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Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ

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DROGA DE DISCURSEIRA POLÍTICO-EDUCACIONAL – Capítulo 4 124<br />

4 DROGA DE DISCURSEIRA POLÍTICO-EDUCACIONAL<br />

Na tentativa <strong>de</strong> problematizar questões <strong>de</strong>senvolvidas na obra <strong>de</strong> Arendt –<br />

leis como necessida<strong>de</strong>, violência e liberda<strong>de</strong> - e recolocá-las no contexto histórico<br />

da contemporaneida<strong>de</strong>, Côrtez (2003), discute a superação da necessida<strong>de</strong> trazida<br />

pela miséria, carência e pobreza.<br />

Uma rápida retrospectiva na constituição histórica da socieda<strong>de</strong> brasileira,<br />

excetuados alguns fatos tópicos e episódicos, leva a constatar que não se <strong>de</strong>ram por<br />

projetos revolucionários planejados para mudar o rumo da história, as tentativas <strong>de</strong><br />

superação violenta da necessida<strong>de</strong>. Ao contrário, elas se caracterizam sempre como<br />

intervenções pontuais e localizadas, mais marcadas por uma prática da violência<br />

rotinizadas, mais restrita ao cotidiano da carência, bem diferente da violência<br />

espetacular e épica própria dos resgates revolucionários.<br />

O império da necessida<strong>de</strong>, lembra a autora, fortemente se fixou na socieda<strong>de</strong><br />

brasileira, mas, ao contrário do que aconteceu na Revolução Francesa e muito<br />

diferente do que ocorreu na norte-americana, o recurso à violência aqui parece<br />

representar muito mais uma acomodação tensa e permanente dos conflitos do que<br />

uma tentativa explícita e <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> superação das necessida<strong>de</strong>s.<br />

Parece ter sido <strong>de</strong>ixado pelo Brasil da Socieda<strong>de</strong> agrária, que instituiu o<br />

escravismo como violência pura, o seu então imperante legado, o código do sertão,<br />

que geriu as relações dos homens livres e pobres em seus ajustamentos com o meio<br />

hostil em que viviam. Vivendo sob o regime <strong>de</strong> contra - prestação <strong>de</strong> favores e<br />

serviços, mas sob o jugo da dominação pessoal dos seus senhores, os homens<br />

livres da época, nem senhores, nem escravos, dispersos pelo sertão, migrando<br />

sistematicamente em busca <strong>de</strong> melhores terras, ora se ocupavam <strong>de</strong> pequenos<br />

roçados, ora se empregavam em grupos e bandos <strong>de</strong> jagunços.<br />

Entre os homens livres <strong>de</strong> outrora e os livres <strong>de</strong> hoje, passados séculos, não<br />

há muito que diferi-los em sua sorte, em relação às condições <strong>de</strong> trabalho. Os <strong>de</strong><br />

ontem, em gran<strong>de</strong> medida às margens das relações dominantes, nada possuíam,

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