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Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ

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DROGA DE CENÁRIO SOCIAL E DA PROPAGANDA POLÍTICA OFICIAL – Capítulo 2<br />

na construção do imaginário associativo para a sua formação, hoje estão cada vez<br />

mais contaminadas e voltadas para simulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s relacionadas à estrutura<br />

criminosa do tráfico <strong>de</strong> drogas. O personagem infantil não tem mais os referenciais<br />

da sabedoria ancestral, ou dos exemplos do professor, do médico, do advogado e<br />

<strong>de</strong> outras profissões mais que freqüentam o cotidiano <strong>de</strong>ssas crianças. Amiú<strong>de</strong> as<br />

brinca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong>senhos são representações <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> personagens e histórias<br />

do tráfico <strong>de</strong> drogas. Figuram neste cenário associativo as brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> X-9 22 , do<br />

dono da boca <strong>de</strong> fumo, e dos aviãozinhos 23 ·, do alemão 24 , <strong>de</strong>ntre outros<br />

personagens. Tais brinca<strong>de</strong>iras são inoculadas a proporcionar o viés associativo ou<br />

grupal para incentivar jovens a compor o efetivo da criminalida<strong>de</strong> local. As crianças<br />

ociosas em circulação freqüente nas ruas, expostas a abordagens vêem-se<br />

fatalmente vulneráveis à influência dos traficantes. Não se po<strong>de</strong> ignorar uma<br />

realida<strong>de</strong> em que quase sete milhões <strong>de</strong> brasileiros <strong>de</strong> 15 a 24 anos, o equivalente a<br />

19,9% da população nessa faixa etária, não estudam nem trabalham 25 . O<br />

aliciamento sem fronteiras assemelha-se à fase do processo <strong>de</strong> “andar” com<br />

traficantes antes <strong>de</strong> ser autorizado o seu ingresso no tráfico, como uma espécie <strong>de</strong><br />

licenciamento na escala obrigatória do crime.<br />

É alvo certo do comando da droga, a vulnerabilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sestruturação ou<br />

inexistência do liame familiar, crescente aos olhos vistos no mundo atual, sobretudo<br />

nas favelas on<strong>de</strong> parece encontrar seu solo mais fértil justamente nas adversida<strong>de</strong>s<br />

das camadas menos favorecidas e mais contingenciadas à <strong>de</strong>sagregação do clã, por<br />

ver faltar o pai, sair a mãe para prover a casa, e ficam os filhos sem olhar<br />

sistemático e atento dos seus progenitores, que, em muitos casos, ainda <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

do braço filial precoce para compor a renda familiar.<br />

As transformações na estrutura do comércio ilegal <strong>de</strong> drogas a varejo no Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro ocorridas, a partir do início da década <strong>de</strong> 1980, foram significantes no<br />

sentido <strong>de</strong> proporcionar o subseqüente aumento da participação <strong>de</strong> crianças e<br />

adolescentes nas propostas <strong>de</strong> trabalho disponibilizadas pelo tráfico <strong>de</strong> drogas.<br />

22<br />

Aquele que <strong>de</strong>lata as ativida<strong>de</strong>s criminosas e pessoas comprometidas com o tráfico à polícia.<br />

23<br />

Crianças que tinham a atribuição <strong>de</strong> levar mensagens ou drogas a outros traficantes ou a<br />

consumidores.<br />

24<br />

Inimigo, integrante <strong>de</strong> facção rival.<br />

25<br />

<strong>Da</strong>do disponibilizado pelo relatório da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Informação Tecnológico Latino-Americana (Ritla) na<br />

<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

72

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