Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
DROGA DA VIOLÊNCIA FORMIDÁVEL – Capítulo 3<br />
3 DROGA DA VIOLÊNCIA FORMIDÁVEL<br />
Destaca-se, pois, na análise <strong>de</strong> Giovanelli e Souza (2004), a constatação<br />
evi<strong>de</strong>nte, nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s do País, <strong>de</strong> forte associação entre concentração <strong>de</strong><br />
ilícitos e áreas <strong>de</strong> superposição <strong>de</strong> carências, o que conflui para esta insigne e<br />
recorrente lógica do inquilinato entre distribuição espacial da violência e distribuição<br />
espacial das classes menos favorecidas. <strong>Da</strong>í <strong>de</strong>corre a perversa analogia <strong>de</strong> que a<br />
violência e insegurança caminham pari passu com a carência. Carência essa, diga-<br />
se, fruto da ausência <strong>de</strong> políticas sociais, e da implementação <strong>de</strong>ficitária <strong>de</strong> serviços<br />
locais. E, nessa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> associações, não escapa à regra uma subseqüente<br />
colagem estigmatizada dos conglomerados carentes com altas taxas <strong>de</strong> ilícitos<br />
sempre associados a comunida<strong>de</strong>s pobres, bairros e favelas em que parece<br />
prevalecer o tráfico <strong>de</strong> drogas.<br />
Não menos associados, vicejam flagrantes preconceitos <strong>de</strong> que essas<br />
pessoas, justo as principais vítimas da violência, habitantes <strong>de</strong>ssas áreas, são<br />
aquelas pessoas consi<strong>de</strong>radas in<strong>de</strong>sejáveis, cujo perfil coinci<strong>de</strong> com o das<br />
pertencentes às classes populares, como aponta Minajo e Souza (1999).<br />
Na ótica <strong>de</strong>ssas autoras, em uma exponencial ca<strong>de</strong>ia associativa <strong>de</strong><br />
preconceitos, a violência acaba servindo como um po<strong>de</strong>roso mecanismo <strong>de</strong> controle<br />
da organização civil <strong>de</strong>ssa parcela <strong>de</strong>sfavorecida, que se vê submetida ao po<strong>de</strong>r<br />
ditatorial <strong>de</strong> grupos narcotraficantes que impõem seu po<strong>de</strong>r pelo terror. Eis por que,<br />
nesse último caso, favelas cariocas representam bons exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarticulação<br />
da socieda<strong>de</strong> civil, originadas pela atuação repressiva do Estado, por vezes, apoiado<br />
em má formação <strong>de</strong> seus níveis capilares <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (dirigentes e chefes <strong>de</strong><br />
instituições ligadas à polícia técnica) e re<strong>de</strong> preconceituosa e autoritária <strong>de</strong><br />
informações.<br />
Dessa série <strong>de</strong> associações preconceituosas resulta intacto o foco da<br />
exclusão. Com ele, caminha postergado o cerne das ações <strong>de</strong>flagatórias das<br />
políticas sociais. De um lado, permanece multivitimada a população carente, no fim<br />
90