Direito da Propriedade - Fundação Getulio Vargas
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negócio, especialmente durante o longo prazo do fi nanciamento e num país<br />
em que a política econômica é instável e sujeita a planos e pacotes mirabolantes.<br />
A maioria não busca assessoria para entender os refl exos jurídicos <strong>da</strong>s<br />
cláusulas do contrato, consistindo ingenui<strong>da</strong>de e amadorismo a idéia de que<br />
a compra de um imóvel é simples.<br />
Para aqueles que têm a ilusão de que os agentes fi nanceiros vendem casa<br />
própria, é bom saberem que a coisa não é bem assim... Ocorre que o dinheiro<br />
no Brasil é uma mercadoria cara, que o custo fi nanceiro (TR mais juros de<br />
12% a 16%) faz a dívi<strong>da</strong> do fi nanciamento subir em torno de 18% ao ano,<br />
sem contar o custo mensal do seguro de vi<strong>da</strong> e os <strong>da</strong>nos físicos do imóvel.<br />
Portanto, o banco não vende imóvel e, sim, empresta dinheiro, sendo o imóvel<br />
mera garantia hipotecária ou fi duciária. Por isso os agentes fi nanceiros,<br />
dentre eles a Caixa Econômica Federal, não aceitam o imóvel como pagamento<br />
<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> quando o mutuário não consegue quitar pontualmente as<br />
prestações. O comprador acaba sofrendo uma ação de execução, fi cando com<br />
o nome ‘sujo’ e perdendo crédito na praça e, fi nalmente, perde também o<br />
imóvel através do leilão decorrente <strong>da</strong> hipoteca.<br />
O pior é que o comprador geralmente se vê forçado a sair do imóvel, sem<br />
na<strong>da</strong> receber, perdendo ain<strong>da</strong> as benfeitorias (reformas, armários,etc.) instala<strong>da</strong>s,<br />
o sinal e tudo que pagou durante anos. Portanto, cabe à pessoa que<br />
deseja comprar um imóvel fi nanciado atentar para os riscos e compreender<br />
porque tantos mutuários reclamam e se surpreendem ao constatarem que<br />
continuam a dever R$ 100 mil, ou seja, quase o dobro do que vale o imóvel<br />
avaliado em R$ 50 mil, após ter pago a entra<strong>da</strong> e durante anos, as prestações.<br />
O fato é que o governo induziu milhares de mutuários a fi nanciarem imóveis<br />
sob a propagan<strong>da</strong> enganosa do PES (Plano de Equivalência Salarial) ou<br />
do PCR (Plano de Comprometimento de Ren<strong>da</strong>), que prometiam que os<br />
valores <strong>da</strong>s prestações acompanhariam a evolução salarial ou que a mesma<br />
não ultrapassaria o percentual de 25% ou 30% do rendimento do mutuário,<br />
levando-o a acreditar que quitaria to<strong>da</strong> a dívi<strong>da</strong> ao fi nal do prazo. Ocorre<br />
que, ninguém explicou para o mutuário que quanto menor a sua prestação,<br />
que fi cava sem aumentar, maior se tornava a sua dívi<strong>da</strong>, ou seja, o seu saldo<br />
devedor disparava em função do mesmo subir de forma capitaliza<strong>da</strong>, em torno<br />
de 18% ao ano, sem qualquer ligação com a evolução do seu salário ou<br />
com a variação do valor do imóvel.<br />
Portanto, para muitos seria melhor terem continuado a pagar aluguel, sem<br />
correr o risco do prejuízo <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> e dezenas de prestações de um fi nanciamento<br />
impagável, e ain<strong>da</strong> perder o crédito na praça e os valores investidos no<br />
imóvel com benfeitorias.<br />
Obtendo recursos para <strong>da</strong>r entra<strong>da</strong> num imóvel, caso opte pela compra<br />
diretamente com a construtora, o risco será menor, pois o Código de Defesa<br />
do Consumidor proíbe que o comprador perca to<strong>da</strong>s as parcelas que tiver<br />
DIREITO DE PROPRIEDADE<br />
FGV DIREITO RIO 8