Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
DROGA DE DISCURSEIRA POLÍTICO-EDUCACIONAL – Capítulo 4<br />
também como doença, haja vista a importância da escuta psicanalítica para cuidar<br />
do valor patológico da utilização compulsiva <strong>de</strong> drogas, ao que se sabe não<br />
redutível aos efeitos químicos sobre o organismo. Discute-se hoje o aparecimento<br />
<strong>de</strong> dados clínicos meio soltos, como que pairando acima da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
or<strong>de</strong>nação teórica, como que <strong>de</strong>safiando a ciência. Para a autora, os fenômenos<br />
<strong>de</strong>correntes do uso intensivo <strong>de</strong> drogas praticamente velam os quadros clínicos<br />
clássicos referidos à neurose, psicose e perversão (Ib<strong>de</strong>m, p. 29), levando<br />
estudiosos a novas buscas científicas. Ora se constata, por exemplo, que o gozo<br />
excessivo insistente, artificialmente produzido pela droga <strong>de</strong>monstra, <strong>de</strong> forma quase<br />
ostensiva, o caráter autístico daquilo que a psicanálise contemporânea confere<br />
como novas formas do sintoma.(ib<strong>de</strong>m)<br />
Isso significa esperar <strong>de</strong> uma proposta minimamente afiançável um preliminar<br />
e inevitável mergulho epistemológico do <strong>de</strong>sconhecido.<br />
Essa breve anunciação das tantas políticas intersetorizadas que se esperam<br />
em jogo numa proposta avistada como não apenas falaciosa, mas <strong>de</strong> fato educativa<br />
para a droga, é bem ilustrativa <strong>de</strong> quão <strong>de</strong>magógicas são as políticas<br />
compartimentadas, unicamente dirigidas a projetos educativos episódicos, isolados,<br />
como se fosse possível obter milagres <strong>de</strong> ações educativas <strong>de</strong> varejo, à custa <strong>de</strong><br />
prosélitos heroísmos dos professores executores <strong>de</strong> ponta, a rigor expropriados <strong>de</strong><br />
meios, sitiados <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s, impotentes <strong>de</strong> causas e imputados solitários <strong>de</strong><br />
débitos sociais sabidamente plurais e infinitamente mais complexos.<br />
É como ven<strong>de</strong>r caricatura utópica e infantilizada <strong>de</strong> herói sem armas que se<br />
sabe <strong>de</strong> antemão re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong> ninguém, salvador <strong>de</strong> coisa alguma, condutor <strong>de</strong> lugar<br />
nenhum e guião <strong>de</strong> nada. Via <strong>de</strong> regra, o que se vê é o uso eleitoreiro do professor,<br />
com sua imagem ridicularizada perante os cidadãos incautos, ao ver frustradas suas<br />
esperanças nos poucos agentes públicos mais próximos, em quem ainda confia e<br />
acredita. Esse uso da imagem palatável, pelas autorida<strong>de</strong>s públicas, mais que<br />
<strong>de</strong>magógico é infantilizador. Mais que infantilizador é perverso, por ser mais<br />
<strong>de</strong>stinado a afiançar pseudo-políticas e legitimar falsas imagens políticas <strong>de</strong><br />
realização pessoal do homem que faz, e por trazer, <strong>de</strong> fato, menos divi<strong>de</strong>ndos ao<br />
atendimento da necessida<strong>de</strong> popular. Em nada difere do vil coronelismo, enxada e<br />
voto, tão familiar ao código do sertão, a bem conhecida maquiagem do<br />
135