17.04.2013 Views

boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal

boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal

boletim tr/es 2010.314 - Justiça Federal

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Já a aposentadoria por invalidez, por força no disposto no art. 42 do<br />

m<strong>es</strong>mo diploma legal, a seu turno, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que,<br />

<strong>es</strong>tando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de<br />

atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer n<strong>es</strong>ta condição. Ambos os benefícios<br />

exigem para a sua conc<strong>es</strong>são a qualidade de segurado e o cumprimento do período de carência exigido em lei,<br />

diferenciando-se en<strong>tr</strong>e si pela temporariedade ou permanência da incapacidade, quando se dará ensejo àquele ou a <strong>es</strong>te<br />

benefício, r<strong>es</strong>pectivamente.<br />

A priori, cabe r<strong>es</strong>saltar que inexiste discussão nos autos em relação ao fato de a parte autora ostentar a qualidade de<br />

segurado da Previdência Social, bem como preencher a carência mínima exigida em lei para os benefícios guerreados.<br />

O princípio do livre convencimento impera no nosso ordenamento jurídico, como se pode constatar pela leitura do art. 436,<br />

do CPC, in verbis: “O juiz não <strong>es</strong>tá ads<strong>tr</strong>ito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com ou<strong>tr</strong>os elementos ou<br />

fatos provados nos autos.”; e 131, do m<strong>es</strong>mo Diploma Legal: “O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e<br />

circunstâncias constant<strong>es</strong> dos autos, ainda que não alegados pelas part<strong>es</strong>; mas deverá indicar, na sentença, os motivos<br />

que lhe formaram o convencimento”.<br />

A perícia médica judicial acostada às fls. 103/104 constatou que a autora sofre de <strong>tr</strong>anstorno misto ansioso depr<strong>es</strong>sivo.<br />

Todavia, d<strong>es</strong>tacou o expert que tal quadro clínico não induz em incapacidade para o <strong>tr</strong>abalho. Afirma que a pericianda<br />

apr<strong>es</strong>enta histórico de <strong>tr</strong>anstorno psiquiá<strong>tr</strong>ico compatível com <strong>tr</strong>anstorno misto de ansiedade e depr<strong>es</strong>sivo, <strong>es</strong>tando com<br />

quadro <strong>es</strong>tável no momento, visto que não tem frequentado o CAPS regularmente. Há que se atentar para o fato de que tal<br />

perícia foi totalmente divergente dos demais laudos médicos juntados aos autos, confeccionados por <strong>es</strong>pecialistas distintos<br />

e devidamente regis<strong>tr</strong>ados no Conselho Regional de Medicina, os quais informaram, de forma cristalina, que a autora é<br />

acometida da doença supracitada e que tal gera uma instabilidade psíquica que reflete numa patente dificuldade de<br />

permanência em atividad<strong>es</strong> de <strong>tr</strong>abalho (fls. 22/37 e 122), sem sequer haver uma determinação do tempo nec<strong>es</strong>sário para o<br />

<strong>tr</strong>atamento da enfermidade. Consta, ainda, que a recorrente apr<strong>es</strong>enta mencionada doença há mais de 10 anos, evoluindo<br />

com cris<strong>es</strong> depr<strong>es</strong>sivas e alteração de comportamento, já tendo sido internada diversas vez<strong>es</strong>.<br />

Menciona-se o laudo médico pericial de fl. 89, data do exame em 05/06/2008, no qual constam consideraçõ<strong>es</strong> feitas pelo<br />

próprio médico perito do INSS que “A avaliação física é concordante com os laudos apr<strong>es</strong>entados, sugerindo incapacidade<br />

total para o <strong>tr</strong>abalho...”, donde se pode notar que a própria autarquia já concedera o benefício em pedido adminis<strong>tr</strong>ativo<br />

pretérito. Não faz sentido, portanto, a não-conc<strong>es</strong>são do benefício frente a uma doença que notoriamente apr<strong>es</strong>entou uma<br />

piora em seu quadro clínico.<br />

Dada a robustez do corpo probatório acostado aos autos (fls. 22/44, 122), materializado em laudos médico-periciais<br />

particular<strong>es</strong>, considero que <strong>es</strong>te seja mais apto a constatar a atual situação fática de incapacidade laboral da parte autora<br />

do que a perícia realizada pelo perito do Juízo, isso pelo fato de que aquele possui uma maior quantidade de informaçõ<strong>es</strong><br />

técnicas e ter sido feito de forma mais profunda, contemporânea e minuciosa.<br />

Não obstante, há que se atentar para o fato de que a perícia judicial foi o único argumento invocado pelo juiz de origem para<br />

determinar o indeferimento do pedido, sendo <strong>es</strong>te frágil, por não ter sido concatenado com os demais laudos suplementar<strong>es</strong><br />

nem com as características p<strong>es</strong>soais da parte autora, visto que, d<strong>es</strong>tarte, se distanciou da realidade e do contexto fático<br />

vivido por <strong>es</strong>ta. O que o perito afirmou foi que a recorrente, no momento daquele exame pericial, se encon<strong>tr</strong>ava com o<br />

quadro clínico aparentemente <strong>es</strong>tável, contudo, d<strong>es</strong>prezando os diversos laudos particular<strong>es</strong> acostados aos autos que<br />

afirmam e comprovam que a recorrente é portadora de doença mental grave, apr<strong>es</strong>entando <strong>tr</strong>anstorno depr<strong>es</strong>sivo e de<br />

personalidade, com ocorrências de episódios agudos e de grande instabilidade emocional, podendo nec<strong>es</strong>sitar de<br />

internaçõ<strong>es</strong> emergenciais. E, ainda, que a m<strong>es</strong>ma faz uso de fort<strong>es</strong> medicamentos para con<strong>tr</strong>ole das enfermidad<strong>es</strong>,<br />

causando efeitos colaterais. Tais circunstâncias não foram avaliadas devidamente pelo expert nomeado nos autos.<br />

Ilus<strong>tr</strong>a-se o caso em lume com a seguinte jurisprudência: “Previdenciário. Aposentadoria por Invalidez. O julgador não<br />

decide exclusivamente com base nos laudos técnicos apr<strong>es</strong>entados, mas, sim, com suporte no conjunto probatório que é<br />

submetido à sua apreciação” (TRF, 3ª Região, 2ª Turma, AC 89.03.025506-2, Rel. Juiz Aricê Amaral)”.<br />

É mister considerar, portanto, que o juiz não <strong>es</strong>tá ads<strong>tr</strong>ito ao laudo pericial. Ao con<strong>tr</strong>ário, pode, segundo sua livre convicção,<br />

decidir de forma diversa, atentando-se para todos os elementos de prova pr<strong>es</strong>ent<strong>es</strong> nos autos, inclusive, sobre os aspectos<br />

sociais e subjetivos da parte.<br />

D<strong>es</strong>sa forma, embora a perícia judicial tenha d<strong>es</strong>tacado que não há incapacidade laboral no caso, a análise do caso<br />

concreto indica que a recorrente não <strong>es</strong>tá apta para exercer atividad<strong>es</strong> laborais. Anota-se o fato de a autora ser p<strong>es</strong>soa<br />

portadora de doença mental grave, sendo acometida com frequent<strong>es</strong> episódios de <strong>tr</strong>anstorno depr<strong>es</strong>sivo, de personalidade,<br />

d<strong>es</strong>con<strong>tr</strong>ole, cris<strong>es</strong> convulsivas, excitação psicomotora, confusão mental, <strong>tr</strong>anstorno psicótico e fazendo uso de<br />

medicamentos con<strong>tr</strong>olados. N<strong>es</strong>se quadro, impõe-se a conc<strong>es</strong>são do auxílio-doença.<br />

D<strong>es</strong>taca-se que, no caso, não vislumbro o caráter permanente e imutável da incapacidade. A autora possui idade não muito<br />

avançada (40 anos) e, sendo sua doença de cunho mental, possui certa aptidão física para d<strong>es</strong>empenhar suas atividad<strong>es</strong><br />

habituais de doméstica, quando encon<strong>tr</strong>ar <strong>es</strong>tabilidade psíquica suficiente para tal. Portanto, por ora, vê-se no<br />

r<strong>es</strong>tabelecimento do auxílio-doença o benefício adequado para suprir suas nec<strong>es</strong>sidad<strong>es</strong>.<br />

No mais, havendo existência de prova inequívoca, convincente da verossimilhança da alegação, além da pr<strong>es</strong>ença do<br />

fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, tem-se por satisfeitos os pr<strong>es</strong>supostos legais insertos no art.<br />

273, I e II, do CPC, para o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela. O conjunto probatório que proporcionou a<br />

reforma da sentença de piso foi idôneo a suscitar a plausibilidade do pedido liminar, vez que se constitui em prova<br />

inequívoca da verossimilhança da alegação. Quanto ao ou<strong>tr</strong>o requisito (dano irreparável ou de difícil reparação), há inegável<br />

caráter alimentar do benefício pleiteado, sendo certo de que a recorrente depende dele para prover seu sustento em<br />

condiçõ<strong>es</strong> dignas de sobrevivência, o que autoriza a conc<strong>es</strong>são da medida em sede liminar. Também não há que se falar<br />

em perigo de irreversibilidade do provimento da tutela de urgência, que cede <strong>es</strong>paço ante direitos fundamentais como a<br />

dignidade da p<strong>es</strong>soa humana e a temp<strong>es</strong>tiva e eficaz pr<strong>es</strong>tação jurisdicional. Trata-se de verba alimentar e de situação que,<br />

em t<strong>es</strong>e, há perigo de irreversibilidade para ambas as part<strong>es</strong>, sendo que a posição do juiz deve ser a de pr<strong>es</strong>tigiar a<br />

nec<strong>es</strong>sidade de manutenção de um indivíduo em de<strong>tr</strong>imento de eventual dano que possa ser causado ao recorrente. Por

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!