong>soalmente explorado pelo dono, caracterizando o exercício da atividade rural pela<br />
<strong>es</strong>posa (fato principal).